O Relógio Mundial da População registra o número de nascimentos e mortes em tempo real. Quando abri o site, às 9 horas da manhã de hoje, 3.469 brasileirinhos e brasileirinhas já haviam nascido. Morreram, naquelas poucas horas do dia, 1.388 pessoas de todas as idades. Enquanto escrevo e você me lê, a vida lá fora acontece. Quantas alegrias acompanham os nascimentos? Quanta dor carregam os que perderam seus amores para a morte?
Não são apenas números frios em uma tela do computador. São histórias de vida e nem todas são belas. Os dados não indicam quais foram ceifadas pela violência. São outras as estatísticas que mostram, por exemplo, a ocorrência de 60 mil homicídios no ano passado e as vítimas – 60% – são jovens. Penso nas emoções de cada mãe acompanhando a gravidez, da hora do parto e, depois, da partida abrupta.
Você pode achar que muitos deles são bandidos e que bandidos merecem morrer. Acredito em justiça, não em vingança. Estamos no século 21 e as leis, mesmo com falhas, devem ser respeitadas. Acredito que nenhuma mãe precisa dessa dor tão cruel. Por isso, as mortes de jovens nas guerras entre gangues não deveriam acontecer. Por isso, a ação policial deve ser compatível com a natureza do confronto, com a reação dos meliantes, com o risco que corre o agente da lei. Não precisamos de justiceiros, fardados ou não.
Enquanto escrevo, o tic-tac do relógio avança duas horas. Mais seiscentos brasileiros morreram. Quantos deles foram vitimados pela violência no trânsito, na luta por territórios de drogas, na vilania de um assalto, na estupidez de uma briga banal? Quantas dessas tragédias poderiam ter sido evitadas? O que podemos fazer para diminuir esses números tão dramáticos?
Sou uma chata que está sempre batendo na mesma tecla. Precisamos mais humanidade, olhar o outro com respeito. Precisamos, cada vez mais, ter olhos para ver, ouvidos para ouvir, cérebro para raciocinar e, principalmente, coração para sentir.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac…