jeane bordignon

O inverno não é bacana

Quando me mandei para o Rio de Janeiro, um dos motivos foi fugir do frio desgraçado que faz nesse rabo do país. E meu último inverno aqui foi para tirar qualquer resquício de dúvida: trabalhei num evento em plena noite de sábado com 3°, e minha lembrança é que mesmo com duas meias e bota eu não sentia meus pés. Três taças de vinho nem fizeram menção de me aquecer.

O frio da Cidade Maravilhosa já estava de bom tamanho para mim. Um casaquinho, uma meia-calça, raro precisar mais do que isso. Era a temperatura cair para 20° e eu já via os cariocas de bota e cachecol… eu, de camiseta, só ria por dentro.

Ao contrário da maioria das pessoas, não gosto de usar calça jeans. Parece que fico engessada. Por mim, usaria saia o tempo inteiro, principalmente do tipo hippie ou cigana. Adoro uma saia florida, sim! Mas sou friorenta, então acabo tendo que ceder às calças quando a temperatura cai. No Rio era bem mais raro fazer frio o bastante pra chegar ao meu limite. E muitas vezes, uma meia-calça dava conta.

Mas o inverno do RS, além das temperaturas mais baixas, tem um frio diferente, cortante, que parece que chega aos nossos ossos. Somado a um vento que chega a ser perigoso para as pessoas de pouco tamanho feito eu. Agora estou um pouco acima do peso, mas quando mais magra o vento literalmente me empurrava.

Pensa num lugar que venta muito. Até pode-se dizer que no RS o que mais tem é vento e bolsominion. Nem sei porque até hoje não se investiu mais em energia eólica nesse estado, porque vento é o que não falta. O negócio é tão ventoso que até no verão a gente tem que usar casaco às vezes, principalmente no litoral.

Acho que foi o Jorge Furtado quem escreveu certa vez que o jornal ideal para ler numa praia gaúcha seria de pedra, porque qualquer outro é uma luta. No mesmo texto o autor apontava que é por causa do vento que os jornais daqui são todos tabloides (pequenos), nenhum standard (tipo O Globo ou Folha de SP). O único jornal standard que eu vi por aqui foi da UFRGS, e realmente, impossível ler na rua.

Apesar de detestar o inverno, consegui fazer graça por seis parágrafos. Mas sei que só consigo fazer alguma piada porque tenho abrigo, agasalho, chuveiro quente e comida na mesa. Para quem está vivendo na rua ou num casebre cheio de buracos, esses meses são torturantes. Tem gente que morre de frio. É no mínimo elitista comemorar a chegada do inverno.

É fácil também criticar a pessoa em situação de rua que está bebendo cachaça para se aquecer. De que outro jeito ela vai suportar passar a noite tendo apenas um pedaço de papelão e um cobertor “de doação” quando a temperatura não passa de um dígito?

Mesmo reconhecendo meus privilégios, eu detesto o inverno. Para quem tem histórico de fraturas e tendinites, o frio literalmente dói. Agora ainda tenho o bônus da placa no braço. O frio faz a musculatura contrair, e é cada repuxada que dá na região da minha placa! E até por todo o braço, que recuperou a funcionalidade, mas ainda tem algumas limitações de movimento.

Também tenho problema com a circulação, já fiquei com feridas em volta das unhas e preciso cuidar para que não aconteça novamente. Além de ficar com os dedos rachados, o que me deixa com um humor do cão, porque tudo encosta nas rachaduras e dói demais. Às vezes acho que nasci no lugar errado, porque não funciono direito no frio.

Ainda é desagradável ficar com o cabelo e a pele ressecados por causa da água quente do banho. É até difícil me achar bonita no inverno. Não me venham com o papo de que roupas de frio deixam as pessoas mais elegantes… Eu tenho 1,53 de altura! Com três camadas de roupa eu fico parecendo um gnomo, isso sim. E isso não tem graça.

Acho que pareço mais gente com roupas leves, como um vestido de alças, ou uma saia com blusinha. Realmente prefiro passar calor do que frio. Prefiro suar e ficar com pressão baixa, sim. Claro que calor extremo derruba qualquer um. Mas costumo ser mais produtiva nas temperaturas mais altas. Devia ter nascido no Nordeste…

Meu consolo é que tem feito menos dias de frio intenso do que antigamente. Apenas ondas que logo passam. Assim fica mais fácil sobreviver ao inverno gaúcho, do qual eu tentei fugir e acabei voltando. Ano passado nem fez tanto frio, mas parece que foi só para me iludir. Agora em 2021 já é a segunda vez que a gente parece estar no filme Frozen. Se não fosse meu querido aquecedor elétrico, ia ser mais sofrido.

Gosto mesmo é da primavera. Temperatura agradável, sol e muitas flores. Certo que tem a coceira no nariz e nos olhos, mas tomo um antialérgico e fico bem. Visto minhas saias coloridas e consigo ser feliz. É outra vida!

Falta muito para setembro ainda?

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