No Dia Internacional das Mulheres, Oracides Garbini, uma das pessoas mais conhecidas da sociedade de Gravataí envolveu-se em uma inusitada polêmica que começou no Facebook e chegou à tribuna da Câmara de Vereadores.
– Sou contra a Lei Maria da Penha. É outra lei que vamos derrubar. Quem é homem sabe porque – escreveu aquele que por 23 anos comandou o Conselho Pró-Segurança Pública, ostenta um título honorífico de cidadão gravataiense e hoje é presidente regional do Lions Clube, de Gravataí à Guaíba.
– No Dia da Mulher o senhor utiliza essa infeliz frase. E ainda fala que quem é homem sabe disso. Sou homem e não sou da tua turma. E nem concordo com essa besteira que falaste – retrucou, também em uma postagem, o vereador Dimas Costa.
Que horas depois fez pronunciamento em plenário:
– É a nota triste desse Dia da Mulher. Quero manifestar meu repúdio a essa opinião – registrou o parlamentar, que criticou ataques à lei por supostamente não respeitar os “direitos iguais” da Constituição.
– Enquanto nove em cada dez mulheres já sofreu algum tipo de violência, o índice de homens não chega a 2%. A mulher é impotente diante da força do homem e de agressões não só físicas, mas psicológicas, sexuais e até patrimoniais. Não aguentei ouvir quieto essa manifestação de uma personalidade tão conhecida na cidade.
O Seguinte: foi ouvir Garbini sobre a controversa posição sobre a lei criada há 12 anos para aumentar a rede de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica.
– Sou contrário a leis de exceção. A Maria da Penha é uma delas, como o Estatuto do Desarmamento, que nos deixa desarmado em um país de bandidos. Temos que limpar o Brasil dessas coisas que nos incomodam – disse o ex-gerente do Banco do Brasil, por telefone, minutos atrás, explicando ter recebido convites para comemorações na cidade e evitado comparecer para não polemizar ainda mais.
– É minha opinião: é uma lei de exceção porque uma mulher pode mentir, dar queixa indevidamente, e o homem chega na delegacia não como suspeito, mas já como réu – explica, acrescentando que “nunca praticou nenhuma violência” e tem “tantas amigas mulheres quanto amigos homens”.
– Não sou feminista, mas gosto das mulheres – argumenta, criticando também o custo com a criação de delegacias especializadas.
– Já há leis para punir crimes, e também forças de segurança e investigação. Os índices de violência não diminuíram. As estatísticas mostram – conclui, também deixando no ar críticas a denúncias de assédio.
– Eu nem deveria ter entrado nessa polêmica da Maria da Penha, mas é minha opinião. Nem vou falar sobre assédio…
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Ouvi os argumentos de Garbini e respondi com silêncios a seus pedidos de concordância, pois estava entrevistando-o para colher sua opinião original e não para travar um debate, já que sou entusiasta da lei Maria da Penha e daqueles que admiram a luta feminista e não percebem o 8 de maio como dia para muita comemoração.
Talvez o que cada mulher possa comemorar, num Brasil que mata 15 por dia, é chegar viva em casa hoje, como disse Thiane Nunes.