Confiante de que terá os votos validados na decisão que o TSE deve tomar até o final do mês, Daniel Bordignon (PDT) fala da dureza desta campanha, das articulações políticas e do que seria sua principal diferença neste governo: o diálogo
Na segunda-feira pela manhã, o professor Daniel Bordignon pode ser visto de novo no pátio da escola Carlos Bina, no Parque dos Anjos, onde dá aula de História desde que deixou o mandato de deputado estadual no final de janeiro de 2015. Seria o primeiro dia de aula desde que entrou em licença para disputar as eleições, encerradas no domingo.
– Tem que registrar o ponto na escola senão… – conta, enquanto preparava a cafeteira para um café, terça de tarde, emendando o assunto da crise financeira do Estado e a dificuldade dos servidores que recebem parcelado os salários mês após mês.
No domingo, votaram em Bordignon 45.374 eleitores – mesmo sabendo que a situação de seu registro de candidato ainda está pendente de uma decisão da justiça. São 12 mil a mais do que o segundo colocado, Marco Alba (PMDB), que teve os votos validados pelo TSE ao final da apuração.
– O Tribunal não vai julgar contra a lei, estamos seguros disso. Vai confirmar os nossos votos e dia 1º de janeiro vou assumir o governo – diz, demonstrando confiança.
O caso de Bordignon é um dos mais emblemáticos da política contemporânea. Líder carismático, conseguiu a maior votação entre os concorrentes mesmo com o registro de sua candidatura sub judice desde o dia 21 de setembro, quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) decidiu por unanimidade a sua impugnação.
– Não esperávamos essa decisão do TRE. Mas ali, naquela noite, eu decidi que não deixaria me abater.
A campanha seguiu. Bordignon também. E a política?
– Foi uma campanha dura, sofremos muitos ataques. Pau e pedra – conta Bordignon, falando da falta de recursos, outra constante desta eleição.
Pronto para o diálogo
Em todo o discurso de Bordignon, duas palavras se encadeiam: retomada e diálogo.
– Vivíamos isso em 1996, essa sensação de desesperança.
Para ele, a votação que obteve no último domingo vem da vontade das pessoas em retomar um estado de bem-estar, de exercício da cidadania e de diálogo.
– O Orçamento Participativo era isso. Não só participação. Tem que ter orçamento também – lembra, explicando que o dinheiro precisa ser aplicado de fato nas prioridades decididas pelas pessoas.
– Senão, perde a credibilidade.
Andanças
– O que eu mais ouvi na cidade é que o governo é ausente.
Assumindo o cargo, isso muda – promete ele.
– Quando eu era prefeito, era o último a sair das plenárias do OP. Todos, todos que quisessem falar com o prefeito, falavam.
Articulações
Mesmo a espera da decisão do TSE, que deve ser tomada antes do final do mês, Bordignon segue ligado à política da aldeia. Garante que ainda não pensa na montagem do governo, em respeito ao trâmite judicial que ainda precisa ser cumprido para saber se será o prefeito da cidade, mas deixa escapar que, em seu celular, já estão os números dos telefones de todos os vereadores eleitos.
– Com a Câmara, nós teremos uma relação exemplar. Com todos. Como era no meu governo. Até da oposição.
Estaria aí um sinal de aproximação com partidos que o enfrentaram nas urnas?
– Diálogo teremos. A exceção do PMDB, que comanda o atual governo, com todos os outros podemos compor.
A fala sugere que Bordignon tentará construir uma com o PSD e o PSB – embora haja resistências de parte a parte com os socialistas depois que as campanhas trocaram farpas grossas e até confrontos isolados aconteceram por conta da posição de cada um.
Seria também uma isca para, em caso de uma eventual nova eleição, ampliar o campo de alianças do PDT para enfrentar Marco Alba nas urnas de novo?
– Confio no TSE, os votos serão validados. Quem fala em nova eleição é mais por sobrevivência política e eles sabem disso.
– Se houver uma nova eleição, o PDT terá as suas posições – finaliza.