Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos, o SEGUINTE: apresenta Dimas Costa, o primeiro a levar o mandato aos bairros e vilas da cidade.
– Parabéns, guri! Nunca tinha visto um vereador fazer isso. Tem que ter coragem para dar a cara para bater, ainda mais com a política do jeito que está. Mas quero ver aguentar até o fim do mandato.
O desafio foi feito por um idoso ao vereador Dimas Costa na primeira edição de seu “Mandato Na Rua”, às margens da Antônio Gomes Correa, no Parque dos Anjos, sob um sol de quase 40 graus dos primeiros dias de janeiro de 2013.
Passados mais de três anos, o vereador que, aos 34 anos, é um dos mais jovens da atual legislatura, mantém o gás. A cada semana, ou no máximo 15 dias, em diferentes bairros, ele monta uma tenda e, com sua assessoria, recebe reivindicações e ouve sugestões dos eleitores, que depois encaminha via requerimentos nas sessões da Câmara ou em visitas aos órgãos públicos.
– É o carro-chefe do meu mandato: ir onde o povo está e dar voz às pessoas que trabalham o dia inteiro e não tem tempo para acessar os serviços públicos e fazer seus pedidos e cobranças – explica.
– Depois de um ano fazendo o “Mandato Na Rua” aos sábados, estendi o projeto também para dias de semana e comecei a levar a tenda às paradas de ônibus, de madrugada, para aqueles trabalhadores que saem cedo de casa – conta.
Esse olho no olho com o eleitor rende a Dimas, pelo menos até o momento, o título de campeão de reivindicações encaminhadas na atual legislatura.
– Não há dia em que eu deixe de ir até a Câmara. Mas também não há dia em que eu não esteja na rua, visitando as pessoas, bairros e vilas. O vereador é um servidor público e o eleitor quer o contato direto, quer poder opinar, cobrar. Sinto que essa é uma mudança boa na política. O eleitor não aceita mais aquele tipo de ‘vereador despachante’, sentado no ar condicionado do gabinete – argumenta.
: Dimas fiscalizando os atrasos nas obras da unidade de pronto atendimento (UPA) da 74
Ele (e o eleitor) curte o Face
Ativo nas redes sociais, Dimas tem entre os políticos de Gravataí um dos perfis mais concorridos em curtidas e compartilhamentos.
– Estou sempre à disposição. Nunca deixo de responder a ninguém. Às vezes é preciso entrar pela madrugada. O Facebook é uma baita ferramenta para facilitar o contato do eleitor com o vereador – diz.
Sem medo de ouvir
De personalidade irrequieta, Dimas é daqueles que não conseguem ficar parados. Fala alto, movimenta os braços, caminha para lá e para cá cumprimentando as pessoas, brincando, trocando uma ideia e falando ou teclando ao celular.
Em dia de sessão, é fácil vê-lo fora do reservado dos vereadores, conversando com eleitores, políticos ou assessores que vão testemunhar as reuniões da Câmara.
Quem conhece mais intimamente o Dimas aponta esse comportamento como uma de suas principais características.
– Ele gosta de ouvir as pessoas e colher diferentes opiniões. Mesmo quando não concorda de cara com o que alguém diz, ele reflete e, se for o caso, tem humildade para mudar de ideia – diz a companheira Anna Beatriz da Silva, reeleita em 2015 como a conselheira tutelar mais votada de Gravataí.
– Não tenho vergonha de dizer que tenho muito a aprender. E entendo que não se faz nada sozinho. Se hoje realizo o sonho de ser vereador, é porque confiaram em mim. O tamanho dessa responsabilidade não me sai da cabeça um minuto – diz Dimas.
Contra privilégios
Algumas de suas posições lhe renderam popularidade, pelo menos nas redes sociais, mas também provocaram turbulências na relação de Dimas com outros parlamentares, inclusive da oposição.
É que ele tem dado votos contrários a projetos polêmicos como aumento de salários de políticos, criação de cargos e viagens de vereadores para cursos e congressos.
