Ganhou as redes sociais a guerra entre o governo Miki Breier e a direção do sindicato dos municipários de Cachoeirinha.
Apresento os acontecimentos e depois comento.
Começo pelo fim. O prefeito tuitou duas vezes na madrugada desta quarta:
(…)
Direção do sindicato espalha boatos, gerando terror entre os servidores, sobre algo que não irá acontecer. O que ganham com esta prática? Nosso governo tem sido absolutamente transparente. Quando pensa projetos, encaminha para a Câmara de Vereadores. O resto é conversa fiada.
(…)
E há servidores que não procuram checar as informações. Acreditam em qualquer boato, mesmo sendo criados apenas para desgastar o governo. Postura lamentável, de quem espalha e de quem acredita.
Miki reagiu a postagem feita na página do Simca no Facebook que levou ao cancelamento da reunião de uma semana atrás.
Abaixo, reproduzo o texto da discórdia, intitulado “Presente de grego no Natal? Miki pode apresentar novo pacote em meio às férias”:
(…)
Circulam informações de que um novo pacotaço retirando mais direitos dos municipários está pronto e apenas aguardando uma boa parte do funcionalismo zarpar às férias para apresentar os projetos. Estariam no plano de Miki Breier/PSB retirar a licença-prêmio, cortar de vez o vale-alimentação, aumentar o desconto da previdência dos atuais 11% para 14%, reduzindo salários, e poderão ainda aparecer mais surpresas, como a intenção de colocar um CC na presidência do IPREC.
Com a volta de seu principal articulador e braço direito no governo, Juliano Paz/PSB, que retorna após fracasso nas eleições ao Legislativo estadual, Miki Breier pode voltar a mostrar sua faceta mais perversa e tentar aprovar os ataques no período em que a maior parte dos servidores está de férias, do fim de dezembro ao início de fevereiro. Prática comum dos governantes sem caráter, Miki aplicaria pela segunda vez em menos de dois anos esse golpe nos direitos do funcionalismo, repetindo a trágica fórmula do pacotaço aprovado numa sexta-feira pré-carnaval em 2017, goela abaixo e com forte aparato policial do Estado.
Parece que Miki não aprendeu a lição de querer mexer no leão com vara curta e quer enfrentar mais uma GREVE dos municipários, fazendo feder mais ainda o já podre e moribundo PSB, que não conseguiu eleger nenhum candidato ligado a esta e gestões anteriores do partido na cidade e que agora já procura “novas tetas para mamar”. A receita continua a mesma desde que assumiu: ampliar as benesses dos empresários da região, manter os privilégios dos políticos com altos salários – como o seu salário ainda de R$ 27 mil mais “diárias” –, e permanecer praticamente o mesmo gasto com cargos em comissão (CC’s), nem que para isso seja necessário um salário de fome aos trabalhadores do serviço público e privado no município.
Delegados sindicais, em conjunto com a diretoria do SIMCA, já estão mandando o recado ao governo e o chamado à categoria: se um pacotaço aparecer, deverá ser o momento de reunir energias para barrar mais esse ataque, com a sabida força que tem a união dos servidores em prol da defesa de seus direitos. Na próxima quarta-feira (12/12) às 15h, fica convocada VIGÍLIA durante reunião com o “novo” Secretário de Governança Juliano Paz em frente à prefeitura, com a marca sempre presente da resistência e da luta dos municipários de Cachoeirinha. NENHUM DIREITO A MENOS!
Juliano Paz, secretário de Governança e Gestão, não gostou e fez comentários na postagem. No último deles, anunciou o cancelamento da reunião. Escreveu assim o número 1 de Miki, postando o ofício que recebeu, e a resposta que enviou ao Simca, um e outro contendo apenas amenidades e, em nenhum momento, tratando de cortes de vantagens dos funcionários públicos:
(…)
Conforme havia dito, publiquei o documento que recebi e o que enviei ao Sindicato. Vejam que os termos diferem totalmente do texto desta publicação. Desta forma, estou cancelando a reunião marcada para quarta-feira, condicionando a marcação de uma próxima à retirada dos termos ofensivos, acusatórios e inverídicos, com a devida retratação. Diante do grande volume de trabalho que todos temos, o diálogo só fará sentido se for respeitoso, propositivo e objetivando o bem comum. Até que a Diretoria se manifeste sobre estas ponderações, seguiremos dialogando diretamente com servidoras e servidores, buscando soluções possíveis para os problemas que todos queremos resolver. Minhas cordiais saudações.
