educação

OPINIÃO | O big brother da escola sem partido em Gravataí

Arte sobre cena de The Wall, filme do Pink Floyd

O big brother do ‘escola sem partido’ ainda não estreou oficialmente em Gravataí. Nos órgãos e sindicatos ligados à educação municipal e estadual consultados nesta segunda-feira pelo Seguinte:, não há registros de constrangimentos, como alunos filmando professores, denúncias de ‘doutrinação’, ‘ideologização de conteúdos’ ou agressões verbais ou físicas.

Também na câmara de vereadores ninguém tentou pegar carona na polêmica, como já aconteceu no episódio da lei aprovada e sancionada que tutela exposições e espetáculos de arte na cidade.

Dá até medo dar a idéia.

 

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O ‘escola sem partido’, ao ter o apoio do futuro presidente Jair Bolsonaro, é uma bomba de efeito moral lançada contra a liberdade de ensinar e aprender. Que não deve passar da retórica, mas de conseqüências desastrosas na relação aluno-professores-pais. E cujo barulho talvez ajude principalmente a desviar o foco de idéias que ‘privatizam’ a educação, como a ampliação do ensino à distância, desempregando professores principalmente nas zonas rurais – aí é preciso lembrar que o resultado do exame nacional de desempenho de estudantes (Enade) de 2017 comprova que os estudantes de ensino a distância alcançam os piores resultados: 46% dos cursos a distância avaliados tiraram notas 1 e 2, as mais baixas na escala de 1 a 5. Só 15% tiveram as notas mais altas (4 e 5). Já no ensino presencial, 33% das graduações receberam as piores notas e 29%, as melhores.

Mas voltemos ao ‘escola sem partido’. Em resumo: sem tirar o crucifixo da parede, a legislação que está em uma comissão especial da câmara dos deputados proíbe atividades que usem termos de gênero ou orientação sexual, ou que professores expressem suas opiniões ideológicas, religiosas, morais ou políticas. Usando um exemplo fático, temas como homofobia, racismo e intolerância religiosa não poderiam ser tratados em sala de aula.

Usando a expressão do general Villas Bôas, “no limite” talvez nem se possa recomendar o uso de camisinha num país onde a cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram grávidas e tiveram bebês – média acima da registrada na América Latina, conforme relatório da organização mundial da saúde (OMS).

– Mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce – prega o ‘mito’, induzindo ao discurso de que a sexualidade poderia ser moldada dentro da sala de aula.

Grosseiramente, algo como: se o ambiente molda a sexualidade, a cura gay é possível!

Como um Grande Irmão de 1984, de George Orwell, cartazes seriam colocados nas paredes ‘lembrando’ os ‘deveres’ dos professores.

Menos mal que os sinais do Supremo são de barrar o ‘escola sem partido’, caso seja aprovado pelo congresso. Um levantamento feito pela Folha de S. Paulo também mostra que em tribunais regionais iniciativas tem sido consideras inconstitucionais. Duas leis já foram suspensas por liminares. A última em setembro, em Taguatiringa, que proibia “atividades que reproduzam conceito de ideologia de gênero” – seja lá o que for ‘ideologia de gênero’ – foi anulada usando regramento da constituição federal que não permite “qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como quaisquer preconceitos de classe, raça ou sexo”.

 

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Não é com mordaça ou polícia na sala de aula que se evita a ‘ideologização’ de conteúdos, e sim com mais informação e debate. E aí vale para esquerda ou direita. Nada mais doutrinador do que se imaginar certo ‘substituir’ um ensino ‘de esquerda’ por um ‘de direita’, ou vice-versa. Mas hoje a geral parece questionar: para quê fatos? Para quê atrapalhar argumentos já imutáveis no momento em que se lê ou escreve nas redes sociais? Lamentável é que os indícios são de que esse mimo está vindo de casa, e esse discurso autoritário e fascistóide não precisa ser aprovado ou declarado inconstitucional para já fazer parte do dia a dia das escolas, como temos visto exemplos Brasil afora.

Em Gravataí pelo menos, a guerra ideológica ainda não iniciou seu ano letivo. Pelo menos nos registros oficiais, onde não consta nem o caso de polícia envolvendo dois professores, revelado dia 1º pelo Seguinte:. Se alguém souber de algo, me conte. Não tenho duvidas de que logo alguém será o comunista, a feminazi ou o fascista em algum vídeo publicado no Grande Tribunal das Redes Sociais.

Coitados dos professores!

 

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