Alô, alô, Dr. Freud!
Com alguma frequência, desperto, sobressaltada, no meio da noite, tento recordar e interpretar o que sonhei, e chego, sempre, à conclusão de que meus sonhos seriam um prato cheio para qualquer analista.
Uma coisa que vem me intrigando, ultimamente, é a quantidade de sonhos meus ambientados em hotéis (Hotéis, eu disse, e não motéis!).
Na noite passada, isso ocorreu de novo, e decidi pesquisar no Google o significado desse tipo de sonho. Mas o Grande Oráculo é demasiado prolixo. Tudo muda se o hotel do sonho é pequeno, médio ou grande; se o sonhador é o proprietário do estabelecimento; se vive nele; se está hospedado sozinho ou acompanhado; se o acompanhante é conhecido ou desconhecido; se o hotel é de luxo ou meia boca; etc.
Assim que segui boiando, pois não havia nada, absolutamente nada sobre hotéis gigantescos, com milhares de portas e mafiosos chineses de filmes de Hollywood espreitando na volta de cada corredor, como são os desses meus sonhos recentes.
O único que encontrei de útil a respeito, no Google, foi que, se sonhamos com hotéis, devemos apostar no avestruz, no gato ou no elefante. Então, perdoem-me a contravenção, mas vou ali na esquina fazer uma fezinha no Jogo do Bicho e já volto.
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A primeira falência a gente nunca esquece
Meus irmãos e eu éramos loucos pelos gibis do Bolinha, da Luluzinha e por qualquer um do Walt Disney. Todo dinheiro que ganhávamos virava gibi.
Um dia, a Bia, que herdou o sangue de comerciante do pai, teve uma ideia brilhante. Sugeriu que reuníssemos alguns amigos do bairro para instalar uma banca de revistas na garagem lá de casa. A proposta era que vendêssemos os gibis já lidos por 4 cruzeiros e investíssemos tudo na compra de novos, que custavam 6.
Naturalmente, abrimos a tal banca sem autorização da mãe, e ela não ficou sabendo de nada, porque a casa ficava lá no fundo, em uma parte mais alta do terreno, de onde não via o que estávamos aprontando por ali.
O negócio ia de vento em popa. Imaginem uma banca de revistas em plena 24 de outubro, em Porto Alegre, ao lado de uma parada do bonde Auxiliadora, que estava sempre apinhada de gente!
Logo apareceram outras crianças, que também queriam vender seus gibis, e nossa banca virou, sem que soubéssemos que isto seria chamado assim no futuro, um “case” de empreendimento colaborativo.
Mas deu azar. Lá pelo terceiro ou quarto dia, passou por ali um fiscal da SMIC e quis saber o que aquele bando de menores estava fazendo em um negócio que não tinha alvará da Prefeitura.
E, em seguida, ele estava com o dedo grudado na campainha, e a mãe correndo escada abaixo, assustada. Depois de ouvir a advertência do fiscal e de constatar com seus próprios olhos a grave infração cometida pelos filhos, ela decretou a falência do negócio sem dó nem piedade.
Pouco depois, fomos viver em Petrópolis e descobrimos que crianças e adolescentes do bairro iam às matinês do Cine Ritz, não tanto para assistir aos filmes do Mazzaropi, como para trocar gibis. E, assim, nos recuperamos da tristeza causada pelo nosso primeiro baque financeiro.