Oratória para mulheres na política é um tema necessário e urgente nesse momento em que se tenta ampliar a representatividade feminina em cargos eletivos e em espaços públicos de poder. Apesar de estarmos avançando nisso, ainda há muitos desafios a serem enfrentados e um deles é a capacitação das mulheres para exercerem liderança na política.
Pensada nessa perspectiva, a oratória deixa de ser um conjunto de técnicas que permitem falar bem em público para se transformar em ferramenta e estratégia de marketing político. Podemos questionar por que devemos falar em oratória de forma específica para mulheres e, também, o que diferencia a oratória para homens na política da oratória para mulheres na política.
Quando recebi o convite da deputada estadual Patrícia Alba para falar sobre oratória durante o evento “Conexão + Mulheres Eleitas”, realizado no dia 4 de junho, em Porto Alegre, me vi diante do desafio de refletir sobre essas questões. Parti da premissa de que há diferença entre a oratória como a arte de falar e argumentar bem em público para a oratória política e desta para a oratória das mulheres na política, tenham elas mandato ou não.
Penso que a diferença entre as duas abordagens encontra justificativa na distância entre o momento no qual os homens começaram a usar as tribunas para discursar, argumentar e agir politicamente sobre o mundo e o momento em que as mulheres passaram a ter esse direito, algo bem recente em diversos países no mundo e não apenas no Brasil.
Alzira Soriano foi a primeira mulher a disputar um cargo público no Brasil. Ela tinha 32 anos e foi eleita prefeita da cidade de Lages, um município do interior do Rio Grande do Norte. O ano era 1928 e as mulheres ainda não podiam votar no país, o que, o que só seria possível em 1932, com a promulgação do Código Eleitoral, pelo então presidente Getúlio Vargas.
É fundamental essa compreensão de que algumas práticas pertenceram, por séculos, ao domínio masculino, sendo que as mulheres passaram a se ocupar delas muito recentemente. A política é um desses domínios, assim como o direito, a pesquisa, a vida acadêmica, o mundo do trabalho, o mercado financeiro e a vida pública.
Na prática, uma série de circunstâncias históricas e culturais leva ao discurso de que há uma tendência natural, entre os homens, para a política, algo que não é possível encontrar nas mulheres. A oratória política, dentro desse universo, também é vista como uma prática sob domínio masculino. Uma ideia equivocada que leva a outras capazes de sustentar o preconceito e a exclusão, assim como a ideia preconceituosa da fragilidade emocional das mulheres.
Investir, portanto, em oratória para mulheres na política é muito mais do que ensiná-las a falar bem e a se apresentar bem. O discurso vazio do empoderamento já não cabe mais, pois há necessidade de que as mulheres assumam o protagonismo de sua participação e não se submetam à subalternidade forjada na estrutura que as faz se sentir menos aptas e que as leva a preencher cotas de candidaturas sem apoio ou estrutura para que se lancem, de fato, em campanhas vitoriosas.
A oratória entendida como ferramenta e estratégia de marketing político e eleitoral é o que vai permitir às mulheres não apenas falarem bem, mas falarem com segurança e consistência. E, convenhamos, nada pode ser mais empoderador para uma mulher do que a inteligência e seu uso para argumentar, convencer, debater e se inserir no ambiente da política e do exercício do poder.
Assim, falar bem em público para quem se deseja lançar no universo da política ou para quem já está dentro dele supõe que se compreenda e se consiga argumentar com base em conhecimentos sobre as dinâmicas da gestão pública, sobre o funcionamento da sociedade, sobre os domínios e desafios do processo democrático e das práticas culturais que regem e constituem nossa sociedade.
É preciso admitir que formar lideranças femininas na política supõe mais do que ensiná-las a discursar. É preciso mostrar as diferentes possibilidades de construir discursos coerentes e potentes, capazes de abrir espaços e escutas. Mulheres na política precisam conhecer, na mesma medida dos homens, os desafios do universo político. Elas precisam ser protagonistas de suas vidas públicas, inspirando outras mulheres e fortalecendo a legislação que garante sua participação nos processos eleitorais.