– Não fiz nada além do que prometi na campanha. Quando viajei, paguei do meu bolso. Cursos fiz em Porto Alegre, sem tirar diárias e nem cobrar inscrição da Câmara. Num momento de poucos recursos para atender às necessidades básicas dos que mais precisam, dou meu exemplo economizando dinheiro público – explica.
: Dimas votou contra todas as viagens de vereadores para cursos e não recebeu nenhuma diária
Liderança na oposição
Com discursos fortes na tribuna, Dimas é na atual legislatura um dos líderes da oposição ao governo Marco Alba (PMDB).
– Logo no início do mandato conseguimos adiar por meses a aprovação do ‘bonde dos cargos’ pelo prefeito, economizando mais de R$ 1 milhão – lembra.
Já são conhecidas as visitas de Dimas, inclusive em madrugadas ou em meio aos períodos de férias ou feriadões, para conferir o atendimento no Hospital Dom João Becker, no SUE 24 Horas, em postos de saúde, nas escolas e no atendimento das secretarias da Prefeitura.
– Se me chamam eu vou – garante.
: Dimas fazendo a ronda nas filas dos postos de saúde numa noite fria do inverno
Perto e longe
Na campanha Dimas era apontado como um dos candidatos mais próximos a Daniel Bordignon, que disputava a Prefeitura. Mas seu grande parceiro político sempre foi o ex-vice-prefeito Cristiano Kingeski, amigo da adolescência. Além do pai, a quem acompanhava desde as eleições de 1988, fazendo campanha em um Opala branco, e de quem herdou o capital político.
Dimas fez exatamente os mesmos 1.726 votos que deixaram João Manoel na suplência em 2004 – numa eleição em que o número de vereadores tinha sido reduzido a 14, antes de retornar aos 21 de atualmente.
Nos primeiros anos do mandato, colegas vereadores chamavam Dimas de “filho do Bordignon”, dada certa semelhança entre ele e o ex-prefeito na juventude. Hoje, estão em partidos diferentes. Dimas no PSD e Bordignon no PDT. Mas os dois guardam um histórico de relações com a esquerda e os movimentos sociais – e um discurso, como aquele em que chamam de ‘golpe’, com o provável impeachment da presidente Dilma Rousseff – que transparece que ‘saíram do PT, mas o PT ainda não saiu deles’.
A filiação no PSD protagonizou um dos momentos mais inusitados da política da aldeia, e mais felizes para a mãe, a dona Margarida, pois valeu como uma reaproximação com o irmão mais velho, Dilamar Soares, que organizou o partido na cidade, e de quem estava afastado desde que concorreram a vereador por diferentes partidos – Dilamar foi eleito pelo PMDB.
: Dimas em 2004 fazendo campanha para o pai, João Manoel, candidato a vereador
O primeiro filho
Como as entrevistas da série de perfis com os 21 vereadores foram todas feitas antes da publicação, quando falou ao SEGUINTE: Dimas aguardava a chegada do primeiro filho, Lorenzo.
– Penso nisso o dia inteiro. Sempre admirei a honestidade do meu pai, uma característica que é apontada por todo mundo que o conhece. Quero que meu filho tenha o mesmo orgulho de mim – emocionava-se, à época.
Ontem, falou sobre o filho já nascido.
– É bom demais. Acho que estou conseguindo dedicar tempo a ele e a Anna, com quem divido todas as tarefas da nossa vida em família.
– Exerço minha atividade de vereador, estou estudando Gestão Pública e aproveitando esse tempo bom ao lado do Lorenzo. Queria só que o dia tivesse mais horas…
: Dimas com Lorenzo e a esposa Anna Beatriz, conselheira tutelar mais votada este ano
Um pouco da história – e das histórias – do Dimas:
Dimas Souza da Costa nasceu em 4 de agosto de 1981, no Hospital Dom João Becker, em Gravataí. Grávida, a dona Margarida e o seu João Manoel tinham recém vindo de Mostardas e se instalado em uma pequena casa de madeira – cheia de frestas e com aquelas patentes nos fundos – às margens da RS-118, ao lado do primogênito Dilamar e das meninas Denize, Daniela e Deize.
