política

O homem que vai lidar com bilhões no governo Zaffa; Não é de paraquedas

Davi Severgnini, em live com o prefeito Marco Alba

Printe & Arquive na Nuvem.

O ‘homem do cofre’ de Marco Alba seguirá o mesmo no governo Luiz Zaffalon, em Gravataí. Pelo que apurei, além da Secretaria da Fazenda, Davi Severgnini vai acumular o Planejamento e Orçamento. Já era de fato e agora será de direito um ‘supersecretário’, que terá pela frente quase 4 bilhões para administrar.

O advogado e pós-graduado em Economia pela PUC gaúcha e Administração pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, que nas reuniões a portas fechadas invariavelmente senta na primeira cadeira ao lado do atual prefeito – e um “chama o Davi!” já presenciei mais de uma vez Marco Alba proferir em reuniões abertas –, além do respeito técnico, tem trânsito com políticos da base do governo e da oposição.

Bonito que isso acontece por uma fórmula às avessas. É por falar a verdade. Diferente de alguns ‘amigos do rei’, que reputo ‘mais realistas que o rei’, nunca se negou a prestar esclarecimentos e ir até a Câmara conversar com os vereadores.

Nunca testemunhei uma fake news de Davi, dizendo, por exemplo, que vivíamos em Gravataí o ‘Fantástico Mundo de Marco’, como já debochou o vereador Paulo Silveira (PSB), que hoje na base do governo é prova viva de que fim do mundo não era e, principalmente, contas equilibradas e R$ 100 milhões em investimentos em infraestrutura depois, os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, teimam em comprovar que não é.

Davi, talvez por essa franqueza e dureza ideológica exacerbada, e não só por seguir morando na zona sul de Porto Alegre, quando seu nome era, ou é lembrado para alguma aventura política, logo resta cancelado pelo perfil pouco afeito às malemolências da política, e não a competência.

Diz muito artigo que fiz sobre ele no início de 2017, Como Gravataí limpou o nome e entrou no radar de investidores estrangeiros, quando o Seguinte: estava começando. Recomendo a leitura, reproduzo a abertura e, abaixo, sigo a análise.

 

“(…)

Quando recebeu o convite de Marco Alba para ‘dar uma mão’ no governo que começaria em 2013, Davi Severgnini tinha a mesma visão de muitos sobre Gravataí: a aldeia era uma Califórnia de prosperidade em meio ao pampa pobre.

– Como a maioria dos gaúchos e brasileiros, achava que a ‘Terra da GM’ era um Vale do Silício – exagera o dono da chave do cofre da Prefeitura, comparando a aldeia dos anjos com a riquíssima região norte-americana que reúne empresa de tecnologia de ponta no mundo.

Orientado pelo prefeito, aqueles que ao lado do secretário de Governo Luiz Zaffalon e o procurador-geral Jean Torman hoje integra o ‘núcleo duro do governo’, logo identificou um cenário bem diferente:

– O inconsciente coletivo imagina Gravataí como um município cheio de riquezas e que não devolve serviços adequadamente, quando na verdade uma cidade rica é aquela que tem poupança. Aqui se arrecadava muito, mas se gastava ainda mais – sintetiza o secretário da Fazenda, que lembra os fantasmas do crescimento negativo de 6% em 2013 (parte pela perda de repasses que chegou a R$ 300 milhões com a crise que atropelou a GM, responsável por 50% do PIB) e a dívida de R$ 227 milhões, correspondente a mais da metade da receita.

– Se o prefeito pensasse no curto prazo, como fazem muitos políticos, poderia ter jogado as dívidas para cima. Mas preferiu arriscar a pele eleitoralmente, pensar no futuro da cidade e pagar a conta. Como comprova a captação do financiamento de R$ 100 milhões com a CAF e a habilitação para outro com o banco do Brics, recuperar o status de ‘ficha limpa’ era a única saída para Gravataí buscar recursos externos e fazer investimentos – adverte, apontando para uma média de investimentos da Prefeitura nunca superior aos 3% em todos os governos até hoje.

