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O perfil dos infectados pela COVID 19 em Gravataí; de 11 para 330 casos?

Prefeito visitou hospital nesta terça para alinhar estratégia da rede municipal de saúde para enfrentamento do coronavírus

Gravataí registrou o 11º paciente infectado por COVID-19. É uma mulher de 27 anos, que está em isolamento domiciliar e cuja transmissão foi comunitária.

O caso reforça o perfil do último boletim epidemiológico apresentado domingo pela Vigilância Municipal em Saúde, quando as confirmações eram 9.

A média de idade é de 41 anos.

– O Rio Grande do Sul também apresenta maior taxa de infecção em pessoas adultas jovens – alerta Patrícia Silva, coordenadora da Viemsa.

Os dados descontroem o imaginário de que o novo coronavírus é uma doença de velhos.

Dos 56% dos pacientes de Gravataí precisaram ser internados com síndrome respiratória aguda grave apenas um era idoso.

A idade média de internação é de 43 anos.

Dos gravataienses, apenas um evoluiu para a cura após 14 dias em isolamento domiciliar. O paciente não apresentou nenhum sintoma durante a quarentena.

– No Brasil estamos na fase inicial. As medidas de isolamento social são necessárias para controlar a transmissão do vírus e não experimentarmos um descontrole como está começando a acontecer em São Paulo – alerta, sobre o potencial contaminador do vírus.

Para efeitos de comparação, a taxa de transmissão de uma gripe comum é de 21%, enquanto a taxa de transmissão do novo coronavírus é de 80%. Coronavírus não é Influenza, COVID-19 não é H1N1.

O contágio invisível já é uma realidade. Como alerta Atila Iamarino, biólogo e doutor em microbiologia, a COVID-19 é como uma cobra silenciosa: você não percebe ela chegando. E quando percebe, pode ser tarde.

Exemplo perfeito é do paciente assintomático e agora curado em Gravataí. O advogado, que fez o teste após ter contato em outro estado com um amigo que depois lhe informou ter contraído a COVID-19, mesmo sem sentir nada respeitou o isolamento domiciliar – ajudado por familiares, poe 14 dias não saiu de casa nem para fazer compras ou levar o lixo até a rua.

Caso circulasse por Gravataí, a trabalho ou passeio, seria um transmissor do vírus.

Conforme a Science, ao lado da Nature uma das revistas acadêmicas mais prestigiadas do mundo, mesmo com dois bilhões de pessoas confinadas, um a cada 3 terráqueos, 60% podem contrair COVID-19 ao fim da pandemia deste ano; 86% dos portadores não terão sintomas relevantes, mas serão responsáveis por 79% das transmissões; dos infectados, 15% poderão precisar de tratamento e 5% de internação em uma unidade de tratamento intensivo.

– A recomendação do Ministério da Saúde para que todos usem máscaras, mesmo que caseiras, acontece porque se comprovou que no Brasil os pacientes assintomáticos são os principais transmissores do vírus – explica a coordenadora.

Ao redor do mundo já passam de 1,4 milhão de pessoas infectadas e 81 mil mortes em consequência da COVID-19, conforme levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkings atualizado às 20h10 (de Brasília). Mais de 300 mil pessoas se recuperaram da doença.

O Ministério da Saúde também atualizou os números da pandemia no Brasil. Até as 14h, registraram-se 13.717 casos e foram confirmadas 667 mortes por COVID-19.

A terça, 7 de abril, foi o dia com maior número de mortes, 114, além de 1.661 novas incidências.

A taxa de letalidade subiu mais uma vez. A estatística atualizada mostra que 4,9% dos casos confirmados levaram o paciente a óbito.

No Rio Grande do Sul, já são oito mortes e 555 casos – 55 novos nesta terça, conforme a Secretaria Estadual da Saúde.

Entre as capitais, Porto Alegre é a quinta colocada em casos, com 17,3 a cada 100 mil habitantes. Fortaleza lidera o ranking da tragédia com 34,7. A média nacional para todos os brasileiros é de 6,5.

A maioria das vítimas fatais no país tinha mais de 60 anos e fator de risco: 78% eram de idade avançada e 76% tinham doença crônica.

Conforme reportagem de GaúchaZH, as internações por síndrome respiratória aguda grave (SARG) chegaram a 32.370 em todo o país. O número é 253% que maior do que no mesmo período do ano de 2019.

Na coletiva de hoje, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira alertou que o pico dessas internações é nas estações de outono e inverno. Ou seja, as próximas semanas devem acumular mais pacientes de SARG por outras infecções (gripe, influenza A ou B, e H1N1).

