Nós podemos ser muito diferentes uns dos outros, mas temos algo em comum. Ou pelo menos algo que está sempre presente na vida dos seres humanos, do mais comum dos cidadãos às celebridades mais famosas do planeta: o desejo de ser feliz.
Ninguém, pelo menos ninguém com quem eu já tenha tido contato alguma vez, me pareceu desejar o sofrimento, a angústia, a frustração. Parece que o ser humano tem por objetivo primeiro ser feliz.
Mas, apesar de ser uma busca comum e de ser estudada, comentada e analisada por diversos campos da sociedade, da ciência à religião, passando pela cultura popular e impregnando a cultura digital, ainda se sabe pouco sobre a felicidade.
Continuamos a perguntar de onde ela vem, como encontrá-la, como fazer dela nossa companheira inseparável.
Eu, como tantas outras pessoas, estou aqui a escrever sobre esse assunto consciente de que nada tenho de novo a dizer, portanto, limito-me a destacar alguns aspectos da minha própria busca pela felicidade.
O primeiro deles, e que considero o mais importante, é a consciência de que a felicidade não está em lugar algum à espera de ser encontrada. Ela está presente em cada ser humano e a sua busca incessante é apenas a parte aparente desse fenômeno.
Seria a felicidade encontrada na busca e não no encontro? A busca, então, seria o segundo aspecto a ser considerado. Confesso que comecei a pensar mais seriamente nesse aspecto a partir de uma observação simples e casual feita pelo meu filho adolescente.
Diante de um pote de creme de avelã, recém retirado da sacola do supermercado, ele disparou: “Ah! Um pote de felicidade!” Como assim? A felicidade mora em um pote de creme de avelã?
Ele saiu para cuidar da vida, que ainda não inclui preocupações sobe a felicidade a existência, o envelhecimento, perdas ou sofrimentos. E eu me pus a pensar sobre o que ele disse e sobre a possibilidade de encontrar a felicidade em algum lugar, como num pote de creme de avelã.
E quando o creme de avelã do pote acabar? Ora, basta comprar outro pote, e outro, e outro, num processo interminável de alimentar nossa vida com felicidade.
E se num dia qualquer não encontrarmos mais o pote de creme de avelã na prateleira do supermercado os sentimentos de frustração e de infelicidade podem ser muito grandes.
A alternativa seria deixar de acreditar que a felicidade está à venda e que pode ser encontrada em potes. Nesse momento, alguém pode me interpelar com a máxima: “Se dinheiro não compra felicidade, me dê o seu e seja feliz sem ele”.
Para esse argumento, eu direi que dinheiro compra potes de creme de avelã, carros, viagens, conforto, livros, comida. Mas quanto o carro quebra ou é roubado, quando o creme de avelã acaba, quando o dinheiro não dá para bancar a viagem para a Europa, a comida se torna escassa, a felicidade se torna uma impossibilidade.
Podemos acreditar que a felicidade pode ser comprada e estaremos sempre em busca de novos produtosque nos façam felizes enquanto eles durarem ou podemos acreditar que o dinheiro nos dá conforto capaz de nos fazer feliz, sim, masa felicidade é muito mais uma capacidade de superação do que um estado mágico e permanente que cada um almeja experimentar um dia.
Além do pote de creme de avelã, você pode acreditar que a felicidade mora em uma garrafa de vinho, em um texto sagrado, no templo, em meio à natureza, em um livro, no espelho, no sorriso de um filho, no aconchego de um abraço e onde mais a sua imaginação permitir.
Quando era adolescente, acreditava que as meninas de cabelos lisos eram mais felizes. Fui criada para acreditar que isso era verdade. O meu cabelo, que é volumoso e cheio de cachos, naquela época, era nomeado pela minha avó como “cabelo de pico”. E ter um “cabelo de pico” era algo capaz de tornar uma adolescente de 13 anos muito infeliz.
Hoje, adolescentes e mulheres adultas lotam os salões de beleza em busca de fórmulas que deixem suasmadeixas lisas, sedosas e maleáveis. Um pecado? Claro que não! Isso as deixa mais felizes? Sim, claro que sim! Mas, a felicidade está nessa possibilidade? Penso que não!
Não vou dizer aqui do tipo “10 passos para ser feliz”, porque isso pode ser encontrado aos montes na internet e porque não acredito em fórmulas mágicas para ser feliz.
Acredito que cada um deve encontrar o seu modo de ser feliz dentro de si.Um cabelo crespo pode significar alguma frustração, assim como um pote vazio de creme de avelã. E eu pergunto: não seria a capacidade de lidar com a frustração um modo de ser feliz?