– Uma boa resposta seriam 10% da receita em investimentos próprios, R$ 60 milhões em dinheiro de hoje. Nunca se chegou a isso na história do município – aponta o ex-coordenador da bancada do PSDB na Assembleia Legislativa, natural de Três Passos e que se diz “um técnico e ex-político que deixou no passado a vontade de concorrer a qualquer coisa”.

O também ex-integrante do governo Yeda Crusius, onde conheceu Marco quando o gravataiense era secretário de Desenvolvimento Urbano e Saneamento, observa que essa relação entre dívida e investimento é bem próxima ao que o prefeito, agora reeleito, já pagou em contas do passado, reduzindo o rombo para R$ 185 milhões, ou 32% da receita. Em 2003, por exemplo, chegava a 100%.

– Ao optar por bancar o serviço da dívida, precatórios e o Ipag, se foram entre R$ 40 e R$ 50 milhões por ano. Isso poderia ter sido investido em asfalto, mas aí o buraco hoje seria bem maior – alerta, citando também um plano de redução de gastos de até 25% em algumas áreas, preservado o tripé educação, saúde e assistência social.

– Nestas áreas se investiu até mais do que o exigido constitucionalmente. O prefeito nunca abriu mão disso, por isso o slogan do primeiro governo era cuidar das pessoas – pontua.

(…)”

 

Sigo.

Vale a leitura completa do artigo porque o que Davi projetou, e trabalhou para, aconteceu. Além do equilíbrio nas contas, substitua os R$ 100 milhões internacionais pelo mesmo dinheiro financiado pelo Banco do Brasil em obras de infraestrutura como as simbólicas pontes do Parque dos Anjos.

Na entrevista ele comete pela primeira vez a expressão “Falha de San Andreas” para descrever o rombo na previdência de Gravataí, referência à falha geológica mais temida no mundo e que poderia desencadear um tsunami de proporções bíblicas em São Francisco, engolindo parte dos Estados Unidos.

O ‘episódio IPAG’, que era o instituto de previdência e assistência em saúde dos 5 mil servidores ativos e inativos de Gravataí, fez do secretário um técnico perfeito ao antecipar cenários e apontar saídas que evitassem à Prefeitura, em 15 anos, pagar quase duas folhas salariais por mês, somando os vencimentos e a alíquota para garantir aposentadorias.

Mas também – opinião minha – acredito o tenha apresentado à necessidade de respeitar a política (supernecessária para equilibrar as forças e anseio sociais, corporativos ou não) e não apenas seguir o conceito que chamo, e acredito ele concorde, ‘ideologia dos números’.

Na equação da previdência, Davi ‘fez o serviço’. Pagou, pagou e pagou. Só que no Ipag Saúde, o secretário era entusiasta em acabar com o ‘plano de saúde’ dos servidores. Marco Alba baixou a bola ideológica do secretário – crítico ao socialismo petista e à socialdemocracia tucana, que se descreve como um liberal entusiasta do pacto social norteamericano – e viabilizou a criação do ISSEG, ainda um plano de saúde, mas sob gestão pública.

Ao fim, revelo um off daquela entrevista.

Se Davi é bom nas contas, eu aprendi alguma coisa em tirar informações das pessoas. Quando o entrevistei, confidenciou que era paraquedista. Rápido no raciocínio, por óbvio sabia que no artigo eu escreveria algo sobre, e diferente de indicadores econômicos, não tinha como mensurar o uso que eu faria.

– Posso te pedir para não citar a história de paraquedista?

Ok, respondi, compreendendo o receio da fonte recém estabelecida em uma aldeia onde a política ebule.

Hoje posso contar o hobby e dizer que Davi é um bom secretário e Gravataí está bem servida para atender ao modelo que as urnas deram aval em 15 de novembro.

O secretário não caiu de paraquedas.

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