3° Neurônio |  fábula

O macaquinho inquiridor | João Carlos Pacheco

Contam que havia num zoológico, não faz muito, um macaquinho que se punha a meditar enquanto seus companheiros se ocupavam a fazer acrobacias e outras macaquices para agradar os visitantes. Sentado em posição  contemplativa com os braços e pernas cruzadas, olhar perdido, o macaquinho ficava horas e horas meditando.

A princípio ninguém prestava muita atenção nele, mas com o passar do tempo sua atitude começou a chamar a atenção e logo o macaquinho meditabundo se tornou a maior atração do zoológico. As crianças adoravam aquilo, riam e jogavam pipocas e outros objetos para ver se o macaquinho reagia. Mas nada. O macaquinho nem se mexia, ficava ali quietinho, na mesma posição. 

Todos os domingos era a mesma coisa: mal começavam a chegar os primeiros visitantes e o macaquinho já estava ali, meditando, enquanto seus colegas se punham a fazer macaquices e traquinagens para  agradar as visitas. Logo sua fama cresceu e se espalhou pela cidade e pelo País. A Imprensa só falava nele.

Pois foi num dia em que estava toda a Imprensa do País no zoológico para a inauguração da jaula de uma espécie rara de urso de óculos  que o macaquinho aproveitou e falou: “Senhoras e senhores” – começou ele em tom de discurso – “Já que está aqui toda a imprensa do país e centenas de pessoas aqui reunidas para esta inauguração, quero aproveitar e falar uma coisas que tenho pensando muito.”

“Sei que estão todos curiosos para saber o que tenho meditado tanto, durante todo esse tempo em que me mantive em silêncio profundo. Pois devo dizer a todos que só tenho pensado, repensado, mastigado, ruminado uma questão, a qual gostaria que todos  vocês  me respondessem sinceramente.

“A questão é a seguinte: qual o animal mais inteligente, mais belo, mais importante e mais evoluído na escala zoológica, o animal mais digno de ser admirado, fotografado e reverenciado, todos os domingos, por pais e filhos com pipocas e outros objetos? O homem ou o macaco? O homem lógico, dirão todos vocês, ora que pergunta mais besta e idiota desse macaquinho boçal” – prosseguiu ele, já respondendo a questão.

“Pois muito bem” – continuou ele – “se é o homem o animal mais inteligente, mais belo, mais importante, mas evoluído e mais digno de ser admirado e reverenciado todos os domingos por multidões, por que então não estão todos vocês nesse momento reverenciando, fotografando e jogando pipocas e outros objetos aos presidiários que são homens e que, como nós macacos, estão agora trancafiados em jaulas imundas iguais a estas nos Presídios? Hein? Hein?  Me  respondam!…” – concluiu o macaquinho.

Contam que as pessoas – velhos, crianças e adultos  – nunca riram e se divertiram tanto como naquele dia. E todos foram embora pra casa rindo e comentando que aquele era o macaquinho mais engraçado do mundo.

 

Moral: O macaco tá certo. Tem gente que nunca olha pro seu próprio rabo.

 

João Carlos Pacheco é publicitário e humorista, vive em Porto Alegre. Participou da antologia de humor QI 14, de 1975. Para nosso prazer e do leitor, o Seguinte: passa a publicar uma série de suas fábulas, inéditas.

 

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