Ele rendeu comentários críticos, xingamentos, ameaças de banimento e foi protagonista até de uma enquete sobre sua permanência ou não no Fatos de Gravataí, com 26.392 membros um dos maiores grupos públicos de facebook da aldeia.
É o Flores Ari, ou Ari da Silva Flores, 48 anos, morador da Cohab C, 20 anos de Gravataí e personagem que traduz nas redes sociais a atualíssima grenalização que a maioria dos brasileiros vivenciam do almoço de família à igreja, passando pelo local de trabalho ou o boteco.
O Seguinte: foi ouvi-lo, para contar um pouco mais sobre esse controverso fã do Lula e crítico do Bolsonaro. Que está desempregado e, por isso, aproveitando que tem mais tempo livre para, como explica, “levar informação” às redes sociais.
– Você acha que os 14 milhões de desempregados são só estatística e tinta no jornal? – provoca o técnico agropecuário, ex-funcionário da NET e do Walmart.
– Na minha época de estudo, tinha que ir à biblioteca. Hoje tem o Google e essa turma mais nova em vez de pesquisar só xinga e fica braba com o contraditório, como criança mimada. Primeiro você precisa ler a reportagem, não só a manchete, para depois comentar. Mas o pessoal espalha muito ódio. Eu posto só informação – já apresenta um habeas corpus preventivo às críticas sobre suas postagens políticas e, invariavelmente, profetizadoras de que o barbudo vai voltar.
– Sou Lula, até prova em contrário. Se provarem corrupção, repenso. Mas, até hoje, é um cara do povo que fez não só pelos mais pobres, mas pelo país – argumenta, inclusive no jeito de falar, e numa acelerada enumeração de potencialidades do Brasil, lembrando a verve do ex-presidente.
– Por que não pensar grande? Somos o quinto país do mundo em extensão territorial e temos clima para plantar o que quisermos. Aí o pessoal fala: mas o Lula botou dinheiro em porto na África, no porto de Cuba. Isso é visão de futuro. Vamos vender grãos e produtos para quem, para os Estados Unidos? Não, para os países emergentes ou menores, muitos sem infraestrutura para receber a produção. Esse é um dinheiro que logo ali se paga. Mas o pessoal tem preguiça de ler, de pensar – instiga, parecendo escolher a nove dedos os temas mais polêmicos do Face.
– O Lula atrelou o salário mínimo ao PIB. Era assim: trabalhou, produziu, o salário aumenta. E deu crédito para o povo consumir. Sem consumo, não adianta produção.
Pode não parecer, mas além de um crítico da nossa sociedade umbiguista, Flores Ari é um crítico da política. E seu discurso de encerramento pode certamente ser compartilhado pelos internautas do #FicaFloresAri!, ou até por seus irritados desafetos virtuais:
– A corrupção começa pelo povo, pobre ou rico. Basta o candidato botar o pé na rua que já tem alguém pedindo dinheiro ou alguma vantagem pessoal. Instalei NET, sei bem que pobre e rico quer botar gato. Os políticos, por sua vez, vão buscar o dinheiro com os empresários e ficam reféns. Precisamos de renovação dos caciques e de uma mudança no sistema eleitoral. Eu não acredito em ninguém, até estudar bem, pesquisar, fiscalizar. E se pisar na bola, já era.