Ah, o tempo, esse sujeito apressado. No ano que vem, um guri que estava com 10 anos em 2013 estará chegando aos 20 sem saber direito que no inverno de uma década antes os jovens saíram às ruas e que depois…
Bem, depois a Globo se apropriou das passeatas que não eram só pelos 20 centavos do aumento da passagem de ônibus e deu no que deu em agosto de 2016. Derrubaram Dilma. E depois prenderam Lula e inventaram Bolsonaro.
Quem estiver fazendo 33 anos em 2023, estava nascendo em 1990, quando Alceu Collares foi eleito governador do Rio Grande do Sul.
O primeiro governador negro do Estado. Há trinta e três anos. Foi o maior atrevimento da política gaúcha. Mas depois da eleição de Collares nunca mais um gesto daquele tamanho se repetiu para a afirmação dos negros e para afrontar os racistas.
Em 2002, quando Lula foi eleito, jovens que estão agora fazendo o primeiro título, porque chegaram aos 16 anos, nem existiam. Só iriam nascer quatro anos depois.
Uma guria de 18 anos, que participou da sua primeira passeata esses dias em Porto Alegre, nasceu no ano em que Brizola morreu.
Quando o Brasil foi às ruas em 1984 pelas Diretas, Emicida não havia nascido. Anitta nasceu um ano depois dos caras pintadas do Fora Collor, de 1992, o ano em que Neymar veio ao mundo.
Manuela D’Avila tinha um ano em 1982, quando Luiz Inácio da Silva passou a usar o apelido Lula no nome. E tem gente da geração Y, a geração de Manuela, que já é avó.
Em uma crônica de 2006, na Folha, Carlos Heitor Cony citou Machado de Assis para falar da velhice: “No meu tempo, já existiam velhos, mas poucos”.
Hoje existem velhos, mas muitos, e todos passaram a chamar velhos de idosos, porque é socialmente correto e ameniza o impacto da palavra e da realidade de um mundo com cada vez mais gente idosa.
Chitãozinho tem 68 anos. Xuxa faz 60 anos no ano que vem. Renato Russo estaria agora com 62 anos.
Gente que existe desde o ano do golpe de 1964 será daqui a pouco um idoso. Quem está com 27 anos nasceu no ano em que inventaram o DVD, que nem existe mais.
Os jovens dizem hoje o que os jovens do século 20 não diziam. Que o tempo anda rápido demais. No século 20, o tempo se submetia à velocidade da nossa eternidade.
O tempo do século 19, dos velhos de Machado de Assis, nem se mexia, nem mesmo para os muito velhos.
O tempo da pandemia, de Bolsonaro, do fascismo, do ódio, anda a trote, mas parece não sair do lugar.
Estaremos daqui a pouco completando quatro anos sob o domínio da violência, do medo, de milicianos, de militares ameaçadores.
Que esse tempo passe logo, que termine ainda este ano, e que todos os personagens dessa época sejam trancafiados no porão úmido da História, mas nunca sejam esquecidos.