perfil Carlito Nicolait

O tecnopolítico

Carlito no Ministério da Saúde apresentando projeto de um hospital regional

Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Carlito Nicolait. Ele trabalha a mistura da técnica com a política.

 

– Cuida com a pilha do Carlito, porque o Carlito é de Gravataí!

Mais de uma vez Carlito Nicolait ouviu essa frase, quando representava o Senai num grupo criado pela Fiergs, na metade dos anos 90, para a captação de montadoras para o Rio Grande do Sul. E lá dizia que Gravataí tinha potencialidades muito maiores do que Guaíba, por exemplo.

– Eu brincava que, além da logística, água, energia e formação profissional, havia vocação no DNA da aldeia: se no passado os índios faziam canoas de folhas e goma, agora poderíamos fazer carros.

Carlito, que era técnico em educação do Senai naquele 1995, em que efervescia a possibilidade da Mercedes Benz se instalar no Estado, cinco anos depois participou, num 15 de julho, da inauguração da General Motors em Gravataí, como chefe de gabinete do prefeito Daniel Bordignon (PT).

 

Maragatos e chimangos

 

A migração da iniciativa privada para a vida pública veio justamente de uma identificação com o PT, que lhe custou o afastamento de funções estratégicas nas entidades empresariais. Era um momento de guerra ideológica na política gaúcha, de neomaragatos e neochimangos, da peleia entre o gremista Antônio Britto e o colorado Olívio Dutra.

– Acho que o que me faz um político diferente é que comecei como um quadro técnico e construí meu espaço político. Não sou um tecnocrata, e nem penso apenas no voto – resume o ‘tecnopolítico’.

O carro que estacionava na Fiergs, com uma bandeirinha do PT de cada lado, logo arrumou vaga por mais de três anos em frente à Secretaria da Fazenda de Gravataí. Num período de regularização das finanças, a Prefeitura pagou pela primeira vez o INSS, uma guia de 1967, para dar um exemplo.

– Foi um governo como nunca se viu, com 90% de aprovação nas pesquisas, do qual me orgulho de ter sido um dos principais gerentes. Bordignon encerrou o mandato e havia 50 obras para inaugurar ainda.

– E era um governo onde a notícia de um simples buraco na rua já gerava uma providência para aquela comunidade – recorda.

Mesmo entre as turbulências do governo seguinte do partido, sob o comando de Sérgio Stasinski (um dos primeiros a lhe convidar para entrar no PT em 1986), Carlito deu as cartas na Secretaria da Saúde.

– Quando assumi como secretário, a saúde era o principal problema detectado nas pesquisas. Quando saí, era o quinto. Uma mamografia que demorava três anos passou a ser feita em 20 dias, e o agendamento de consultas a qualquer hora do dia tirou idosos das filas nas madrugadas. Criamos mais de 15 serviços – exemplifica.

No período, foi inaugurado o Pronto Atendimento 24 Horas.

– O investimento percentual era menor do que hoje, em relação ao orçamento, mas os serviços eram melhores. Em saúde é preciso gestão, não só mais dinheiro – defende.

 

: Carlito (com a bancada 'extinta' do PT), está pela primeira vez definitivamente longe de Bordignon 

 

Mais votado da história

 

Com uma grande estrutura, o slogan “um homem de confiança” e a foto ao lado de Bordignon circulando em panfletos e adesivos nas traseiras de carros, sua primeira campanha explorava explicitamente a relação com o ex-prefeito. Como resultado, 5.002 votos fizeram de Carlito o vereador mais votado da história de Gravataí.

Essa fidelidade da época, Carlito provou na prática: ficou ao lado de Bordignon, quando o deputado estadual tentou voltar ao comando da Prefeitura em 2008, e houve o rompimento com o então prefeito Stasinski. Apesar de sinalizações de bastidores para ser o vice de Stasinski, quando a candidatura foi impugnada pela justiça eleitoral, a uma semana das eleições, Carlito seguiu Bordignon no apoio a vereadora Rita Sanco (PT) como candidata a prefeita.

 

: Carlito, na foto em campanha, fez 5.002 votos, a maior votação da história de Gravataí

 

O golpe

 

Durante o governo de Rita, Carlito presidiu a Câmara e, ao lado de Tânia Ferreira (PT), foi das principais vozes na Câmara contra o impeachment confirmado dois anos e 10 meses depois.

– Foi um golpe – resume Carlito que, de lá para cá, usa da experiência administrativa e política para ser um gravatá no sapato dos governos de Acimar da Silva e de Marco Alba (PMDB).

Quando sobe à tribuna e, sem nunca alterar a voz, inicia o discurso com um “vamos lá…”, sabe-se que vem alguma polêmica, que ele vai mirar em um alvo do governo, ou quase sempre o próprio prefeito. O que o tornará, também, foco do revide dos vereadores governistas.

– Faço cobranças duras, mas também sou um propositor de alternativas e projetos – pondera.

