Um milhão por mês é o que vai custar, a partir de janeiro de 2021, o pagamento dos mais de R$ 100 milhões em financiamentos contraídos pelo governo Marco Alba (MDB) para infra-estrutura de Gravataí, usados em obras como a duplicação das Pontes do Parque dos Anjos e o asfaltamento de 95 ruas.
O secretário da Fazenda apresentou a conta há pouco, em audiência de prestação de contas do quadrimestre na Câmara, em resposta a questionamento do vereador Paulo Silveira (PSB).
– Não se preocupem com esse um milhão ao mês, mas com os seis milhões mensais para a previdência municipal – alertou Davi Severgnini, alertando para a urgência de uma reforma municipal.
Sobre o endividamento, o secretário confirmou os dados que apresentei no artigo A fake news do endividamento de Gravataí; o Jesus de 2020: Marco Alba assumiu a Prefeitura com quase 6 a cada 10 reais da receita comprometidos por dívidas. Se não tivesse contraído financiamento, entregaria com pouco mais de um real. Pagou R$ 300 milhões. Com o dinheiro que captou com Banco do Brasil, Caixa Federal e Banrisul, encerrará o mandato com pouco mais de 2 a cada 10 reais da receita comidos por dívidas – que ainda perdurarão por governo futuros.
Já a previdência é a pauta-bomba que tratei em artigos como Infelizmente, reforma da previdência de Gravataí não será mamadeira de piroca na eleição 2020 e Previdência custará 30 Pontes do Parque até 2022; Marco Alba fará reforma?.
É, como já definiu o próprio Severgnini, a ‘A Falha de San Andreas’ – em referência ao acidente geológico mais temido no mundo e que poderia desencadear um tsunami de proporções bíblicas em São Francisco, engolindo parte dos Estados Unidos – que, aqui opino eu, congela salários naturalizando um ‘fim de mês perpétuo’ para o funcionalismo e, em 35 anos, pode fazer com que a Prefeitura pague duas folhas mensais entre salários e alíquotas complementares para garantir as aposentadorias dos 5 mil funcionários ativos, inativos e pensionistas.
– Os 12 milhões anuais do financiamento são em obras para a população; os 80 milhões da previdência são para o déficit – comparou, referindo-se ao bilhão necessário para tapar o rombo no Instituto de Previdência.
– é um bilhão alongado. Com R$ 300 milhões à vista zeraríamos o déficit. Mas isso é inviável – informa, sobre a infactível possibilidade de aportar um terço de tudo que é arrecadado por Gravataí para sustentar a ‘poupança’ previdenciária.
Em uma casa política, a coisa não ficou só na ‘ideologia dos números’. Provocado por Paulo Silveira e Dimas Costa (PSD) a apontar ‘vilões’, Severgnini primeiro culpou a ‘má concepção’ da previdência:
– Servidores ganham triênios e qüinqüênios. O funcionário entrar com 21 anos ganhando R$ 3 mil e aos 50 anos está ganhando R$ 18 mil. A expectativa de vida não é mais 74 e sim 85. São 11 anos não calculados. Não contribui com o custo que vai ter.
Satisfazendo aos políticos, usou de datas, e não citou os nomes dos prefeitos Daniel Bordignon e Sérgio Stasinski:
– Houve inadimplência da Prefeitura. Entre 97 e 2009 nunca foi pago o IPAG Saúde. Em 2009 a dívida foi pactuada e custa R$ 1 milhão ao mês.
– Também não pagavam a parte patronal do IPAG Previdência. Não raro, deixavam de repassar inclusive o que era retido da parte dos servidores – apontou, sobre a dívida que, parcelada, passará dos R$ 120 milhões.
Ao fim, é um tema complexo e que pouco interessa aos que acham que tudo se resolve com o ‘modo Colatina’ de governar, como critiquei em Não basta um ’prefeito de Colatina’ para Gravataí e Cachoeirinha. Reputo difícil qualquer reforma da previdência ser aprovada pela Câmara em um ano eleitoral. Se na campanha alguém debater soluções para essa ‘pauta-bomba’, mais do que sobre fake news ou o custo do cafezinho, ganharão as gerações futuras.
Sem torcida ou secação, a ‘ideologia dos números’ nunca deixará de assombrar os governo, seja qual for o lado, ou o meio, da ferradura ideológica.