As sequelas da COVID-19 preocupam o secretário da saúde de Gravataí Régis Fonseca, mas ainda não está nos planos criar uma unidade especial para tratamento, aos moldes do que acontecerá em município vizinho, como reportou o jornalista Rodrigo Becker, nesta sexta, no Seguinte:/Canoas, em A sacada do ’Ambulatório Pós-Covid’ que JJ lançou: a doença e as sequelas.
Números do Ministério da Saúde apontam que oito em cada dez brasileiros recuperados do novo coronavírus apresentam algum tipo de sequela – algumas mais brandas, outras exigindo tratamentos médicos mais específicos. Redução da capacidade pulmonar, por exemplo. Cansaço diante de qualquer atividade física, mesmo nas mais singelas. Dores pelo corpo, nas articulações, nos dedos. Enfim, sequelas, que detalho mais abaixo, a partir de estudo pioneiro feito por uma cientista brasileira.
Fato é que, em Gravataí, os 8 a cada 10 potencialmente sequelados correspondem neste sábado a quase 10 mil pessoas. Os últimos indicadores apontam 13.190 infectados desde março, com 11.936 recuperados, 967 pacientes em recuperação, 520 casos em análise e 287 vidas perdidas, após a aplicação de 25.322 testes.
– Neste momento, ainda concentramos esforços para a manutenção do atendimento covid. A situação financeira é ainda mais crítica que a de 2020, visto que não há financiamento federal ou estadual para o custeio das estruturas viabilizadas pelo município para o enfrentamento e atendimento à pandemia – disse o secretário ao Seguinte:.
– Estamos dando suporte aos pacientes pós-covid na nossa rede de saúde e, ao mesmo tempo, avaliando o cenário atual, no que diz respeito ao aumento desta demanda – explica Régis Fonseca, concluindo:
– Neste momento a pauta número 1 é a manutenção do Hospital de Campanha.
O exemplo vizinho
Conforme a reportagem do Seguinte:/Canoas, o governo Jairo Jorge está buscando habilitação do município junto ao Ministério da Saúde para os recém criados Ambulatórios Pós-Covid.
O Ambulatório Pós-Covid de Canoas vai se instalar em uma das alas do Hospital Nossa Senhora das Graças. Será tipo um 'postão', mas só para quem já teve o novo coronavírus e passa por algum tipo de problema relacionado à doença, por vezes, em decorrência de longos períodos de internação. Após a acolhida, o paciente pode ser encaminhado para exames laboratoriais, de imagem e até eletrocardiogramas – tudo já funcionando dentro do próprio hospital.
Com os resultados em mãos e a avaliação médica, o paciente segue às consultas com especialistas para início do tratamento. O acompanhamento do paciente é de até seis meses após a alta hospitalar e pode se estender por período maior, em caso de necessidade
O primeiro ambulatório deste tipo no Estado foi criado em Rio Grande, onde o secretário de Saúde de Canoas, Maicon Lemos, trabalhou até dezembro do ano passado. Por lá, 14 profissionais do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-FURG), atendem aos pacientes que enfrentaram e venceram a COVID-19. São médicos, enfermeiros e técnicos formados com ênfase na Atenção à Saúde Cardiometabólica do Adulto, em uma equipe que inclui fisioterapeutas, profissionais de Educação Física, nutricionistas, psicólogos, infectologista, cardiologista, neurologista, pediatra e pneumologista.
Sequelas também em casos leves
Engana-se quem pensa que as sequelas restam apenas em pacientes que tiveram sintomas graves. Pacientes que tiveram coriza ou outros sintomas mais leves e até mesmo os assintomáticos também foram diagnosticados com disfunção cognitiva em algum grau.
É o que mostra o estudo inédito no mundo O uso do jogo digital MentalPlus®️ para avaliação e reabilitação da função cognitiva após remissão dos sintomas da COVID-19, feito no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), conduzido pela neuropsicóloga Lívia Stocco Sanches Valentin.
Conforme reportagem da Agência Brasil, os resultados mostram que a recuperação física nem sempre implica na recuperação cognitiva, conforme a pesquisadora.
