A vida é um moinho. É poesia. É amor. É uma roda, uma gangorra. É feita de altos e baixos. E lá se vão mil definições, além das do dicionário e provenientes de visões religiosas. Todas em busca de um caminho que dê conta do sentido de nossa existência.
Há mais de 20 anos conheci o Parque do Amor, em Lima, no Peru. Lembrei-me do lugar não por sua localização, belíssima, no topo de um penhasco, com vista para o Oceano Pacífico, nem mesmo pelo nome ou pela escultura de um jovem casal envolvido em um beijo apaixonado. Evoquei em minha memória os mosaicos que adornam as muretas que cercam o local e reproduzem frases e poemas de amor de diversos autores.
A vida é como um mosaico, um quadro grande com diferentes matizes compondo essa obra de arte que é o viver. Como seria minha vida apresentada como um mosaico em praça pública? E a sua? O que deixaríamos que os outros vissem de nós? Quais os azulejos que esconderíamos em baús empoeirados? Quais os que reduziríamos a cacos, por medo de que fossem, um dia, descobertos, quem sabe por nós mesmos?
Ao pensar minha vida como mosaico percebo que sua construção está sendo feita com grandes e pequenos fragmentos de todas as cores. A cada dia colo nesse grande painel, um gesto, uma sensação, um sorriso, um cheiro que aprecio, um facho de luz ou uma lágrima. A paisagem criada pode ser lida ou vista de diversas maneiras por quem está a observar o mosaico. Nossa vida não é feita só de belos e alegres dias. Há momentos em que precisamos de coragem para juntar ou desprezar os estilhaços que nos provocam sofrimento, mas também podem nos fortalecer.
Tenho um pouco de receio de montar esse painel e deixar de fora aqueles dias infames que todos vivemos quando estamos convictos que a nossa verdade é melhor que as verdades dos outros. Os tempos atuais são de arrogância e intransigência. Não escapo da arrogância e da intransigência. Mas, mesmo assim, no mosaico da minha vida predominam cores e alegrias.