perfil Alemão da Kipão

O queridão da Morada

Alemão busca um sonho maior: ser vice

Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Alemão da Kipão. Ele é o ‘queridão’ da Morada do Vale

 

– Olha ali o meu vereador!

– Aquele é o vereador? Não pode ser… Trabalhando no caixa e empacotando as compras?

– Tu vai ver! – diz a idosa, que é logo abraçada e beijada pelo rapaz que atende no supermercado naquele domingo pela manhã, e desde piá é conhecido como o Alemão da Kipão.

Da eleição de 2012 para cá, a cena é comum no tradicional comércio da avenida Alexandrino de Alencar, no coração da Morada do Vale, onde Alemão e o irmão mais novo Dieverson, além do trabalho diário, se revezam aos finais de semana e feriados para dar um descanso aos pais.

Eles seguem a receita que aprenderam com o seu Francisco e a dona Nelci, e fez um negócio familiar crescer e se tornar um dos maiores empreendimentos do bairro, com padaria, super e, mais recentemente, a KiLegal Brinquedos.

– As histórias de padarias bem sucedidas são todas muito parecidas. É trabalho, trabalho e trabalho – resume o Alemão.

 

: Alemão em um domingo de trabalho na Kipão

 

Ki-alegria

 

Everton Ferreira Tristão, de triste não tem nada: sempre com um sorriso no rosto e a espontaneidade de uma brincadeira, Alemão em suas roupas coloridas é daqueles que gostam de abraçar e dar um cumprimento de mão forte, estalado, que às vezes até desperta um “ai” no interlocutor mais distraído.

– Não quero nunca perder a criança que vive em mim – diz.

O jeito extrovertido e os 28 anos atrás do balcão o levaram à política.

– Estar em contato com as pessoas e diariamente ouvir, e ver as necessidades de cada um, do bairro e da cidade, despertou em mim a vontade de tentar um mandato para poder ajudar mais – explica.

– Não tinha nenhuma experiência anterior em campanhas ou cargos públicos e fui o terceiro mais votado da cidade e o mais votado do partido, com 2.525 votos.

– Não adianta: o Alemão é o queridão da Morada do Vale – confidencia um colega vereador, que pede para não ser identificado.

 

O PT e a foto

 

Com a vontade de concorrer, a bênção de pai e mãe e a autorização da esposa Cláudia, mãe de seus filhos Isadora (12) e Lavínia (8), Alemão se filiou ao PT em 2011. O convite foi feito por Daniel Bordignon, que concorreria a prefeito na eleição do ano seguinte.

– Olha quem quer falar contigo – disse o ex-prefeito e então deputado estadual, em um dos encontros, passando o celular para Alemão, com o governador da época, Tarso Genro, do outro lado da linha.

No mesmo período, Marco Alba, depois eleito prefeito, também convidou Alemão, mas para concorrer pelo PMDB.

– Estudei sempre em escola pública e via as lutas dos professores, simpatizava com o PT, tinha muita esperança. Por isso a escolha – justifica.

A vida dentro do partido não agradou Alemão. Apesar de sempre ter-se mantido disciplinado nas votações, desde o início do mandato ele não escondia o desconforto.

– Tinha que cuidar até com quem ia aparecer na foto! – brinca.

– Não consigo ser oposição a tudo, não poder conversar com quem está no governo para tratar de um problema da cidade, por exemplo. Se um prefeito é eleito pelo voto popular, minha primeira intenção é ajudá-lo, não tirá-lo do poder a qualquer custo. Infelizmente, na política muitos têm soberba para mandar, mas poucos têm a grandeza de ouvir – argumenta.

 

: Alemão não concorre mais a vereador

 

Vice, sem reeleição

 

Com a abertura da janela para troca de partidos, Alemão entregou a desfiliação em fevereiro deste ano e ingressou no PSD.

