Normal esperar que os governos da Terra adotem medidas para proteger e salvar o planeta, afinal para isto também os elegemos. Porém, longe dos gabinetes e da fiscalização que esperamos acabe com violações ambientais severas como o desmatamento e a poluição de rios e do solo, há muita coisa que individualmente podemos fazer. Não creio em conferências que apenas apresentem metas politicamente corretas como forma de proteger nossas florestas, animais, mares e o próprio ar. De forma isolada isso nunca funcionou, porque a despeito de tudo que é prometido pelas lideranças mundiais, o clima segue sofrendo mudanças provocadas pela má gestão do desenvolvimento, ainda que ele tenha ganho a classificação de “sustentável”. A formação de uma sólida consciência cidadã tem uma força multiplicadora enorme sobre os tímidos esforços de governos, que parecem em eterna guerra contra os ativistas ambientais. Da conscientização podem brotar ações e uma reação capaz de impactar positivamente o meio ambiente.
Por exemplo, Gravataí dispõe de coleta seletiva de lixo, se não me engano, há mais de uma década. No entanto, ainda tem baixa adesão da comunidade. Destaco que este é um serviço público cuja efetividade depende da participação dos cidadãos, a quem cabe a tarefa de separar o lixo doméstico. Compreender a extensão que o melhor uso da coleta seletiva pode ter é uma ação de real impacto. Para citar apenas um dos materiais que deveríamos estar separando, o Brasil em 2020 era o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, conforme dados de um estudo da World Wildlife Fund (WWF). Anualmente são mais de 11 milhões de toneladas de plástico no lixo e deste total, apenas 1,28% disso é reciclado, bem abaixo da média mundial que é de 9%. Para se ter uma ideia, a baixa reciclagem poderia suprir tranquilamente a falta de matéria-prima para muitos setores da indústria local e regional. Reciclamos tão pouco, que indústrias do Vale do Gravataí precisam buscar este mesmo material em Santa Catarina e outros estados, pagando mais caro do que se pudessem encontrá-lo por aqui. Estes dados foram apurados pela Ciaverbo AGN, em 2019, para atender o projeto de um cliente. Até hoje a empresa recebe mensagens de indústrias do setor em busca de novos fornecedores de insumos como Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) e Polietileno de Alta Densidade (PEAD), presentes em quase todo tipo de embalagens de produtos usados diariamente em nossos lares e que quase sempre jogamos no lixo, indiscriminadamente.
Embora quase 75% dos municípios brasileiros tenham coleta seletiva, apenas 17% da população é efetivamente atendida pelo serviço e ainda por cima, participa pouco do esforço público para retirar o plástico do meio-ambiente. O Brasil tem inclusive boa estrutura, com legislação, pactos empresariais das empresas produtoras de embalagens plásticas e capacidade industrial instalada para atender uma demanda muito maior de reciclagem do que atualmente utiliza. Ainda assim, mesmo com o trabalho de separação de cooperativas de catadores, centrais instaladas em grandes cidades como São Paulo, com capacidade de triagem diária de até 250 toneladas, mal recebem metade disso. Estamos fartos de saber que o plástico pode levar até 500 anos para se decompor na natureza e que está poluindo rios, mares e matando a fauna em terra e nas águas. Um gesto simples, como aderir à coleta seletiva, pode tirar milhões de toneladas da natureza todos os anos. Melhor que isso, pode gerar empregos e renda que hoje nem existem porque ainda não estamos conscientes de nossa simples participação na Coleta Seletiva. Como muitos brasileiros, também estou preocupado com o desmatamento da Amazônia, mas acredito que posso ir fazendo minha parte por aqui, na minha casa, no meu bairro, na minha Gravataí, cidade onde não nasci, mas que acolheu minha família com carinho há mais de 17 anos.