A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu, nesta quinta-feira (15), em Dourados (Mato Grosso do Sul), o principal investigado da Operação Malus Doctor, deflagrada em 8 de maio para desarticular uma organização acusada de fraudar mais de 145 mil processos judiciais em todo o país. O advogado, que estava foragido há uma semana, foi interceptado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) quando se dirigia a Ponta Porã, cidade na fronteira com o Paraguai.
Segundo investigações da 2ª Delegacia de Polícia Distrital (DP) de Porto Alegre, o suspeito fugiu para São Paulo após o início da operação, passou pelo litoral paulista e seguiu para Mato Grosso, onde tem familiares. Com apoio da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Barra do Garças (MT), a equipe gaúcha descobriu que ele havia partido para o Mato Grosso do Sul. A prisão ocorreu após monitoramento de rotas e colaboração entre as polícias Civil, Federal e a PRF.
A Malus Doctor, coordenada pela 2ª DP de Porto Alegre, cumpriu 74 ordens judiciais em três cidades gaúchas (Porto Alegre, Glorinha e Xangri-Lá), incluindo 35 buscas, nove suspensões de atividades advocatícias e bloqueios de bens que somam até R$ 50 milhões. O alvo era um esquema que, desde 2023, usava procurações falsas para mover ações revisionais de empréstimos consignados contra bancos, sem consentimento dos clientes.
O esquema das fraudes
Os criminosos abordavam pessoas em situação vulnerável, oferecendo revisão judicial de contratos supostamente abusivos. Cobravam 30% dos valores “recuperados”, mas, na realidade, contraíam novos empréstimos em nome das vítimas e depositavam parte do dinheiro em suas contas, simulando vitórias judiciais. Quando as vítimas percebiam descontos indevidos em benefícios previdenciários, já não havia contato com a empresa.
O grupo também fragmentava ações (“fatiamento de demandas”) para protocolar múltiplos processos em comarcas distintas, muitas vezes distantes do domicílio das vítimas. Em um caso extremo, ações foram movidas em nome de uma pessoa falecida, com procuração assinada meses após seu óbito.
Uma das vítimas relatou ter descoberto 30 ações em seu nome sem autorização. Estima-se que o prejuízo total chegue a R$ 50 milhões, afetando principalmente idosos e beneficiários de programas sociais.
Ao todo, 14 pessoas são investigadas por estelionato, falsidade ideológica, fraude processual, apropriação indébita e associação criminosa. O principal alvo, preso hoje, responde por 47% das ações contra bancos no RS, sendo o quinto maior litigante do estado.
A operação segue em andamento, com análise de documentos apreendidos para identificar mais envolvidos. Enquanto isso, as vítimas buscam reparação na Justiça.