– Acredito no time. É um partido sem dono – diz, se confessando inoculado ainda mais pelo vírus da política, do qual o principal ‘hospedeiro’ foi o colega de Câmara Dilamar Soares, que o convidou para participar da construção do novo partido, e com quem tem convivido dia e noite adentro em articulações e reuniões políticas que já fazem a bancada, que não tinha nenhum, chegar a três vereadores, com a filiação de Dimas Costa, ex-PT.

Alemão é pré-candidato a vice do médico Levi Melo, com quem guarda semelhanças na curta trajetória pelo legislativo municipal: não concorre à reeleição, da mesma forma que fez Levi, após exercer um mandato de vereador, entre 2008 e 2012. Uma experiência que não empolgou nenhum dos dois.

– Estou satisfeito com o mandato, mas há muito pouca interação do legislativo com o executivo e não se vê o resultado das coisas. Posso ser vice, posso não ser, mas a vereador não concorro porque não consigo fazer o que gostaria de fazer pelas pessoas – resume.

 

: Alemão com o agora inseparável Dilamar e o vice governador José Cairoli

 

O som do silêncio

 

O comportamento de Alemão nas sessões até surpreende quem o conhece do bairro, do super, ou cruza com ele sempre falante pelos gabinetes e corredores da Câmara. Tomando seu chimarrão na cuia e bomba colorada, sentado em sua mesa no plenário, ele observa em silêncio as peleias entre os vereadores. Em raras vezes fala na tribuna ou pede algum aparte de seu microfone.

– Com todo respeito, mas acho perda de tempo. Talvez por ter um perfil mais de fazer do que de ficar falando – explica.

 

: Alemão nunca gostou de se envolver em rusgas na tribuna da Câmara

 

Um pouco da história – e das histórias – do Alemão:

 

Aos oito anos, o menino magrinho e de cabelos quase brancos, nascido em 5 de junho de 1979 no Hospital Dom João Becker, em Gravataí, “já sabia desossar sete dianteiros”.

Essa é uma das histórias sobre o Alemão, que mais gosta de contar o pai Francisco, que aos 18 anos veio para Gravataí com apenas uma passagem no bolso para morar e dormir “embaixo de uma mesa” na casa do irmão Arlindo, na parada 59.

– Naquela época o vô Aurino mandava embora de casa quem fazia 18 anos – conta.

 

 

Os irmãos dos noivos

 

Mal chegado de Sombrio, Santa Catarina, no casamento do irmão Francisco conheceu Neli, a irmã da noiva. Não demorou muito para também casarem.

– Dois irmãos casaram com duas irmãs! – diverte-se Alemão.

Francisco começou a ganhar a vida em Gravataí trabalhando nas obras de construção da Free Way. Depois foi trabalhar com vendas em grandes empresas como União, Kelloggs, Philip Morris e Danone. De espírito empreendedor, queria montar o próprio negócio, para compartilhar com Nelci, que trabalhava como doméstica em casas de família de classe média e alta.

Em 1989, abriu a Casa de Carnes São Francisco. Sempre ao lado do pai, foi ali na parada 70 da avenida Dorival de Oliveira que Alemão começou a vida atrás do balcão.

 

: Alemão no colo do pai: parceria de todos os dias

 

No caderninho

 

– Lembro que em diferentes dias e horários, íamos num Chevette velho até a Morada do Vale, o pai estacionava na frente de uma padaria que tinha lá e começava a anotar o número de clientes. Depois, rodávamos o bairro olhando terrenos – recorda Alemão.

– Ele estava fazendo uma pesquisa de mercado.

Assim surgiu, há 26 anos, a Ki-Pão, que há 10 anos incorporou a maior concorrente, a Roma.

– Chegávamos a vender 12 mil cacetinhos. Às vezes até faltava, tinha que dar senha. Eu ia até a fila e perguntava aos clientes quantos pães queriam. Era uma das únicas padarias da região – lembra.

 

: Alemão com o irmão e companheiro Dieverson

 

Sem tempo para brincar

 

O ritmo de trabalho fez com que a família, que morava na rua 25 de Abril, na parada 61, instalasse junto ao comércio da Morada do Vale uma pequena casa para o pai dormir um pouco mais.

