Há de se fazer justiça ao prefeito em suas ações após Gravataí ter sido identificada como ‘zona de atentado’ pelo Facebook de Mark Zuckerberg. Um ano depois da madrugada em que dois tombaram mortos e 33 foram feridos num brutal ataque em meio à guerra de facções na Morada do Vale, o que poderia ter sido um ‘atentado na Somália’, aquele que todos logo esquecem, pelo menos para Marco Alba (MDB) foi ‘atentado em Paris’.
Os índices de homicídio caíram mais da metade, conforme estatística divulgada nesta segunda em reportagem de Silvestre Silva Santos, no Seguinte:. Com 60% menos mortes violentas, Gravataí foi o município com melhores índices de segurança da região metropolitana.
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– Mas o que o prefeito tem que ver com isso?
Mesmo não sendo uma obrigação constitucional dos estados, sob o guarda-chuva furado do governo federal, a segurança pública caiu no colo, para não dizer que pegou pelas costas os prefeitos das cidades mais populosas e, inevitavelmente, violentas do Brasil.
É preciso fazer uma cronologia dos fatos, aqueles chatos que contrariam argumentos, para reconhecer que Marco não se escondeu e fez sua parte. Ao amanhecer da madrugada do atentado, ligou para o secretário de segurança do estado Cesar Schirmer e, no mesmo domingo, já falou com o governador José Ivo Sartori. Na segunda, foi até o procurador-geral de justiça, Fernando Dallazen, fazer um pedido para que homens da Força de Segurança Nacional auxiliassem as polícias a enfrentar a guerra do tráfico que assombrava Gravataí e a região.
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A realidade de Gravataí, naquele 22 de outubro em que sangue – em sua maioria negro e crespo – escorria pelo bairro periférico, onde moram dois a cada 10 gravataienses, era de um déficit de 352 policiais.
Só para se ter uma idéia do caos, policiavam as ruas de Gravataí apenas 25 PMs a cada turno. A média era de um policial para cada 10 mil habitantes. Ou um para cada 18 Km² dos 463,758 km² de território urbano e rural.
O 17º BPM, que já tivera 281 PMs no pré-GM, tinha 187. O ideal seriam 464. Tirando da conta os brigadianos nas patrulhas, outros 86 se dividiam em serviços administrativos de função exclusiva para militares, como a central de rádio, a distribuição de armas e a guarda do quartel, por exemplo. 16 PMs também precisavam cobrir Glorinha, sob a jurisdição de Gravataí.
Como o Seguinte: também tinha revelado com exclusividade dois meses antes, quando Marco, após a morte em serviço do policial civil Rodrigo Wilsen da Silveira, já dava o primeiro grito por ajuda do estado na segurança, o 17º BPM contabilizava a perda de 100 policiais entre 2014 e 2017, entre pedidos de demissão, transferências e aposentadorias.
Na polícia civil, o mesmo drama: havia um policial para atender a cada 1,8 mil ocorrências, quando a média aceitável seria de 250. Para fazer frente, cada PC teria que resolver cinco queixas por dia, sete dias por semana, durante um ano.
Descontando delegados, plantonistas e o serviço administrativo, não mais de 40 PCs atuavam nas ruas. Eram 76 policiais civis, de um mínimo necessário de 114 e um ideal de 151. Na comparação com a média dos municípios gaúchos levando em conta os 5 mil PCs na ativa, Gravataí deveria ter 124.
Antes mesmo do atentado, nos primeiros 270 dias de 2017, Gravataí batia o recorde de homicídios: 131, na média um a cada dois dias. De janeiro a outubro, foram 146. Agora, no mesmo período, 59.
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O resultado da pressão das circunstâncias, e de Marco – na segurança que nos meses seguintes de governo Sartori representou o maior ‘alinhamento das chamas’ do logotipo do MDB, partido do prefeito e do governador, já que na saúde, por exemplo, se deveu mais para município do que se pagou – mobilizou, dois dias depois do atentado, um aparato de segurança nunca antes visto na história de Gravataí.
Ao som dos helicópteros, o prefeito recebeu o subcomandante geral da brigada, coronel Mário Yukio Ikeda, e PMs do regimento de polícia montada, do batalhão de operações especiais (BOE) e do batalhão aéreo. O serviço de inteligência da BM passou a mapear pontos conflagrados e, a partir do dia seguinte, começaram incursões nos bairros e vilas para identificar e prender suspeitos. Os efetivos de batalhões vizinhos também foram convocados para trocar informações e realizar operações nas fronteiras do crime. Pelo menos 50 novos PMs ficaram diariamente em Gravataí. Após a formatura, um mesmo contingente tornou-se residente. Seis policiais civis reforçaram a delegacia de homicídios.
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Mas Marco também fez a lição de casa. À época, a guarda municipal tinha 199 homens e mulheres – pelotão maior que o da BM. O prefeito quase dobrou o orçamento da segurança município, de R$ 9 milhões para R$ 15 milhões. Mais 41 guardas foram contratados e hoje já estão nas ruas aumentando a sensação de segurança. Recursos também foram compartilhados com a brigada e a civil e 318 câmeras estão espalhadas pela área urbana, o que permite um policiamento virtual e em tempo real em praças, prédios públicos e especialmente nas escolas.
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À época da ‘Gravataí zona de atentado no Facebook’, conclui artigo assim:
“(…)
Dois ‘sociólogos’ da periferia, Mano Brown e Edy Rock, já descreviam cruamente, lá no início dos anos 2000, a inevitabilidade do momento:
(… ) Ei, senhor do engenho / eu sei bem quem você é / sozinho você não güenta / você disse o que era bom / e a favela ouviu / uísque, Red Bull, tênis Nike, fuzil/ seu jogo é sujo / e eu não me encaixo / eu sou problema de montão / de Carnaval a Carnaval / eu vim da selva, sou leão / sou demais pro seu quintal (…)
Enfim, quando qualquer coisa vale mais que a vida, o problema não atende mais por nome, sobrenome, patente ou cargo.
Falimos todos, como sociedade.
(…)”
Então, mesmo que a surpreendente redução possa se dever não só às ações políticas, e/ou técnicas dos órgãos de segurança, mas também à sazonalidade temporal e territorial das guerras de facções, esse oásis é motivo para comemoração, já que a violência é sintoma dos nossos tempos.
E, se você vaiou Marco, e cobrou ações dele, agora não é feio aplaudir.
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