Vereadores precisam mais cuidado com os projetos que apresentam. Principalmente em tempos de Grande Tribunal das Redes Sociais e seitas lavajatistas que criam no imaginário popular o sentimento de que basta ser político para ser uma unanimidade – do lado mal da força.
Até porque as curtidas do dia tendem a virar a revolta da noite.
Apresentar projetos demagógicos torna alvo não apenas o governo de plantão, mas todos os políticos, porque as soluções mágicas não saem do painel de votações para a vida real. Uma hora o eleitor percebe. E como hoje os políticos são todos culpados até provar o contrário, a generalização pega geral.
Uma rápida navegada pelos projetos expostos no site da Câmara de Gravataí mostra que os parlamentares parecem querer mostrar serviço e estão cheios de boas intenções – isso, claro, partindo do pressuposto de que a intenção não é enganar o eleitor. Mas como não podem criar gastos públicos, em algumas oportunidades chamam um desgaste desnecessário para o legislativo ao perderem-se em propostas nitidamente inconstitucionais ou infactíveis, que não prestam para nada além de aparecer às custas de algum tema do momento, dar uma satisfação momentânea ao eleitor e/ou produzir um bom vídeo, selfie ou panfleto de campanha.
É uma realidade do país. Pesquisa do site Consultor Jurídico mostra que de cada 10 leis produzidas pelas câmaras municipais, nove acabam derrubadas pelos tribunais de justiça porque ferem a Constituição ou mesmo direitos de privacidade ou comerciais.
Quem não gostaria de acabar com as filas de exames e cirurgias pelo SUS? Quem não gostaria de pediatra nas creches, sem precisar se preocupar com as crianças que já esperam por horas em um hospital e quando não há nem profissionais suficientes se formando, ou aceitando os salários públicos, para atender a demanda?
Quando um vereador vende a idéia de que isso pode ser resolvido em um canetaço do prefeito, ou na votação de simples projetos, demonstra desconhecer como funciona o sistema de saúde, suas burrocracias e os limites orçamentários dos governos.
Sim, porque até prova em contrário não é admissível acreditar que alguém usaria a tragédia dos outros apenas para benefícios políticos pessoais.
Almoço de graça na casa dos outros também se mostra uma forma de caçar curtidas no Facebook. Há projetos para obrigar restaurantes a dar desconto para quem fez cirurgia de redução de estômago, proposta de obrigar empresas a contratar pessoas acima dos 50 anos ou proposição que exige que instituições bancárias públicas ou privadas, além de cooperativas de crédito, contratem vigilância privada armada para atuar 24h, inclusive sábados, domingos e feriados.
Há projeto que reserva todos os bancos dos ônibus para pessoas idosas e gestantes.
Quando a gente lê sobre gente que é presa por divulgar blitz, também tem projeto que prevê que se divulgue toda semana, com uma antecedência de três dias, onde estará o radar móvel.
Isso sem falar em desnecessárias efemérides, principalmente religiosas, cujas homenagens logo necessitarão de mais do que 365 dias no calendário para realizá-las.
A grande maioria dos parlamentares entende seu papel, mas vai junto para a marca da cal. Muitas vezes votando a favor de propostas populistas por obrigação, para não ter que ficar se explicando nas redes sociais.
Ao fim, é a política que perde mais uma.
Certamente cada vereador sonha em transformar sua cidade numa Suíça.
É preciso cuidar para que não vire uma Nova Bréscia.
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