O sangue negro, feminino e favelado está escorrendo pelas mídias e é perceptível o quanto isso incomoda a tantos.
Já vi muitos tiros no cadáver de Marielle desde sua morte.
Natural, já que o Grande Tribunal das Redes Sociais é a representação, tão bárbara quanto, da nossa Casa Grande e Senzala de todos os dias. Os suspeitos, os condenados e os executados são os mesmos de sempre.
Os sinhozinhos e capitães do mato também.
Monstros interiores parecem estar à solta, libertos por rajadas disparadas por quem sabia muito bem atirar, e o fez numa esquina do Estácio.
Mas o atentado e morte da socióloga fruto do pré-vestibular comunitário é também um tiro em cada um de nós.
Não precisa ser o homem nu do MAM, mas pele-se por um instante de ideologias. Não é difícil aceitar o fato – não versão – de que o ataque a Marielle é um ataque ao estado, à sociedade e, sim, eles existem, à voz do pobre honesto que não quer viver com medo de polícia, capitão ou traficante, playboy ou general.
Ou político.
Era uma vereadora eleita, que denunciava abusos não de policiais, mas de bandidos de farda, e principalmente de milicianos. Lutava pelos direitos humanos – conceito mais estuprado que conheço, por obra de titereiros que para exercer sua violência política, econômica, social e física mexem as cordas não só de manifestoches vips, mas de uma massa assustada que espera um cristo que quando aparece engana, trai, rouba e usa o medo para acelerar nossa transformação em uma quadrilha de intolerantes.
Aperceba-se de que quem está defendendo bandido é você, quando distorce os fatos, relativiza e, tipo um ministro do Supremo, concede habeas corpus preventivo aos matadores culpando a vítima.
Conformados por natureza, já éramos quase sempre uma simbiose dos três macacos: o que não enxerga, o que não ouve e o que não fala. Hoje que nos tornamos o quarto macaco, aquele com o celular na mão, infelizmente digitamos mal.
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