O nascimento de mais um menino ajudaria a família – que ganharia ainda Daiane – a superar a morte recente do irmão Daniel, ainda bebê, de uma doença rara no cérebro.
O pai era fiscal da Sogil e a mãe fazia faxinas e capinava pátios. As dificuldades financeiras e a família grande fizeram os filhos começarem a trabalhar cedo.
Aos 14 anos, Dimas era atendente na Brasil Games. Além da ajuda em casa, dava para acompanhar a Torcida Jovem nos jogos do Grêmio e fazer festa nos bailes da ‘faixa’, no Veterano, Asa Branca e Casa dos Artistas.
Também trabalhou no Pistões Suloy e entregando panfletos em sinaleiras, até conseguir uma vaga de cobrador na Sogil. Por seis anos, o Sarrafo (1.90 metro e 64kg), seu apelido na empresa, saía de casa às 4h15 para assumir sua linha das 5h15, onde ficava até às 17h30.
– Aprendi muito, no contato com as pessoas e rodando a cidade. Fui muito feliz, acho que porque gentileza gera gentileza – conta.
Já formado em técnico em segurança do trabalho, Dimas exerceu a função na Companhia de Desenvolvimento de Gravataí (CDG).
Garçom após a eleição
Após ser eleito, em outubro de 2012, até assumir o mandato em janeiro de 2013, Dimas trabalhou como garçom, na lendária Pizzaria Pandollo, o que causava espanto em alguns frequentadores, ou em quem ficava sabendo pelas redes sociais.
– Sempre precisei trabalhar para sobreviver. Não via nada demais naquilo: um trabalhador trabalhando. Algumas pessoas estranhavam, talvez por achar que político ou tem dinheiro, ou é sustentado pela corrupção. Eu não mudei e não vou mudar. Frequento os mesmo lugares e cultivo os amigos de sempre, além de boas relações que a política me permitiu – diz.
: Dimas com amigos do bairro São Geraldo
Prefeito de Gravataí
Dimas, entre peladas onde quebrava a bola nos campinhos do América e do Centenário, estudou nas escolas Rui Ramos, Josefina Becker e Barbosa Rodrigues, e, desde 29 de fevereiro, cursa Gestão Pública na Fadergs.
– Desde sempre me interesso por política. Professores que hoje encontro contam que eu dizia nas aulas que seria prefeito de Gravataí – diverte-se.
OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO DIMAS:
“A criação de cota de 10% dos estágios públicos para adolescentes abrigados nas casas lares do município; a possibilidade de escolha de apartamentos térreos em programas habitacionais públicos para idosos e pessoas com deficiência; e a Voz do Povo, para permitir ao eleitor usar a tribuna da Câmara, além da cobrança da aplicação de lei que não vinha sendo cumprida pela Prefeitura para dar uniformes gratuitamente para alunos da rede municipal de ensino. E o Mandato na Rua, que leva o mandato à comunidade e permite fiscalizar os serviços públicos”.
UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:
“Ter, em alguns momentos, acreditado em pessoas que usam a política apenas para si e não pelo bem comum. Mas foi um aprendizado para mim, um jovem no primeiro mandato”.
O DIMAS PELO DIMAS, EM UMA PALAVRA:
“Trabalhador”.
OS PLANOS DO DIMAS:
“Manter o nível do mandato até o último dia. Na campanha dizia que não seria o vereador que só aparece na véspera da eleição e tenho certeza que cumpri a promessa. Meu plano é trabalhar agora e no dia de amanhã”.
O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:
“Analise, acompanhe, leia e busque informações. Hoje tudo é mais fácil, tem as redes sociais e o Portal Transparência das câmaras e governos. E não generalize, porque em qualquer atividade tem os bons e os ruins. Há muita gente boa na política, ainda. Não corra com essas pessoas dizendo que todos são iguais”.
UM POLÍTICO ADMIRADO PELO DIMAS:
“Meu pai, João Manoel”.
O CANDIDATO A PREFEITO DO DIMAS:
“Dr. Levi”.