Ouvido pelo Seguinte: nesta quinta, Paz confirmou o que Miki tuitou:
– É fakenews. Não tem pacotaço nenhum de férias. É mentira, canalhice e má-fé – resumiu.
Comento.
Ninguém gosta de mexer no bolso, mesmo que o funcionalismo de Cachoeirinha tenha planos de carreira e, em alguns casos, salários, entre os melhores da região metropolitana – o que, convenhamos, não é grande coisa.
Mas os tempos são outros.
Cachoeirinha gasta seis de cada 10 reais (gastava 7) com o pagamento da folha, que tem seus gatilhos de reposição a cada três e cinco anos independentemente da inflação ou da crise da vez.
Indiscutível que calou fundo na categoria o ‘pacotaço’ já na largada do governo em 2016, porque o PSB era um ninho de ex-petistas e ex-sindicalistas, como o metalúrgico José Stédile e o professor Miki Breier, que tinham relações históricas com o funcionalismo público. Muitos votaram em um, no outro e em Vicente Pires também – em 1 de janeiro, o grupo político completa 18 anos no comando da prefeitura.
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Mas, quem conhece as contas de Cachoeirinha, principalmente na fumaça do pinote da Souza Cruz, sabe que – lá vem o palavrão! – o ‘ajuste fiscal’ de Miki, que arrochou vantagens dos servidores, mais do que uma política ‘liberal’ foi pura necessidade, para não dizer desespero.
Um constrangimento ampliado pela condução desastrosa do presidente da Câmara da época, Marco Barbosa, também do PSB, na proteção ao legislativo durante a votação que ficou conhecida como o ‘dia das cadeiradas’, com imagens que chocaram o Brasil e policiais militares e funcionários trocando agressões em meio às bombas e ao gás lacrimogênio.
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Mas voltemos aos números.
Mesmo com os cortes, e uma prefeitura próxima à paralisia, há dificuldades inclusive para pagar os salários em dia e o 13 só é garantido com empréstimo retirado pelo funcionário. Foi um 2018 com anúncios de investimentos, mas os efeitos na circulação de dinheiro na economia são tão lentos quanto as contratações, e o retorno dos impostos só chega dois anos depois.
Cortar todos os CCs não pagaria o décimo. Seria apenas um símbolo político, que não enche barriga e nem equilibra as contas do município.
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Na tuitada, o prefeito acusa o Simca de espalhar boatos. E diz que, quando há projetos, eles são enviados à Câmara. Mas, ainda mais pilhada por um ano de ‘reajuste zero’, a direção do sindicato nada mais faz do que se antecipar a uma polêmica inevitável. Com o rombo no Iprec, o instituto de previdência, dificilmente o governo de Cachoeirinha deixará de seguir o exemplo de Gravataí ao aumentar as alíquotas de contribuição do funcionalismo ao teto que permite o Supremo, 14%.
Uma reforma na previdência nacional poderia até adiar uma mexida nas contribuições ao Iprec, mas é mais fácil achar Jesus na goiabeira do que saber o que fará Jair Bolsonaro (PSL), que não trazia nenhum esboço em seu plano de governo e fugiu dos debates em uma campanha onde a nova ordem whatsappiana falou mais da mamadeira de piroca do que das contas públicas, desemprego e esses assuntos chatos que não viralizam nas redes sociais.
Ao fim, não parece bom para nenhum dos lados que o fórum dos debates seja o Grande Tribunal das Redes Sociais e sua linguagem característica. Passou do ponto o texto do Simca, que mistura xingamentos políticos com luta da categoria. “Mau caráter”, “novas tetas para mamar”, não parecem expressões apropriadas para espaços institucionais. Na entrevista ao Seguinte:, Juliano Paz também fugiu de seu tom conciliador ao falar em “má-fé” e “canalhice”.
Mas arrisco dizer que o tatame da irracionalidade é pior ainda para o sindicato, porque o governo tem maioria na Câmara para aprovar o que quiser. E, como ensinava Lula lá nas greves do ABC nos anos 80, não existe sindicalismo que sobreviva sem resultados.
Ouvindo aqui e ali funcionários de diferentes categorias, é possível prever que dificilmente o Simca consiga mobilizar uma greve como a de 2017, com 60 dias a maior da história de Cachoeirinha.
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