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O turbulento caminho do fim das viagens de vereadores

Sessão teve participação acima do normal após convocação via grupos de facebook

As viagens dos vereadores são pauta reeleita legislatura após legislatura na Câmara de Gravataí, que ao liberar R$ 1 milhão em diárias e passagens entre 2013 e 2016 gastou mais do que o legislativo da megalópole São Paulo.

Na sessão que até altas horas desta terça-feira consumiu milhagens e milhagens em acalorados debates, sob aplausos e apupos de um surpreendente público convocado pelo facebook, a polêmica fez check-in após a revelação da existência de um parecer contrário da Comissão de Justiça e Redação ao projeto de Dilamar Soares (PSD) que restringe as viagens e taxia para entrar na pauta de votações da sessão de quinta-feira.

– Estão tentando barrar o fim das viagens – alertou Paulo Silveira (PSB), que ao lado do autor Dilamar, de Carlos Fonseca (PSB), de Dimas Costa (PSD) e de Paulinho da Farmácia (PMDB), foi entre os 21 vereadores um dos cinco únicos (e todos reeleitos) que não embolsaram diárias nos últimos quatro anos.

Apesar de não despressurizar completamente o CâmaraTur, por deixar brechas para viagens onde o vereador é representante do poder em frentes parlamentares, por exemplo, o projeto proíbe a Câmara de custear despesas com as já tradicionais turnês de cinco dias para congressos, seminários e cursos de aperfeiçoamento e capacitação para vereadores.

O parlamentar pode até viajar sem desconto no salário pelos dias fora da cidade, mas precisa pagar suas próprias passagens aéreas, diárias de hospedagem, alimentação e inscrições.

 

Parecer tentou barrar

 

O parecer da CJR, que entrou no sistema da Câmara dia 16, mas só foi detectado no transponder durante a sessão, foi assinado pelos vereadores Evandro Soares (DEM) – campeão de viagens na legislatura passada com um custo total para a Câmara de R$ 75.339,93 – e Alan Vieira (PMDB), o que menos gastou entre os 16 que viajaram com R$ 35.899,64.

– O parecer foi técnico. É diferente de uma posição política. O plenário vai decidir se entra ou não em votação. Se entrar, minha tendência é votar a favor do fim das viagens – argumenta Alan, presidente da Comissão, cujo parecer no voto grafa “desfavorável, não devendo ser encaminhado ao plenário para votação”, sob a justificativa que “ao vedar o custeio de cursos de aperfeiçoamento e capacitação, impõe uma barreira ao necessário aperfeiçoamento técnico dos parlamentares, algo absolutamente necessário para o bom desempenho das funções de legislar e fiscalizar”.

Mesmo com o parecer contrário, o projeto poderá ir à pauta de votações devido ao parecer em separado feito na CJR pelo estreante Demétrio Tafras (PDT), que considera que a proposição “não apresenta óbice legal quanto à forma, origem e constitucionalidade”.

Se Demétrio seguisse o presidente e o relator da Comissão, o projeto não poderia ser votado em plenário.

 

Acima de governo e oposição

 

A polêmica viaja em altitude de cruzeiro por sobre a divisão das bancadas entre governo e oposição. Minutos antes do bate-boca decolar durante a sessão, um parecer da Comissão de Finanças e Orçamento deu ok para o projeto entrar em votação na quinta.

Aliando dois governistas, o estreante Jô da Farmácia (PTB) e o vereador mais votado da cidade, Paulinho da Farmácia (PMDB), a um oposicionista, o também debutante Wagner Padilha (PSB), o parecer favorável sustenta nos principais trechos que o projeto “é pertinente tendo em vista que visa atender a princípio da economicidade pública” e “encontra amparo, uma vez que pretende lançar austeridade financeira num momento em que o cenário socioeconômico é instável e impõe restrição de gastos”.

– Não é uma questão de governo, é uma questão de princípios. Sempre votei contra diárias e vou votar a favor do projeto – resumiu Paulinho da Farmácia, que em seus quatro anos e três meses de mandato ajudou a aprovar uma única viagem, de Roberto Andrade (PP) a Brasília, na audiência pública pela troca da praça do pedágio, realizada sem o pagamento de diárias, apenas as passagens.

 

Rasante sobre salários e CCs

 

Como um AirBus A380, o presidente interino da Câmara Alex Tavares (PMDB), que com R$ 70.468,38 foi o terceiro que mais custou em viagens e, após a reeleição anunciou que não viajaria mais, pousou no debate propondo “passar a limpo” todos os gastos do legislativo.

– Sou parceiro para discutir, sem demagogia, as viagens, mas também os salários dos vereadores (R$ 10 mil) e os CCs – provocou.

– Sou contra reduzir o salário dos vereadores e os três CCs por gabinete – respondeu Dilamar, antevendo dias de turbulência na discussão sobre o fim das viagens.

 

Da caixa-preta

 

Como vereadores devem se revezar em pedidos de vistas, adiando a votação, a caixa preta dos votos a favor e contra não deve ser aberta na quinta, quando o projeto entra na ordem do dia.

E, informalmente e com pedidos de sigilo, a ‘investigação de desastres aéreos’ do Seguinte: apurou que podemos ter um empate.

Aí, possivelmente o fim das viagens será abatido durante o vôo, já que o voto de desempate caberia à Presidência da Câmara. Que até a votação já deve estar ocupada por Nadir Rocha (PMDB).

O até dia 7 prefeito interino, que custou R$ 55.707,46 no ranking do CâmaraTur entre 2013 e 2016,  sempre foi a favor das viagens.

 

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