– Ele descansava no máximo 3h por noite – lembra Alemão, que responde assim à pergunta sobre o que fazia para se divertir quando era criança:

– Não tinha tempo para brincar.

– Vida de filho de comerciante é assim. Jogava bolitas com os amigos até uns 8 anos. Depois dessa idade, era trabalho e trabalho, até a kombi buscar para levar à escola Santa Rita.

Aos 15 anos, Alemão chegou a ser premiado num concurso do Senai de confeitaria e padaria, onde apresentou seu pão caseiro, brioches e quindim.

Adolescente, cursou Direito na Ulbra, mas dois anos depois ainda não tinha conseguido achar uma relação prática do curso com sua vida.

– Fui para a Administração. Me formei e hoje faço uma pós em Gestão Pública.

 

O jingle chiclé e o bonecão

 

Muitos lances da campanha de Alemão a vereador ficaram na memória de quem acompanhou a eleição em Gravataí. Como a música da campanha e um bonecão dele, que circulava a cidade quase sempre em cima de uma caminhonete amarela.

– Quando me mostraram o jingle não gostei. Aí disseram: “usa que é um chiclé!”. E pegou mesmo. Um cara que eu nem conhecia veio copiar o cd porque os filhos dele queriam tocar a música no carro.

– E o boneco encantou tanto as crianças que pediam para a gente parar e bater fotos com ele. Não esqueço um menino que veio até o caixa e me pediu um autógrafo. Eu estranhei e ele disse: “tu é famoso, vi teu boneco” – ri.

– Adoro a pureza das crianças. Quem dera os adultos fossem assim.

 

Levando na boa

 

Alemão tem uma receita para não deixar a política atrapalhar os negócios:

– Não misturar as coisas e levar na boa, entender o comportamento das pessoas, tanto as que te criticam por interesse político, quanto as que querem soluções para coisas que, por vezes, estão fora do teu alcance.

Eleito vice-prefeito, ele já dá uma garantia: seu gabinete será na Morada do Vale.

 

: Alemão, que já foi premiado por seus doces, tira a política da receita dos negócios

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO ALEMÃO:

“Apresentei projetos para provocar o debate, como o de adoção de praças; a regulamentação do uso de containers nas ruas; a instalação de ar condicionado nos ônibus; a instalação de abrigos nas paradas; e a proibição de inauguração de obras públicas inacabadas. Fora do mandato, criei o projeto Saúde na Praça, onde três vezes por semana um professor de Educação Física dá aula para quem quiser participar na praça ambiental da Morada. E também coloquei lixeiras ecológicas em 80 pontos do bairro, mas fui autuado e precisei retirá-las. Acabei doando a quem me pediu pelo Face”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“Ter perdido alguns amigos, principalmente em mudanças na equipe, seja pelas relações e necessidade de trabalho, ou por questões partidárias”.

 

O ALEMÃO PELO ALEMÃO, EM UMA PALAVRA:

“Motivado”.

 

OS PLANOS DO ALEMÃO:

“Administrar melhor meu tempo para conviver mais com a família. O tempo voa, minha filha já está com 12 anos, daqui a pouco aparece de namorado e sou bem ciumento hehe”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“É uma das coisas que mais escuto. Peço que não deixe morrer a esperança. Nas famílias, em todas as atividades, há pessoas boas e outras que cometem falhas. Peço que busquem informações sobre os políticos para confiar nas pessoas certas”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO ALEMÃO:

“Ultimamente, Maurício Macri, novo presidente da Argentina”.

 

O CANDIDATO A PREFEITO DO ALEMÃO:

“Levi Melo”.

 

O SELFIE DA CAPA

Na série de perfis com os 21 vereadores eleitos, para a chamada de capa o SEGUINTE: pediu que cada um fizesse um selfie, em um lugar que considera simbólico da cidade. ALEMÃO DA KIPÃO fez o seu na ginástica que promove no Parcão da Morada.

 

: Selfie que Alemão tirou para ilustrar a capa do perfil é em seu projeto de ginástica no Parcão da MV

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