Ainda está tudo aparentemente quieto, como para o gurizote da batalha de Ituzaingo, no passo do Rosário, pra lá de São Gabriel, do outro lado do banhado de Inhatium.
– Vancê não sabe o que é inhatium? – pergunta Simões Lopes Neto, em O Anjo da Vitória, um dos Contos Gauchescos.
Mas, “como quando o coração trepa dentro da gente noite adentro”, logo chega “a castelhanada, a gritos, e já fumegando bala e bala!…”.
Confira no WhatsApp: ao escolher Beatriz Helena Miranda Araújo como secretária da cultura do estado, o futuro governador Eduardo Leite (PSDB) não vai escapar de ser alvo de dedinhos de armas, pelo menos metralhando ‘balas ideológicas’ por teclados no Grande Tribunal das Redes Sociais.
– Ela defende a pedofilia! Ela é incentivadora da ideologia de gênero! – gritarão mal informados, e principalmente informados do mal, sobre aquela que foi sua secretária na prefeitura de Pelotas e é uma entusiasta da obra do conterrâneo Simões Lopes Neto, considerado maior regionalista gaúcho e autor dos trechos que abrem este artigo.
É que logo alguém vasculha o perfil de Beatriz no Facebook e printa posts onde ela condena a censura à Queermuseu, exposição com obras que circularam pelo mundo, mas foram alvo de denúncia por ‘pornografia’ e ‘arte profana’ apenas ao chegar no Santander de Porto Alegre, em um momento em que o Brasil começava enxergar mamadeira de piroca em cima da goiabeira e, até em Gravataí, já legislaram sobre “conteúdo libidinoso”.
Podem copiar outra tela em que Beatriz apóia o #342artes, movimento liderado por Paula Lavigne, ex de Caetano Veloso e, para doutrinadores e doutrinados da nova ordem whatsappiana, vistos como tipos conspiradores que, ao lado de George Soros, querem destruir a família e esquerdopatizar o mundo terraplanificado.
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Uma coisa é certa: o currículo de Beatriz e as relações republicanas com o mundo da arte e da cultura pouco importarão aos fanáticos sempre fardados para Grande Guerra Ideológica Nacional.
Bobagem ideológica que, pense um pouco, não enche barriga. Mas que atrapalha a comunhão entre as pessoas, para usar uma palavra abençoada, e que em consequência influencia decisões econômicas, tanto de curto prazo, ao afetar o dia a dia de trabalhadores e empresas, quanto de longo prazo, porque define investimentos públicos e privados – Não eu, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos queridinhos do mercado, é quem diz (tratei disso no artigo do link abaixo).
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Como o governador eleito não vai recuar (e não tem porque, já que a escolha, mesmo que não dê certo, pelo menos não debocha de quem faz cultura) não surpreenderão haters de facebook evocando até Bia Leite, autora de Criança Viada, série de pinturas que tanto chocou o MBL e foi o alvo principal da polêmica do Queer.
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