Alex Tavares assume Presidência da Câmara com histórico de viagens. Teremos mais do mesmo, ou uma surpresa?
Se o acaso, o Fusca, 50 Tons de Cinza e a Capela Sistina foram feitos por Deus, aleatoriedades não existem na política. Sintomático Roberto Andrade (PP) ter sido o apresentador da candidatura de Alex Tavares (PMDB) à vice-presidência da Câmara, domingo.
– É um vereador que defende os interesses do parlamento, não interesses individuais – mandou o recado ao minutos depois eleito, que assumiu a Presidência da Câmara com a ascensão de Nadir Rocha (PMDB), escolhido presidente, mas que fará novamente o papel de ‘camerlengo da Sé vancante’, comandando interinamente a Prefeitura até as novas eleições de 12 de março.
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A ‘defesa do parlamento’ é a reprise de um discurso feito por muitos parlamentares durante a legislatura que encerrou ao criticarem os colegas que, por exemplo, não viajavam, não aumentavam o próprio salário e postavam suas posições contrárias em seus perfis de facebook.
– Vocês estão expondo a Casa – era a ameaça, geralmente completada pelo alerta de que também seriam atingidos ao “jogar o povo contra os vereadores”.
Mesmo que apenas nas geladas salas de finas paredes com ouvidos, ou em conversas no apertado elevador dos vereadores, até ameaças de processos na Comissão de Ética surgiam, no jogo de pressão para que o feito em Vegas ficasse em Vegas.
Se há relação com o ‘CamaraTur’, ou a superexposição (de desbocadas redes sociais ao Fantástico), só o eleitor sabe. Mas nove vereadores que viajaram nos três anos e meio em que a Câmara de Gravataí gastou mais em diárias do que a Câmara de São Paulo não estão na nova legislatura.
Na cola dos – descontadas passagens aéreas – R$ 300 mil que foram para os ares em viagens para lugares como Brasília e Fortaleza, a bancada das viagens da legislatura 2013-2016 perdeu 8 mil votos.
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Roberto Andrade sempre foi um ‘pitbull’ do grupo que criticava a exposição pelos colegas de privilégios legalmente estabelecidos no Regimento Interno da Câmara. Alex, de um jeito mais ‘são bernardo’, até bem pouco tempo também era. Ao passar as eleições, e ser reeleito com 172 votos a menos que em 2012, confidenciou a este jornalista que não viajaria mais.
Assustados com a ira dos eleitores, é provável que veteranos e muitos novatos votem contra as viagens.
Num ranking onde o campeão de gastos foi Márcio Souza (PV), que custou R$ 70.749,36 entre diárias e passagens aéreas, perdeu 655 votos e não foi reeleito, Alex foi o terceiro (R$ 47.503,77 em diárias, R$ 70.468,38 somando passagens) e Robertinho, que perdeu 1.142 votos de uma eleição a outra, foi o quinto, com R$ 65.585,72.
Não é de duvidar que, num momento onde (praias cheias e governos abarrotados de CCs à parte) tanto se fala em crise, Alex pense mais em oferecer, em nome da Casa (do Povo), um aceno de solidariedade ao bolso vazio do cidadão, do que agradar colegas precisando de sobras de diárias para pagar contas de campanha.
Bastaria proibir as viagens, pelo menos nos 70 dias em que ocupará interinamente a Presidência.
Lacraria.