 

: Carlito é na Câmara um dos mais experientes e duros críticos dos governos do PMDB

 

Tchau, PT

 

Carlito também deixou o PT, que ficou reduzido a nada na Câmara.

– A conjuntura nacional influenciou sim. As práticas da direção nacional levaram o partido a trair princípios fundamentais.

– Não militei por 30 anos para ficar quieto e aceitando a tudo passivamente neste momento – argumenta.

Carlito se filiou ao PSB, de Anabel Lorenzi, candidata a prefeita. É o primeiro momento de sua trajetória política em que está definitivamente longe de Bordignon – houve um breve afastamento nas eleições internas do PT, em 2013, quando ajudou o também vereador Alex Peixe ser eleito presidente. Polido, Carlito só permite observar nas entrelinhas o desgaste na relação entre os dois.

– O quadro aqui no PT municipal era complexo. Eu tinha aprendido a conviver com algumas coisas…

– Agora fiz uma opção tranquila, por um partido com o qual sinto identificação ideológica, orgânico, sem donos, e que tem uma candidatura forte à Prefeitura – explica.

 

: Carlito, ao lado de Miki Breier, ganha a pomba símbolo do PSB de Anabel Lorenzi

 

O tiro e Deus

 

É preciso voltar a 2012 para entender uma outra mudança fundamental na vida de Carlito. Naquele ano, a reeleição veio com uma queda na popularidade: 1.612 votos. Uma das explicações, ele encontra na estratégia que diz ter combinado com o partido: 14 apoiadores seus de 2008 concorreram em 2012.

A outra justificativa, que quase lhe tirou a vida, também mudou sua existência. No ano da eleição, no início da noite da quarta-feira, 1º de agosto, Carlito foi baleado no pé, num ataque até hoje não esclarecido a um bar da Cohab onde ele conversava com a proprietária, sua eleitora.

– Tentei seguir normalmente na campanha, até passar mal e ser advertido pelos médicos que poderia perder o pé! Só consegui retornar às ruas, de muletas, no fim de setembro, a dias da eleição – recorda.

– Mas aquilo foi o despertar para a necessidade de ter Deus na minha vida. Ele me livrou da morte. Eu estava ferido no chão e quando fiquei na mira, o revólver falhou.

Do batismo na igreja católica, à adolescência como ateu, e a curiosidade com o espiritismo, Carlito assumiu a opção pela igreja evangélica. E hoje forma com uma fiel, a conselheira tutelar Sônia, uma grande família, com os filhos dele, Pedro (18) e Maria (15), e dela, Emanuele (10), Pietro (7) e Valentina (2).

 

: Carlito fazendo campanha de muletas quando se recuperava do tiro no pé

 

Um pouco da história – e das histórias – do Carlito:

 

Carlito Nicolait de Mattos nasceu em Cachoeirinha, em 6 de junho de 1968. O pai, João de Mattos, era construtor. A mãe, Vanda Nicolait, era metalúrgica no Zivi. Viveu até os três anos na parada 52, numa época em que a região era um grande campo, e depois até os seis na Rua da Várzea, em Porto Alegre, onde lembra os aviões fazerem a casa tremer quando alinhavam para o pouso na pista do Aeroporto Salgado Filho. Os pais separaram e uma nova família se formou em torno de Carlito e dos irmãos Luis Carlos, João Batista e Roberto.

– Lealcino Silveira Dias, meu padrasto, é quem eu chamo de pai. Faleceu em 12 de junho de 1997, no dia do nascimento do meu primeiro filho. Uma das coisas mais estranhas da minha vida foi o velório: chorava pelo pai e sorria quando perguntavam do nascimento do Pedro – emociona-se.

 

 

Olhos de periferia

 

Foi o ‘pai’ Lealcino quem achou um terreno que conseguia pagar, e onde construiu um lar, na Vila União, em Gravataí, onde a mãe de Carlito mora até hoje.

– As ruas eram abertas por patrolas e demorou seis meses para ter água e luz – lembra.

Era uma época onde ruas do Centro não tinham asfalto. E não existiam ainda as Cohabs, nem a Morada do Vale. Gravataí tinha pouco mais de 35 mil habitantes. Três tambos de leite, nas paradas 68, 72 e 74, decoravam a paisagem de uma rua estreita, a hoje avenida Dorival de Oliveira.

– Assisti da periferia a explosão da cidade. Guardo sempre em mim essa origem. Por isso tenho como referência que os governos têm que fazer primeiro as coisas para aqueles que mais precisam – argumenta.

Carlito estudou na Escola Rural de Contendas da Caveira (três salas de madeira que ficavam onde hoje é a escola Salvador Canellas Sobrinho, trazidas por um professor da região da Caveira até a Castelo Branco), e no Polivalente, Josefina Becker e Gensa, além do Senai. A graduação com habilitação em Informática, Eletrônica e Desenho fez no Instituto Federal de Educação, e a especialização em Administração, concluiu na Unisinos.

