Vou me restringir a dois casos que conheço bem.
Um diz respeito à manutenção da BR-290 entre Eldorado do Sul e a entrada para a BR-153, já em Cachoeira do Sul, trecho que conheço como a palma da mão, o que não me impediu de ter uma roda amassada numa dessas odisseias que é, literalmente, viajar por esta rodovia como faço uma vez por mês.
O segundo se refere ao imbróglio que virou o custeio da travessia do Rio Jacuí, por uma balsa, enquanto a Ponte-Barragem do Fandango passa por obra de recuperação de suas pistas de rolamento. O bloqueio da ponte impede o acesso à cidade de Cachoeira pela BR-153, para quem vem da BR-290, geralmente de Porto Alegre.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), esta que não renovou o prorrogado contrato de concessão da Freeway à Concepa, diz que não tem dinheiro para pagar a balsa e empurra para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) – que também diz não dispor de verba – a responsabilidade pelo custeio da travessia.
A ponte está lá, em obras, e a balsa também está lá, parada.
Assim como a Freeway cá está, em perfeitas condições de trafegabilidade, por enquanto.
Até que os caminhões que trafegam com excesso de peso, porque fiscalização é coisa de filme de ficção, comecem a esburacar o asfalto. Até que os buracos menores que surgirem se transforme em crateras que aumentam a cada vez que um carro bate em suas bordas, quebrando um pouco mais da manta asfáltica, sem que alguém apareça para fazer o remendo.
Sem serviços
A Concepa ergueu as cancelas, está demitindo seus 400 funcionários e retirando todas as placas de sinalização ao longo do trecho que lhe era concedido há 21 anos – 20 da concessão e um da prorrogação do contrato desde o ano passado e que se expirou às 23h59min da noite desta terça.
A grande maioria das pessoas, ingenuamente, festeja a liberação da Freeway, agora sem pedágio. Tanto que nesta manhã o fluxo de veículos caiu quase pela metade nas avenidas Dorival de Oliveira (Gravataí) e Flores da Cunha (Cachoeirinha) no sentido de Porto Alegre. Não se dá conta, porém, que sem estar concedida, o trecho não tem mais manutenção.
E não tem mais serviços de urgência-emergência, como guinchos ou ambulância, nem serviços de conservação manutenção, como roçadas, recolhimento de lixo, reposição de placas, operações tapa-buracos…
Crateras lunares
Agora o Dnit, que passou a terá responsabilidade pelos serviços na Freeway, diz que precisa de R$ 40 milhões para fazer o que a Concepa fazia, até que uma nova empresa – ou a mesma Concepa – vença o leilão marcado para o dia 1º de novembro e assuma a concessão no dia 8 de fevereiro do ano que vem. Dnit, lembremos, é órgão do governo federal, que já não tem de onde tirar mais dinheiro.
Consideremos uma situação ainda mais grave: a partir da segunda quinzena de outubro ou, mais tardar, nos primeiros dias de novembro, começa a se intensificar o fluxo de veículos em direção ao litoral, nas sextas-feiras e finais de semana, com volume ainda maior nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Até lá a Freeway já deverá ter tantas ou mais crateras do que o solo lunar.
Preocupante, pois, a situação, diante da conjugação de fatores.
Vejamos: Mais buracos na pista, mais carros (muito mais carros!) circulando, sinalização já sucateada e parcialmente inexistente, sem vídeo-monitoramento, sem roçada nos acostamentos, sem fiscalização eficiente, uma estrada de alta velocidade… Esta é uma equação cujo resultado não exige que sejamos matemáticos para alcançarmos.
Conta cara
Pelas mesmas razões que tenho manifestado quando sofro com a buraqueira da BR-290 a cada vez que vou a Cachoeira do Sul, sou categórico ao afirmar que seria preferível que a ANTT tivesse 'prorrogado a prorrogação' do contato de concessão à Concepa. Pelo menos a Freeway continuaria figurando entre as primeiras colocações em todos os rankings que se fazem para avaliar quais são as melhores rodovias do Brasil.
Erguer as cancelas nos pedágios de Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Eldorado do Sul vai representar um valor muito alto para cada um dos usuários quando for hora de pagar a conta. Alguns, com certeza e infelizmente, pagarão mais caro. Com sangue e com a própria vida.
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