o seguinte indica:

O que a CIA dizia sobre Lula na década de 1980

Lula durante as greves de metalúrgicos no ABC em 1979

Agência de Inteligência dos EUA, que liberou 800 mil documentos produzidos entre 1940-90, acompanhou de perto a ascensão do movimento sindical no Brasil

 

Não é mais teoria da conspiração.

A liberação para consulta na Internet de mais de 800 mil documentos produzidos pela CIA entre 1940 e 1990 mostra como a agência de espionagem norte-americana acompanhou de perto a emergência de movimentos organizados de trabalhadores ao final da década de 1970 e início de 1980 no País. Um personagem, em particular, chamava bastante a atenção dos analistas dedicados a produzir relatórios sobre o Brasil: Lula.

Os documentos eram públicos previamente, mas estavam disponíveis apenas no Arquivo Nacional, em Maryland, em quatro computadores que funcionavam somente em horário comercial. A CIA decidiu torná-los buscáveis na internet após uma ação judicial da organização pró-transparência MuckRock e também por conta da pressão do jornalista Michael Best, que começou a digitalizar os arquivos e divulgá-los na rede.

Um dos documentos produzidos pela CIA, intitulado Organized Labor in Brazil, descreve, ao longo de 27 páginas, o ressurgimento de movimentos de trabalhadores organizados no Brasil, destacando, em particular, a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva como líder sindical em São Bernardo do Campo (SP) e o início da formação do PT. 

No capítulo Os problemas das lideranças trabalhistas, o documento destaca: "Acreditamos que a ascensão de Lula no final dos anos 70, usando o apoio de 300 mil metalúrgicos, foi o mais importante desenvolvimento do trabalhismo desde o golpe militar. O "fenômeno Lula" revela que o trabalhismo não é tão dócil quanto os observadores acreditavam e que, com a liderança renovada, o movimento teria potencial como uma força política"

Produzido em 1982, já no processo de abertura da Ditadura Militar (1964-1989), o documento destacava a proximidade das eleições diretas para governador, as primeiras desde os anos 60, e a influência que esses grupos de trabalhadores poderiam exercer no cenário nacional.

– O trabalhismo deverá ter o mais importante papel no processo político em quase duas décadas. Um novo partido de base dos trabalhadores, liderado por um carismático ex-sindicalista, busca ativamente construir um eleitorado trabalhista, com a ajuda de membros influentes da Igreja Católica – relata o documento.

O relatório também cita religiosos, como Dom Paulo Evaristo Arns, partidos políticos (PMDB, PDT e PDS) e a "esquerda radical" neste contexto de emergência do sindicalismo como uma força política revelante no Brasil.

– A esquerda radical é composta pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Movimento Revolucionário 8 de Novembro (MR-8), Convergência Socialista (CS) e outros grupos menores e menos significativos. Além de compartilharem um objetivo geral de infiltração e controle de sindicatos-chave, eles não parecem particularmente unificados em uma estratégia ou tática e nem tem sido bem sucedidos em angariar apoio popular para a sua ideologia.

Sobre o futuro do PT, à época os analistas cravaram que o partido, ainda embrionário, tinha "o maior potencial político" entre as legendas existentes na época. 

– Apesar de Lula ter declarado ambiciosamente sua candidatura a governador de São Paulo, ele é realista com relação ao seu futuro político e às perspectivas do PT. Ele entende que [a projeção nacional] levará tempo e não espera que o partido tenha bons resultados inicialmente.

Sem coligação e com Hélio Bicudo como vice, Lula obteve 1.444.648 votos, 9,87% do eleitorado em 1982. Arregimentando 44,92% dos votos, o Palácio dos Bandeirantes passou a ser ocupado por Franco Montoro (PMDB).

O relatório, que cita frequentemente informações obtidas pela embaixada norte-americana no País, também traçava previsões sobre o futuro político desses movimentos em meio à distensão dos militares. 

– Em nossa opinião, o trabalhismo atual parece mais maduro e realista com relação ao que conseguirá fazer e menos responsivo a argumentos políticos e ideológicos do que no início dos anos 60. Ele entende, além disso, os retornos diminutos que eventualmente resultantes de pressões excessivas ou injustificadas dos trabalhadores sobre o governo e a incerteza acerca dessa estratégia diante da moderação de Brasília nos últimos anos. 

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