Quando descobrimos que estamos grávidas passamos a idealizar o nosso bebê, e idealizar o nosso filho, entrando em ação a nossa imaginação. A cor de olhos, a cor dos cabelos, o formato da boquinha, o formato do nariz…
Então, dá-se início ao pré-natal, aos exames de rotina, e passamos a nos preocupar com questões relacionadas ao estado de saúde e com a nossa qualidade de vida e a do nosso bebê.
Chega o tão esperado dia do nascimento, começam as comparações, ele (a) nasceu a cara do pai… Não, a cara da mãe! Acho que se parece mais com o vovó, é tão lindo (a).
No decorrer dos meses, começam as comparações, com os bebês de pessoas mais próximas. Ele ainda não está sentando? Não está balbuciando as primeiras palavras? Ele ainda não engatinha? Ainda não deu os seus primeiros passinhos?
Essas comparações nos doem muito e soam como uma competição de atributos nossos dos filhos. Passamos a desabafar com o pediatra nas consultas de rotina. Eles, por sua vez, no geral, tentam nos acalmar ou talvez acalentar, mostrando evoluções em outras áreas e que estamos um pouco ansiosas, que não devemos fazer comparações com outras crianças da mesma faixa etária.
Porém, é neste momento que acendemos o sinal de alerta: algo não está certo! Nas próximas semanas, vamos falar sobre as fases do diagnóstico, o luto e a aceitação familiar.
Compartilho, hoje, com vocês, o depoimento da mãe do João, a Cristiele.
— Não me lembro exatamente como vim parar aqui, mas sei que não foi fácil e também sei que tirei forças do João, pelo João. Me identifiquei muito com a tua ida ao pediatra pela segunda vez, porque a pediatra que me acompanhava desde o nascimento sempre dizia ser normal, até que cheguei na Giselda.
— E daí foi uma longa caminhada até aqui. Embora eu tenha o pai dele ao lado, na grande maioria das vezes me senti sozinha e desamparada. Eu costumo dizer que o amor que sinto pelo João é um amor doído e precisei aprender a ser fria para ajudá-lo, embora o que eu mais quisesse era poupá-lo.
— Sobre o diagnóstico, senti alívio, pois toda a família paterna me criticava por buscar ajuda, que a louca era eu. Sobre amar o simples e corriqueiro aprendi com o João, pois cada pequena conquista é muito valorizada.
— Eu tenho para mim que somos uma espécie de mulher maravilha, porque ser mãe de uma criança autista não é sacrifício nenhum, sacrificante são as pessoas que desconhecem o que é o autismo.
— Amar alguém incondicionalmente mesmo, que ele não diga nenhuma palavra, mesmo que tu implore “fala com a mamãe”, ele me olha e sorri, mas não diz nada. No entanto, as vezes balbucia inúmeros sons que sou obrigada a dizer “não faz assim”.
— É amor que dói, que alegra a vida, que nos dá forças a seguir em frente. É preocupação que não acaba mais, isso sem falar nas inúmeras vezes que sofremos com antecedência e a criança vai lá e tira de letra.
— Às vezes tenho a impressão que ele me testa, que sabe tudo que desejo e não faz porque não se importa comigo. Sofro. Mas sei que isso é uma condição e o amo com todas as forças.
— Embora às vezes me pergunte, por que comigo, seria hipócrita se não assumisse que gostaria, sim, que ele fosse “normal”, que gostaria que chegasse da escola me contando tudo, falando de garotas, de notas, essas pequenas coisas que talvez outros pais deixem passar desapercebidos.
— Mas sei que tenho um tesouro nas mãos que me ensina a cada dia e me fez ser alguém melhor, muito mais do que eu poderia imaginar.
— Estou fazendo está reflexão hoje* por ser o dia da conscientização do autismo.
— O que meu filho precisa???
— Precisa de amor, peço que deem amor a ele o aceitem e não o julguem.
— #por #um #mundo #melhor
(*Depoimento escrito no dia 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo).