Nem o próprio Jones Martins imaginava uma recepção tão amigável na Câmara, onde palestrou a convite da bancada do seu PMDB.
O tema, a construção de um hospital do câncer junto ao Grupo Hospitalar Conceição, parece ter sensibilizado até parlamentares que na tribuna e redes sociais são críticos do deputado federal de Gravataí.
Experiente, com oito anos de plenário como vereador, e quase dois como deputado, talvez antevendo estar na mira da oposição, Jones largou na frente:
– Estou à disposição para falar do hospital, das reformas trabalhista e previdenciária, ou mesmo do processo contra o presidente Michel Temer – disse, já de cara, logo após as tradicionais e modorrentas saudações que todos os políticos fazem aos xarás.
Corajoso, Jones sempre foi. Desde os anos 2000 onde era um dos poucos parlamentares que, diferente até de outros ‘anti-PTs’, não orbitava o popularíssimo governo de Daniel Bordignon.
Hoje, além de ter sido defensor intransigente da necessidade das impopulares reformas trabalhista (onde foi voto favorável desde o relatório da comissão em que participava até o plenário) e previdenciária, o deputado se jogou na frente das balas que tinham como alvo o presidente eleito para ser vice.
O advogado que cresceu no São Geraldo colocou-se inclusive como candidato do Palácio do Planalto à relatoria do processo movido pela Procuradoria Geral da República por corrupção passiva e, apesar de roer algumas unhas na telinha, defendeu com firmeza o grupo político de seu padrinho Eliseu Padilha frente às câmaras do Jornal Nacional, da Globo, hoje – mais ou menos – inimiga número 1 do governo.
No próprio ‘dia de Jones’ na Câmara, o correligionário Alan Vieira citou como uma “aula de militância” o discurso do colega que rendeu uma ligação de Temer, gritado contra a renúncia no dia em que o magnata caipira da JBS espalhou cheiro de carne podre pela capital federal.
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– É o Dia do Amigo, obrigado pelo carinho – agradeceu Jones, sorrindo antes de ir embora sem ter dado metástase nas relações com seus oposicionistas.
Na quase uma hora de convivência, as perguntas e comentários foram só bolas picando ou afagos, após Jones apresentar o projeto do centro de oncologia de 90 leitos 100% SUS, num investimento de R$ 100 milhões para construção e R$ 50 milhões para equipamentos, e que já tem R$ 33 milhões este ano e R$ 66 milhões no ano que vem em emendas da bancada gaúcha articuladas por ele como presidente da Frente Parlamentar pelo hospital.
O que é outro movimento de coragem de Jones, se lembrarmos do hospital regional e do hospital estadual, que após a esperança de ser erguido na Caveira, ou na RS-118, jaz em alguma gaveta do ossário de projetos do governo estadual, deixando o mico para todos os políticos vivos de Gravataí que o defenderam cinco anos atrás.
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Mas chamou atenção Jones, candidatíssimo a prefeito em 2020, receber saudações de todas as bancadas, de governo e oposição, além dos óbvios elogios de colegas de PMDB, como o idealizador do convite, o vereador mais votado Paulinho da Farmácia.
Do PDT de Daniel Bordignon, talvez na aldeia o partido de maior antagonismo ao grupo do deputado e do prefeito Marco Alba, veio uma surpreendente, por sincera, reverência.
– Honraste meu voto e de minha família. Vida longa na Câmara federal. És um deputado digno, honrado e qualificado – disse, ao microfone, Demétrio Tafras.
Do PSB, da também adversária Anabel Lorenzi, também teve saudação. E de Wagner Padilha, algoz do prefeito na campanha com seus vídeos no YouTube do ‘Tô de Olho no Buraco’.
Pareciam desconfortáveis na confraria, porém silenciosos, apenas Dimas Costa (PSD) e Paulo Silveira (PSB).
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