O isolamento é parceiro de Miki Breier, hoje.
Até agora o prefeito de Cachoeirinha não soube ‘vender’ a urgência das medidas para enfrentar a crise, nem conquistar como aliada a população alheia a algumas ‘vantagens’ recebidas por servidores de salários mais altos, que podem tranquilamente ser chamadas de ‘privilégios’.
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E, no mesmo ritmo das cadeiradas dadas pelo PM no grevista em frente à Câmara antes da votação de quinta, começa a perder sustentação política principalmente dentro de casa, em seu PSB.
O vídeo postado hoje pelo deputado federal José Stédile, prefeito entre 2000 e 2008 e o grande avalista dos 16 anos do grupo político no poder, pode perfeitamente ser resumido em um “não tenho nada a ver com o que aconteceu”.
Pelo menos, até agora.
De perfil conciliador, Stédile diz na gravação que reconhece as dificuldades enfrentadas por municípios que, “com a má administração de Dilma e Temer”, perderam até 40% da receita – caso de sua Cachoeirinha órfã da Souza Cruz.
Fala ainda que “entende” as “soluções” encontradas por Miki, mas nunca foi “consultado” sobre elas. Hábil, justifica o distanciamento por, como diz ter-se comportado também com Vicente Pires, respeitar a “autonomia” dos dois prefeitos.
Mas, cobrado nas redes sociais e na fila do supermercado nos últimos 26 dias, Stédile viu-se praticamente obrigado a se oferecer para, com a experiência de sindicato dos metalúrgicos nos anos 80, intermediar uma negociação para buscar o fim da maior greve da história de Cachoeirinha.
Nos bastidores, uma conversa do ex-prefeito com o Sindicato dos Municipários já estaria sendo articulada com sorrisos no rosto por Jack Ritter, vereadora que ao lado de Cristian Wasem votou contra o ‘pacotaço’ e perdeu os cargos que tinha no governo.
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Ainda olhando para o quintal, na relação de Miki com o ex-prefeito Vicente e seu grupo poderíamos trocar amor por ódio naquela máxima “amor com amor se pega”.
Para quem conhece a história que levou a implosão de uma dinastia de quase duas décadas do PT em Gravataí, a convivência entre os dois socialistas tornou-se como a dos ex-prefeitos petistas Daniel Bordignon e Sérgio Stasinski.
Além-fronteiras, o abandono do PSB estadual a Miki se mostra uma realidade. Pública, pelo menos. Mesmo que os incidentes de Cachoeirinha tenham sido levados por adversários políticos à Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados e ao Senado, não se tem notícia de nenhuma nota de apoio ou solidariedade do partido, apenas o silêncio de Beto Albuquerque – de quem talvez o prefeito seja hoje mais próximo que do próprio Stédile.
Para completar, Anabel Lorenzi, terceira colocada na disputa pela Prefeitura de Gravataí com 24 mil votos, ex-mulher de Miki e parceira política por mais de 30 anos também se descolou dos incidentes em Cachoeirinha, em uma postagem ardida como gás de pimenta.
– Lamento profundamente os atos violentos e a falta de diálogo com os servidores do município. Manifesto minha solidariedade às vítimas da violência e meu apoio às lutas que são realizadas para garantir serviços públicos de qualidade e respeito aos servidores – escreveu a professora, servidora municipal de Gravataí, em seu perfil pessoal de facebook.
Quem nunca cruzou a ponte ou a 59 pode não acreditar que Miki está isolado, já que tem 15 de 17 vereadores – descontando os rebeldes anti-pacotaço. Mas quem conhece o perfil dos parlamentares, sabe a quem são ligados e como decidem seus votos, pelo menos desconfia que o silêncio da maioria na defesa dos projetos recomenda a Miki muito cuidado para não se tornar um refém no palácio.
Hoje, além de seu círculo mais próximo, Miki parece ter apenas a fidelidade incondicional e pública do vice-prefeito Maurício Medeiros (PMDB).
Em A arte da Guerra, há 2500 anos o general chinês Sun Tzu já alertava para os riscos do comandante exposto no campo de guerra.
Principalmente quando os combatentes muito cochichavam.
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