SOS Xará

Os 50 segundos que arrasaram o Xará

Ventania do final da madrugada de segunda derrubou 15 postes, árvores e destelhou casas

Furacão, ciclone tropical ou extra-tropical, ventania… Não importa o nome que seja dado ao fenômeno que cruzou pelo Loteamento Xará e destruiu parte das moradias que abrigam as aproximadamente 3.500 famílias que habitam a região.

Foi na madrugada de segunda-feira, poucos minutos depois das 5h. E, segundo o pedreiro Adriano Lopes, de 28 anos, foram 50 segundos de vento forte, tempo suficiente para derrubar árvores, postes da rede de energia e destelhar dezenas de casas.

Nem todo o loteamento foi atingido com a mesma intensidade, e os danos maiores aconteceram mesmo na avenida Princesa Isabel. Só nesta via caíram oito postes de madeira.

 

: Banheiro da casa onde moram Maryana e Adriano ficou, literalmente, sem teto

 

Sem cobertura

 

Nesta quarta-feira, perto do meio dia, com sol tímido e ameaça de novas chuvas, algumas pessoas tratavam de repor as telhas de fibrocimento que foram arrancadas pela ventania. Outras colocaram os sofás na rua, para secar.

E não faltou quem lamentasse estragos bem maiores como a dona de casa Maryana Hahn, 28 anos. A casa onde ela mora com o marido, Adriano, e os dois filhos, ficou com telhado danificado.

O que não foi arrancado pelo vento acabou quebrado pelas telhas que voaram da casa vizinha. O banheiro da moradia de Maryana e Adriano ficou, literalmente, sem teto. Sem uma coberturazinha mesmo!

 

: Vento derrubou árvore sobre uma das casas e uma pessoa precisou ser socorrida

 

Agilidade e palmas

 

Pelas ruas era possível ver ainda hoje fios caídos, pedaços de telhas e tocos dos postes de madeira da rede elétrica, que acabaram serrados. Adriano e Mayara moram há um ano e quatro meses no Xará, e foi o primeiro vendaval que enfrentaram.

E deu para ficar assustado?

— Se deu pra assustar? Deu, e muito! — diz Adriano, espichando o muito e emendando uma gargalhada.

Conforme o pedreiro o único elogio cabível, hoje, foi para a empresa terceirizada da Rio Grande Energia (RGE) que ainda na segunda-feira substituiu todos os postes caídos, que eram de madeira, por postes de concreto.

— Eles foram muito eficientes, estão de parabéns — diz o pedreiro.

Ele completa:

— Eles saíram daqui aplaudidos pelo pessoal quando terminaram o serviço.

 

: Pelo menos 15 postes de madeira foram derrubados pela ventania de segunda-feira

 

Danos materiais

 

A dona de casa Rosane Gomes, de 56 anos, teve o telhado da casa onde funciona a oficina mecânica do marido bastante danificado. Pior: a casa ao lado, onde ela realmente mora, ficou sem teto. E a do filho dela, também.

— Menos mal que foram só danos materiais e que estamos todos bem — diz a mulher, reclamando apenas da falta de lonas para cobrir a casa-oficina onde está com o marido e uma filha deficiente física, de 22 anos.

Na casa ao lado o telhado foi totalmente arrancado e os pedaços das telhas de fibrocimento ficaram espalhados pelo pátio. A dona de casa quase chora ao mostrar a residência do filho, também quase totalmente sem cobertura.

— Ele perdeu tudo. O pouco que sobrou a gente botou numa peça (cozinha) e cobrimos com os cacos de telha que conseguimos juntar — revela.

 

: Rosane Gomes, na casa do filho, com telhado completamente arrancado: perda total

 

Da Stela

 

A família de Rosane está há 17 anos no Xará, reassentada como remanescente da invasão da área da antiga Cerâmica Stela, na RS-118 e vizinha ao Loteamento Tom Jobim.

Ela conta que o Loteamento Xará foi projetado para reassentamento de 570 famílias mas que, hoje, são aproximadamente 3.500 as famílias que estão no local, boa parte na condição de invasores.

Rosane não reclama da estrutura do lugar, diz que até é bom morar no Xará, mas acha que determinadas situações – que exigem providências mais rápidas – não recebem atenção com a agilidade necessária. 

 

Defesa Civil

 

O coordenador da Defesa Civil de Gravataí, José Lemos, garantiu agora há pouco que até sexta-feira todas as famílias cadastradas receberão lonas e telhas. Ele explicou que a ação depende de procedimentos legais que demandam tempo.

Primeiro Lemos explicou que o que aconteceu no Xará foi uma microexplosão, ou seja, o choque entre uma frente fria da madrugada e uma massa de ar quente, que atingiu especialmente a Princesa Isabel e mais duas ruas paralelas.

Foram atingidas 115 casas., sendo que 113 tiveram danos parciais e três sofreram destruição total. Todas as famílias já foram cadastradas para distribuição de cestas básicas, lonas e telhas.

 

: Funcionários da Defesa Civil de Gravataí fizeram o cadastro das famílias atingidas pelo vendaval

 

Comprado

 

Os oito rolos de lonas, com 100 metros cada, que a Defesa Civil tinha estocado já foram distribuídos, de acordo com José Lemos. Nesta quarta foram comprados mais 10 rolos de lonas e 1.500 telhas com espessura de 4 milímetros, cada.

Depois do pagamento, que já estava sendo providenciado agora à tarde, a Defesa Civil  fica na dependência da entrega para que então sejam providenciados transporte e pessoal para ir ao Xará fazer a distribuição para as famílias cadastradas.

— Podemos garantir que as lonas vão ser distribuídas até amanhã (quinta, 12/1) e as telhas, no máximo, até sexta à tarde — assegurou o coordenador da Defesa Civil.

 

A micro-explosão:

– 112 casas com destelhamento parcial

– 3 casas com destelhamento total

– 6 árvores derrubadas pelos ventos

– 15 postes da rede de energia derrubados pelos ventos

– 1 pessoa ferida, medicada e já liberada

– 115 famílias cadastradas na Prefeitura

– 8 rolos de lonas já distribuídos

– 10 rolos de lonas comprados para serem distribuídos até esta quinta-feira

– 1.500 telhas compradas para distribuição até sexta

 

Serviços urbanos

 

— Estamos com todas as nossas equipes mobilizadas para desobstrução das vias nestes locais, bem como para recuperação da iluminação pública — disse na segunda-feira o secretário de Serviços Urbanos, Paulo Garcia. A distribuição de energia foi restabelecida no mesmo dia.

 

 

 

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