Meu filho Augusto tinha três anos quando isto aconteceu.
Eu cheguei em casa e dei-lhe aquele abraço… Tinha passado o dia fora. Então, como já era noite, sentei-me direto no chão para brincar e para saber do seu dia.
E eis que ele, ao ver uma propaganda de fogõezinhos e panelinhas de brinquedo, me disse:
– Compra um pra mim, mamãe! Compra um fogãozinho pra mim fazer comida pra ti!
Aquilo causou-me espanto. Embora eu tenha dito "ah, que legal, tu vai fazer comida pra mim?", acabei despistando, falando sobre outra coisa.
Como eu fui estúpida.
Mesmo sem saber, estamos inundados de preconceitos. Foi uma situação ridícula aquela. Algo lá no meu inconsciente saltou sobre mim com aquela premissa de que meninos brincam com carrinhos e meninas brincam com panelinhas. O discurso que eu dei, muitas vezes, de que marido tem de dividir tarefas e não simplesmente ‘ajudar’, ficou tão vazio… Pela minha própria desatenção.
Mas, ainda bem, meu raciocínio brilhou. E aí olhei para a minha cozinha de verdade: o Augusto estava copiando seu pai, que fazia a janta. Quando eu me dei conta disso, senti-me envergonhada. Ainda bem que tive tempo de corrigir. Então, disse:
– Filho, a mãe não tem como comprar uma cozinha de brinquedo pra ti agora, mas vamos fazer uma, então! Assim, tu também ajuda o papai e a mamãe.
Peguei caixa, tesoura, cola e canetinhas, e lá fomos nós. O fogãozinho teve direito até a portinha frontal para imitar o forno.
Depois de pronto, meu guri fritou umas pecinhas de montar, assou sua massinha de modelar, serviu minha janta e pronto. Guardou tudo e foi brincar de outra coisa. Tudo estava resolvido. A curiosidade dele, saciada.
E eu tive uma bela lição.
Aliás, essa é uma das vantagens de ter um segundo filho: Augusto me ensinou a ser mãe. Artur vai se beneficiar disso, em alguns aspectos, mas com ele vou aprender muitas outras coisas.
O constante aprendizado é o bonito desta vida.