Na comparação de índices com Porto Alegre, Gravataí poderia se declarar ‘território livre do vírus’. Só que a subnotificação fora das capitais é uma realidade do Brasil, cujo SUS não dispõe de testes para além de pacientes com necessidade de hospitalização. Se Porto Alegre registra média de 17,3 casos a cada 100 mil habitantes, Gravataí tem 0,03.

Só que especialistas, como Margareth Dalcomo, peneumologista da Fiocruz e a principal referência da área no Brasil, calculam que o cálculo mínimo, para aproximar os municípios da testagem feita pelas capitais, onde está a maioria dos hospitais de referência para tratamento da COVID-19, é de 1 para 30.

Aplicando a ‘fórmula’, Gravataí teria 3 mil notificações, 390 pacientes aguardando resultado de exames, 330 casos e 2,1 mil descartados. O balanço oficial da terça aponta 100 notificações, 70 descartados, 13 em análise e 11 confirmações da COVID-19.

O prefeito Marco Alba aposta que o empresariado da quarta economia do Rio Grande do Sul, terra de GM, Dana, Prometeon, Pirelli, Digicon, TDK e outras gigantes da indústria gaúcha e brasileira, algumas turbinadas a incentivos fiscais ou não, vão ajudar a arrecadar pelo menos R$ 5 milhões para a compra de 30 mil testes.

Sem a testagem em massa, é um voo às cegas – nas trevas.

A construção civil retomou as atividades hoje, a indústria volta dia 13, o comércio dia 16 e as aulas e o serviço público dia 30. O prefeito precisou adequar o calendário de Gravataí às datas estabelecidas pelo Decreto 55.154, publicado em 1º de abril pelo governador Eduardo Leite, sob ameaça de responder por crime de responsabilidade, como revelei ontem em Por que Marco Alba se adequou a abertura de comércio, indústria e aulas; a Gravataí dos 10 ou 300 infectados.

Como escrevi no artigo, a ‘recomendação’ do MP faz a ressalva de que a municipalidade, ou seja, a Prefeitura, “havendo o interesse local, somente poderá ser mais restritiva que a mencionada legislação estadual”. Só que a restrição maior “deverá estar embasada por uma norma sanitária”.

Traduzindo do juridiquês, se o prefeito decretar uma quarentena maior que o governador, será responsável por provar com laudos sanitários a necessidade da medida, caso seja processado pelo Ministério Público ou por algum comerciante.

Sem testes, o que temos hoje é a Gravataí do 0,03 caso a cada 100 mil habitantes. É uma fake news, bem ao gosto para algum napoleão de hospício subir no cavalo e tirar do bolso do colete o discurso irresponsável de que não basta abrir o comércio – seja para vender chocolate ou carro usado –, e sim os gravataienses devem que sair às ruas para comprar, consumir e botar fé na cloroquina!

Nesta tarde, o chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, alertou para que países que afrouxarem suas estratégias de quarentena usem uma abordagem “calibrada e gradual”, sem remover todas as restrições de uma vez.

– O isolamento está diminuindo a disseminação da doença. Uma vez removidas as restrições, é preciso ter um método alternativo para conter a infecção – alertou, citando a necessidade da existência de “sistemas para detectar casos, retraçar a cadeia de contatos dos infectados, identificar casos suspeitos que precisem de quarentena e realizar testes em massa”.

Ao fim, se Eduardo Leite não adiar as datas de seu decreto, o isolamento social vai começar a diminuir em Gravataí ainda no mês apontado como pico do contágio e sem que tenhamos a mínima noção do que está acontecendo.

Como não é possível decretar que bebês não nasçam, crianças não se quebrem, jovens não se acidentem ou sejam baleados, adultos não tratem câncer e idosos não enfartem, se a fórmula do 1 (confirmado) para 30 (subnotificados) for uma realidade, mesmo com 42 novos leitos no 'hospital de campanha', não teremos instalações suficientes nem esvaziando o Hospital Dom João Becker, a UPA e o 24H desses outros paciente ‘inconvenientes’.

Um dado que citei acima é arrasador, e faz do ‘1 para 30’conta de otimista: conforme o Ministério da Saúde, as internações por síndrome respiratória aguda grave (SARG) chegaram a 32.370 em todo o país nos três primeiros meses de 2020. O número é 253% que maior do que no mesmo período do ano de 2019. A média de tempo de internação também é maior nas UTIs. 

É a COVID-19 sem teste?

Apesar de hoje todos serem SUSialistas, o sistema de saúde está quebrado desde sempre. Em Gravataí, por exemplo, leitos de UTI nunca sobraram.

 

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