Embora não confirme oficialmente, nos bastidores a Polícia Civil apura a possibilidade de uma organização criminosa estar por trás do casal suspeito do desvio de vacinas contra a COVID-19 e de medicamentos em Viamão. Descobrir há quanto tempo o suposto esquema era operado, os beneficiados e a extensão do prejuízo causado à Saúde Pública são os passos seguintes da investigação.
A dupla foi presa em flagrante nesta quarta-feira (9). Eles são servidores concursados da Prefeitura e dividem uma residência no município (o bairro e as identidades não foram divulgados). No quarto do casal, a Polícia encontrou medicações, diversos insumos médicos, como seringas, receiturários em branco, carimbos, e um frasco da Coronavac – tudo desviado do Sistema Único de Saúde, conforme apuração inicial. Além dos materiais furtados, foram apreendidos celulares e cartuchos de munição.762, de uso restrito das forças de segurança pública.
O delegado responsável pelo caso, Júlio Fernandes Neto, chama atenção para o volume aprendido.
– Esses insumos claramente vinham de apropriação indevida da secretaria. Nós começamos a colocar sobre a cama do casal e faltou espaço para catalogar tudo o que encontramos – destacou o delegado em entrevista ao site GZH.
Além da possível venda dos medicamentos desviados, bem como atestados e receitas falsas, a Polícia Civil busca esclarecer se outras doses da vacina contra a COVID-19 foram furtadas.
– Sabíamos que não encontraríamos provas (de aplicação da vacina) no ato, pelo uso rápido que é dado ao imunizante. É aplicado e jogado fora (frasco). Mas com celulares e outros aparelhos apreendidos, acreditamos que conseguiremos chegar a uma rede de distribuição de todos esses medicamentos, inclusive das vacinas – afirmou Neto, também a GZH.
O delegado lembra que as pessoas que eventualmente se beneficiaram das ações da quadrilha também recorrem em crimes e podem responder à Justiça.
A dupla foi presa em flagrante pelos crimes de peculato, infração de medida sanitária preventiva majorada e tráfico majorado de drogas. Também foi pedida a prisão preventiva e afastamento cautelar dos servidores de suas funções públicas até o fim das investigações.
Tão logo as prisões foram tornadas públicas, a Prefeitura afirmou ao Seguinte:/Diário de Viamão que não se manifestaria, embora tenha partido dela a denúncia do suposto esquema, o que teria originado a investigação policial. Horas depois, quando a Rádio Gaúcha questionou o tema, o Poder Executivo municipal divulgou nota oficial.
Siga a íntegra da nota:
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Nos últimos dois anos, a gestão da saúde de Viamão passou por diversos problemas de natureza ética e moral, ficando marcada por escândalos, desvios e afastamento de prefeito e secretários.
Ao assumirmos, em 1° de janeiro de 2021, dedicamos atenção especial à saúde, não só pelos motivos citados acima, mas também pelo sucateamento do sistema como um todo. De forma inédita, o próprio Prefeito assumiu e está a frente da Secretaria de Saúde.
Estamos entregando resultados positivos e reconhecidos pela população. Somos destaque na vacinação da Região Metropolitana, já tendo imunizado todos os grupos prioritários e estando na faixa de 55 anos.
Isso só está sendo possível porque temos um grupo de funcionários competentes e que cumprem de forma dedicada a missão de atender a população. Assim como nós, eles também não toleram mais nenhum ato de desvio, como o que se via no passado recente.
A Prefeitura de Viamão informa que tão logo surgiram indícios sobre os fatos, levou ao conhecimento da autoridade policial, possibilitando de forma decisiva que a Operação tivesse o desfecho de hoje. Não toleramos e não somos coniventes com qualquer tipo de desvio dessa natureza. Assim como neste caso, todas as atitudes necessárias foram e serão tomadas
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