Aceitável é, entre a comunidade leiga, o pânico após a confirmação de que dois profissionais de saúde da UPA de Gravataí testaram positivo para COVID-19. Impossível, porém, ‘fechar o SUS’ em Gravataí. Sejam ‘bem-vindos’ ao mundo do novo coronavírus. Busquei algumas informações que, se não tranquilizam, permitem um ‘contágio de realidade’.
Nesta sexta, o digital influencer Odair Goulart publicou a ‘denúncia’ no Acorda Gravataí, sua comunidade no Facebook. À noite, a Secretaria Municipal da Saúde divulgou nota, que tratei em Prefeitura descarta surto da COVID 19 na UPA de Gravataí; há dois profissionais infectados.
Entre ‘culpados ou inocentes’, há um inimigo invisível, cuja picada não é a única ameaça – o medo dessa cobra silenciosa também mata.
Comecemos pela ‘picada’. Os profissionais estão afastados. Todos que tiveram contato com os dois serão submetidos aos testes rápidos oferecidos pelo Ministério da Saúde e repassados às prefeituras pela Secretaria Estadual da Saúde.
É uma testagem cuja eficácia é considerada a partir do 10º dia para quem apresenta sintomas, ou do 15º para pacientes assintomáticos. Responsáveis técnicos pela UPA já estão montando uma escala para fazer a testagem correta conforme o período de contato com os infectados.
Os testes serão aplicados conforme este protocolo, que é o mesmo para todos os serviços de saúde. O Grupo Hospitalar Conceição e o Moinhos de Vento, para usar exemplos de hospitais públicos e privados, já registraram dezenas de profissionais com a COVID-19 e seguiram o mesmo protocolo – sem testar os milhares de funcionários, que passam pela mesma porta, digitam o mesmo relógio ponto, usam os mesmos refeitórios e, também, banheiros.
Para efeitos de comparação, 30%, ou 3 a cada 10, dos casos de moradores de Gravataí com a COVID-19 são de profissionais de saúde, que atuam nas redes públicas e privada, no município ou fora dele. São 11 em 36.
– Infelizmente, os serviços de saúde e o transporte coletivo são potenciais transmissores. Não é uma surpresa para quem estuda o comportamento do vírus – resume o secretário da Saúde Jean Torman.
Gravataí já teve profissionais de saúde com COVID-19 em pelo menos duas unidades da saúde de regiões populosas, o mesmo protocolo foi seguido e, já passado o período de contaminação, ninguém foi infectado conforme registros da Secretaria da Saúde.
Sobre a suposta falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) na UPA, a empresa responsável tem os recibos de entrega aos funcionários, conforme a SMS.
Mas, para além da ‘picada’ do vírus, há também uma consequência: o ‘medo que mata’.
Até o Carnaval, a média de atendimentos diários na UPA e no Pronto Atendimento 24H era de 700 pessoas por dia em cada um dos serviços. Nesta semana, menos de 100 pessoas procuraram o SUS diariamente. Os exames de diagnóstico caíram 80%. Se antes faltavam consultas, hoje sobram. É só chegar e, ou esperar um pouco, ou já ser atendido – isso com uma redução de 50% nas ‘fichas’ para casos não relacionados à COVID-19.
O risco do pânico é que pessoas que precisam de tratamento deixem de buscar o SUS. Não só com sintomas da COVID-19, mas também por outras doenças graves ou que precisam de diagnóstico, tratamento e acompanhamento periódico.
A Secretaria da Saúde investiga três óbitos recentes. Em dois deles, pacientes não teriam procurado atendimento em crises agudas de apendicite. Em outro, uma criança faleceu por meningite.
Inegável é que preocupa a UPA ter dois profissionais de saúde contaminados, como também o metalúrgico, clientes dos supers e do comércio local, e usuários do transporte coletivo infectados. A Prefeitura até pode descartar um surto ‘hoje’, mas ‘amanhã’, só a evolução dos casos e a testagem confirmará – da mesma forma que os casos avançam ‘fora da UPA’, e tratei em Casos da COVID 19 devem dobrar este mês em Gravataí; saiba em que bairros estão, o sexo e a idade dos infectados.
Ao fim, é a realidade da COVID-19. O que escapa da lógica é ter quase 100 mil pessoas a mais consumindo em comércios reabertos, e fazer um ‘lockdown’ na UPA, ou ‘fechar o SUS’. Ao menos, por enquanto. O que é uma tragédia é gente morrer de véspera, fugindo do coronavírus e indo a óbito por apendicite.
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