RAFAEL MARTINELLI

Obras emergenciais contêm alagamentos históricos em Gravataí, mas soluções definitivas esbarram em recursos; os ‘pobres de sempre’

Região da Vila Rica e do arroio Barnabé com águas baixando nesta quinta-feira

Mesmo sob chuvas excepcionais — 160 mm em três dias, volume superior à média histórica de todo o mês de junho (130,4 mm) —, os pontos críticos de enchente em Gravataí registraram avanços devido a investimentos emergenciais da Prefeitura. Imagens de drone encomendadas pelo governo Luiz Zaffalon comprovam: as regiões do Caça e Pesca e da Vila Rica, tradicionalmente as mais afetadas, não repetiram o cenário catastrófico do ciclone de junho de 2023 e da tragédia de 24.

Conforme o secretário de Infraestrutura, Laone Pinedo, mais de R$ 100 milhões foram aplicados nos últimos 12 meses em desassoreamento de 21 km de arroios (como Barnabé e Demétrio), expansão de redes de drenagem, hidrojateamento e fiscalização de descartes irregulares.

– São obras invisíveis, mas que reduziram os problemas a menos de 10% do ciclone de 2023 – afirmou Pinedo ao Seguinte: nesta quinta-feira, sobre o evento que atingiu mais famílias no município, enquanto monitorava o nível do Rio Gravataí, que subiu de 4,05 m para 4,29 m entre a manhã e a tarde, abaixo da cota de inundação (4,75 m).

Apesar disso, alagamentos pontuais obrigaram famílias dos bairros Vila Rica, Novo Mundo, Cedro e Vera Cruz a deixarem suas casas. Uma moradora foi encaminhada a abrigo municipal.

Região do dique e arroio Demétrio, com águas baixando nesta quinta-feira


A coceira pela solução definitiva

O prefeito alerta: “Acertamos nos investimentos emergenciais, mas precisamos de recursos para um sistema definitivo”.

O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDrU), a ser apresentado nesta segunda-feira com o especialista Carlos Tucci, prevê diques e casas de bombas para Caça e Pesca/Mato Alto/Viviane Cristian e Vila Rica/Vale Ville — obras orçadas em R$ 100 milhões cada.

Enquanto o dique do Caça e Pesca já está incluído no PAC federal (com execução estadual) que prevê R$ 2,9 bilhões para a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, o da Vila Rica aguarda aprovação no plano de reconstrução do RS de R$ 12 bilhões.

– Precisamos que os governos se cocem – resume Zaffa.

– Incomoda-nos a demora. Eventos climáticos extremos, abruptos e de difícil antecipação são o novo normal – acrescenta Pinedo.

O valor total necessário para resiliência climática é estimado em pelo menos R$ 400 milhões — cifra que supera em 60% o recorde de investimentos do município nos últimos quatro anos (R$ 250 milhões).

Vila Rica inundada na enchente de 2024


Os pobres de sempre

O PDDrU também trará uma nova ‘mancha de inundação’, ampliada em relação ao último estudo (Metroplan/1998), para orientar o Plano Diretor Urbano e frear loteamentos em áreas de risco.

– Enquanto regramos o futuro, buscamos soluções para comunidades consolidadas que não podem ser removidas – conclui o secretário de Infraestrutura.

Zaffa é direto: “Temos diagnósticos e projetos. Falta o principal: recursos”.

Ao fim, não teremos repetida a tragédia de 24 – o que, apesar do horror natural em um estado traumatizado, o Seguinte:antecipou ontem.

Não desta vez. Mas, e na próxima?

Resta o jogo de empurra entre os governos federal e estadual, enquanto o atraso das soluções definitivas grita. Principalmente para os que, a cada enchente, chamo de ‘os pobres de sempre’ – que, em Gravataí, é onde sempre alagou.


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