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OPINIÃO | Lavando a louça com o sangue de animais

Ativistas protestaram agora há pouco no Centro de Porto Alegre | Foto FERNANDO ANTUNES

Se as pessoas que passavam pelo Mercado Público de Porto Alegre na tarde deste sábado não conseguiam esconder semblantes de horror ao ver em cartazes, ou na encenação feita por seres humanos, uma representação dos 25 mil animais transportados do Brasil à Turquia em um navio, imagina se testemunhassem cada bovino confinado em menos de um metro quadrado, pisoteando-se em busca de ar, ou deitados uns sobre os outros, 15 longos dias mar adentro?

Mais de cem ativistas da causa animal por duas horas inseriram Porto Alegre em um protesto mundial, que hoje aconteceu também em São Paulo e Portugal, alertando para os maus tratos no transporte de gado para o abate no exterior. Um comércio que começa a movimentar quase um bilhão de reais e, enquanto é denunciado tanto por protetores, como por cientistas, veterinários e ambientalistas, é autorizado pelo Ministério da Agricultura em meio a uma guerra de liminares que contrapõe diferentes decisões no judiciário.

As notícias são fartas sobre o que, coisa boa, virou polêmica nas redes sociais e apareceu, mesmo que de forma controversa, na grande mídia e seus grandes anunciantes – ainda que na ressaca da JBS dos caipiras que incendiaram a República. Para entender o caso, sem paixões, sem a minha paixão como ativista e vegano, recomendo a reportagem da BBC que você lê clicando aqui.

Mas vamos ao ato aqui em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul que enviou ao porto de Santos pelo menos 10% desses animais vivos que embarcaram em insalubres mares de urina e fezes nos vagões da morte para o Oriente Médio.

Não faltou alguém a mandar lavar a louça, mas é incrível perceber o impacto que a proteção aos animais causa nas crianças. Uma menina, de roupinha bem humilde, segurava a mão da mãe para ver um pouco mais, atraída pelos gritos de “mexeu com os bichos, mexeu comigo”. Fez carinha de admirada quando ouviu “eles não comem carne e não querem que matem os bichinhos para comer”. Nem deu tempo de falar para ela do navio. Estava apressada.

Ao pedido de outra envergonhada menina, uma mãe veio perguntar se poderíamos deixar a filha bater uma foto com um cartaz ou uma bandeira.

– Ela sabe sobre isso, está indignada com esse transporte de animais. Já tinha me perguntado o que poderia fazer para ajudar. E agora passamos por aqui!

Outro menino questionou ao pai o que estava acontecendo. Ouviu que teriam que ter uma longa conversa para que pudesse contar. E sentaram logo adiante num banco, o Centrão bombando ao fundo. O pai falando, o guri atento. O que teria explicado? “O bife não nasce na prateleira do super” talvez seja um pouco pesado demais…

Mas se esse pai falou sobre essa prática medieval de transportar os animais, já valeu o ato. O veganismo é uma escolha pessoal, e como movimento de massa, por óbvio uma utopia, como é sonho um fim breve da exploração dos bichos para saciar ou servir aos desejos humanos. Como acreditar numa abolição animal em um país retardatário na abolição da escravatura?

Mas o que estava sangrando ali, naquele protesto no Centro Histórico de Porto Alegre, era esse transporte abominável, que o governo federal e alguns juízes podem tornar legal, mas é imoral e passa longe de qualquer cuidado com o bem estar animal, como atestado por veterinários e biólogos independentes que participaram da vistoria no navio.

Navio que tem o nome de Nada.

Nada é o que não faremos eu, e muitos outros ativistas, como mostram atos no Brasil e mundo afora.

Mesmo que possamos só gritar.

Eu sei que hoje três crianças ouviram.

Agora com licença que vou lavar a minha louça.

 

O ATO

Para ver vídeos e mais imagens do ato clique aqui.

 

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