– Isso deixa clara a importância de se incluir na avaliação clínica dos pacientes pós-covid-19 de qualquer gravidade sintomas de problemas cognitivos como sonolência diurna excessiva, fadiga, torpor e lapsos de memória, para que, com o diagnóstico precoce, possa haver uma rápida intervenção terapêutica – receita.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aguarda os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida na pesquisa do InCor como padrão-ouro em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-covid-19.
A pesquisadora usou o jogo digital MentalPlus®, criado por ela em 2010, para avaliar pessoas que tiveram covid-19 em vários estágios, idades e classes econômicas.
– Este jogo nasceu para detectar possíveis disfunções neurológicas em pacientes que eram prejudicados após o uso de anestesia geral profunda. Esse mecanismo não só avalia como ajuda na reabilitação. Então decidi usar o MentalPlus® na pesquisa com pessoas que tiveram sintomas ou que testaram positivo para a covid-19. O resultado foi impactante: independentemente do grau da doença, da faixa etária ou do nível de escolaridade, os pacientes que tiveram sintomas podem sofrer de disfunção cognitiva – explica.
O que mostram os testes
A primeira fase do estudo foi feita com 185 pessoas, entre março e setembro de 2020. Atualmente são 430 pacientes em acompanhamento na pesquisa. Os resultados indicam que em 80% dos participantes da pesquisa o novo coronavírus ocasiona dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória ou dificuldade para lembrar-se das coisas, problemas com a compreensão ou entendimento, dificuldades com o julgamento e raciocínio, habilidades prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas, mudanças comportamentais e emocionais, além de confusão.
Outra consequência detectada no estudo é a diminuição da capacidade visuoperceptiva.
– Muitas pessoas perderam a coordenação motora e caem muito – diz a especialista.
Ela explica que, segundo exames de ressonância magnética funcional, isso acontece porque a função executiva é afetada em pessoas que já contraíram o Sars-Cov-2.
– Em uma pessoa saudável, essa função faz com que ela planeje o dia e busque estratégias para atenuar problemas, por exemplo. Se a pessoa perde essa função ou se ela ficar comprometida, isso pode interferir no trabalho e nas relações sociais, e, com isso, levar à depressão, ansiedade, angústia e agressividade.
A médica do InCor detalha que as sequelas cognitivas acontecem porque o vírus entra pelas vias aéreas, compromete o pulmão e, com isso, baixa o nível de oxigênio.
– A dessaturação de oxigênio vai para o cérebro, acomete o sistema nervoso central e afeta as funções cognitivas.
Segundo o estudo, a memória de curto prazo de 62,7% dos participantes foi afetada. Já a de longo prazo, teve alterações em 26,8% dos voluntários. Em relação à percepção visual, o impacto foi notado em 92,4%.
– Por causa dos problemas que a covid-19 acarreta nos lobos parietais e occipitais; estes lobos são responsáveis pelo planejamento; organização visuoperceptiva e visuoconstrutiva; pelas sensações corporais; pelos movimentos primários entre outras funções importantes do ser humano – diz.
Segundo a neuropsicóloga, o quadro é passível de reversão, por meio de exercícios cognitivos específicos como os do aplicativo MentalPlus® utilizado no estudo. Essa atividade funciona como uma “musculação mental”, explica a pesquisadora.
Ao forçar a atividade do cérebro, o órgão é estimulado a um maior consumo de oxigênio, melhorando paulatinamente seu desempenho.
– Quanto mais cedo tiver início a terapia cognitiva, mais rápida será a recuperação e, consequentemente, menores os prejuízos mental, emocional, físico e social para essas pessoas.
Quem deseja mais informações sobre o jogo digital deve entrar no site do InCor e acessar a página de voluntariado para pesquisa, no menu à direita. Nesta página é possível acesso o formulário de inscrições.
Concluo.
Ao fim, todo Carnaval tem sua Quarta-Feira de Cinzas.
Para covidiotas convictos, que num leito de UTI veem um Big Brother Brasil passar pela cabeça, mas infelizmente também para os que sofrem as consequências da irresponsabilidade e psicopatia alheia.
Não se volta ao normal depois de uma guerra.
Ainda mais uma guerra a pleno. A última quinta-feira foi o dia com mais mortes no país desde junho. Esse quase 10 mil potencialmente 'feridos' ajudam a pressionar ainda mais o SUS, que com a crise ainda na pré-pandemia precisa acolher mais de 2 milhões de pessoas que não conseguiram mais pagar planos de saúde.
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