Agosto, mês temido desde os romanos, marca um A.C e um D.C na política de Gravataí. Pelo menos na que testemunhei – e cobri jornalisticamente – nas últimas duas décadas.
Dá gosto – e não desgosto – ver os vereadores se comprometendo com um tema antes desconhecido e que não traz – até tira – votos, mas é necessário para o futuro da aldeia dos anjos.
É o agora cada vez mais famoso Ipag.
Talvez pela característica de renovação e juventude da nova legislatura, o que pelo menos pressupõe coragem, foi instalada nesta terça, com um representante de cada bancada, uma comissão especial, espécie de CPI, para investigar a situação financeira do instituto de previdência e plano de saúde dos 5 mil funcionários municipais.
LEIA TAMBÉM
CPI do Ipag na órbita dos vereadores
Agora governo e oposição querem investigar o Ipag
Por que não investigar o Ipag?
O Ipag é a ‘previdência municipal’, que se não interfere diretamente na aposentadoria dos quase 300 mil habitantes, faz de cada contribuinte, via repasses da Prefeitura, uma espécie de sócio do instituto.
Se a CPI do Ipag funcionar no Kinder Ovo da av. José Loureiro, entre outras coisas saberemos mais sobre:
1. O projeto controverso aprovado em 1996 no governo Edir Oliveira, num formato que o sindicato não queria desde o início, supostamente sem compensações previdenciárias adequadas e com alíquotas quase no chutômetro – sem um cálculo atuarial para projetar os fundos necessários para garantir aposentadorias passadas, presentes e futuras.
2. Os R$ 90 milhões da parte patronal (a contribuição da Prefeitura) não recolhidos pelos prefeitos Daniel Bordignon e Sérgio Stasinski, dívida que daqui a 12 anos, quando terminar de ser paga, terá custado R$ 300 milhões. E que, de certa forma, ajudou a financiar os dois governos que – olha o exotismo, por se tratarem de, pelo menos à época, esquerdistas – talvez sonhassem com a recuperação do caixa no futuro com os bilhões do capitalismo selvagem da GM (outra que veio porque recebeu incentivos e não foi embora porque esses benefícios foram agora renovados, ou estaria num arriba para o México – aqui, acendamos uma vela também à bolsonariedade do Trump.
3. Aparecerá também a ideologia ‘300 mil pagam por 5’ do atual prefeito Marco Alba que, sob a justificativa de um gasto de mais da metade da receita com folha e Ipag, congela o salários do funcionalismo – o que uns aplaudem, outros condenam, como acontecia também quando com o dinheiro que talvez fosse aquele da contribuição da Prefeitura para o instituto, Bordignon asfaltou ruas e livrou tiazinhas de estender a roupa na poeira; ou então que permitiram a Stasinski dar os maiores aumentos da história do funcionalismo de Gravataí.
LER TAMBÉM
Sem resolver Ipag, funcionalismo pode ter salário congelado por 15 anos
A 'aula pública' do sindicato dos professores sobre o Ipag
Mas mesmo que muitos esfreguem as mãos, esperando a vez do adversário na cruz, não parece hora adequada para a ideologia brigar com a matemática, ou para bastar apenas apontar vilões ou salvadores da terra dos dois aniversários.
Que a CPI convoque técnicos e especialistas em cálculo atuarial, mas também todos os prefeitos vivos, não apenas os segundos escalões que ficam pelo caminho. Inteligentíssimos, eles têm a bagagem e as explicações para dar, além de ajudar com suas experiências a projetar um futuro menos catastrófico para o Ipag.
Como jornalista veterano também faço a mea culpa de, por desconhecimento e inexperiência, não ter dado atenção que o tema merecia. Agora, não mais. O Seguinte: fará o possível para levar informações aos leitores.
E então parabéns, vai ficar bonita a foto de instalação da comissão, não importa quem propôs, se governo ou oposição, mas agora espera-se trabalho da CPI 'para ontem'. Até porque, ao fim, corporações políticas ou corporações de barnabés à parte, quem está sendo chamado do fim da fila para pagar essa conta é o povo.
A COMISSÃO DO IPAG
Além do presidente Alan Vieira (PMDB), integram a comissão Airton leal (PV), Alex Peixe (PDT), Bombeiro Batista (PSD), Carlos Fonseca (PSB), Evandro Soares (DEM), Fábio Ávila (PRB), Jô da Farmácia (PTB), Neri Facin (PSDB) e Roberto Andrade (PP).