 

: Aos 8 anos na Escola Rural da Contendas da Caveira, mesma época em que começou a trabalhar 

 

Do picolé à Fiergs

 

Carlito trabalhou desde os oito anos.

– Com uma caixa de isopor a tiracolo e uma corneta, vendia picolé e rapadura.

Dos 10 aos 13 anos, se encantou por motores e eletrônica dando uma mão para o “seu Anibal”, na oficina mecânica da rua Cruzeiro do Sul.

Mas foi uma experiência de seis meses numa confeitaria do bairro Praia de Belas, em Porto Alegre, que lhe rendeu a primeira carteira assinada, como aprendiz de padeiro, no Nacional da parada 79, em Gravataí.

Um episódio o fez confirmar que essa não era sua praia. Certa manhã, a falta do padeiro da 67 fez com que Carlito fosse deslocado até lá.

– Às 15h, quando o seu Antônio chegou para ver como estava me virando, eu varria o chão e já estava saindo uma última fornada dos 400 kg de pão que tinha feito.

O diálogo foi mais ou menos assim:

– Fez tudo sozinho?

– Sim, tinha que fazer né?

– Não quer ser chefe da padaria?

– Não quero ser padeiro.

E foi vender livros, de porta em porta. De Bíblia a Enciclopédia Barsa.

– Quando descobri que, das 15 parcelas que as pessoas pagavam, uma custeava o livro, outra a comissão, e o resto era lucro dos caras, parei – diverte-se.

Tinha 15 anos e foi tentar a sorte no Senai da av. Mauá, na Capital. De cerca de mil inscritos para 12 vagas, ficou em sexto.

– Ali minha vida mudou.

Numa família que teve poucas oportunidades de estudo, Carlito iniciava sua formação em eletricidade e eletrônica.

Para se manter trabalhou em uma empresa de alarmes em Porto Alegre, e também como auxiliar de eletricista na Madepan, em Gravataí. Durante as férias, foi servente de pedreiro do pai, em obras no Litoral Norte.

Em 89, no dia de seu aniversário, viu um anúncio na ZH abrindo duas vagas como instrutor no Senai Gravataí.

– Consegui: comecei com 20h e logo estava lecionando 40h – orgulha-se.

Em 92, a gerência distribuiu um manual didático elaborado pelo Senai em Porto Alegre. Carlito mostrou um, feito por ele à mão, que usava nas suas aulas de bobinagem, eletricidade industrial e eletrônica.

– Gostaram tanto que me pagaram um curso de graduação.

Como Técnico em Educação, viajava o país colaborando na elaboração de programas de capacitação como os do Telecurso 2000 e do Canal Futura.

– Em 1994, quando a única coisa que existia em EAD (educação à distância) eram aqueles livretos do Instituto Universal Brasileiro, apresentei um projeto ao Senai. Foi o início de um debate que levou à criação, em 98, do técnico em Mecatrônica no Ney Damasceno, em Gravataí.

Foi esse conhecimento adquirido sobre a realidade da indústria em Gravataí e na região que o levou ao grupo criado pela Fiergs para apresentar às montadoras as potencialidades do RS.

 

: Carlito professor do Senai, aos 21 anos e, conforme ele, "40 quilos a menos"

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO CARLITO:

“Vou citar a creche do idoso, que permitiria uma melhor convivência para a terceira idade; o BBB Gravataí, onde são dados incentivos para comerciantes instalarem câmeras, desde que apontem uma para a rua, o que facilitaria a identificação de crimes; a compensação ambiental, com o plantio de árvores a cada unidade habitacional construída; o programa de reutilização da água; o uso do pavs para ruas de trânsito local; e o Acolhe, que prevê bolsa para familiar cuidar de crianças afastadas dos pais, ideia que tive após saber de caso em que rapaz de 18 anos saiu do abrigo e depois voltou buscar a irmã de 16. Na nova casa, foi a primeira vez em que ela entrou sozinha num super”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“Não ter cursado Direito”.

 

O CARLITO PELO CARLITO, EM UMA PALAVRA:

“Vou inventar: RealizaSonho, uma mistura de realizador com sonhador”.

 

OS PLANOS DO CARLITO:

“Ajudar a cidade a recuperar tudo que havia sido construído e se perdeu”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“A existência de boas e más pessoas é a síntese da vida, seja na política, no trabalho, na escola ou na família. Peço três minutos para mostrar realizações e boas intenções, e sempre convido a participar da política”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO CARLITO:

“Nelson Mandela”.

 

O(A) CANDIDATO(A) A PREFEITO(A) DO CARLITO:

“Anabel Lorenzi”.

 

O SELFIE DA CAPA

Na série de perfis com os 21 vereadores eleitos, para a chamada de capa o SEGUINTE: pediu que cada um fizesse um selfie, em um lugar que considera simbólico da cidade. CARLITO NICOLAIT fez o seu no Morro Itacolomi.

 

: O selfie que ilustra a capa do perfil de Carlito no SEGUINTE: foi tirada no Morro Itacolomi

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade