crise do coronavírus

Os ’900 de Gravataí’: Régis, Emerson, Elenilson, Naja, Vanessa, Tassiane e os heróis da linha de frente da COVID

Médico Régis Renosto atua em três das principais portas de acesso para pessoas com sintomas de coronavírus

De um lado um inimigo letal, invisível e desconhecido. De outro, sem tempo para ter medo, os profissionais de saúde das linhas de frente em uma batalha contabilizada em milhares de vítimas. Desde o dia 24 de março de 2020, quando surgiu o primeiro caso de contaminação em Gravataí, já são 13.573 contaminados e 309 óbitos, segundo registros da última quinta-feira. Hoje, são em torno de 900 profissionais travando diariamente uma guerra contra a Covid-19. Eles estão no Hospital de Campanha (183), Unidades Básicas de Saúde – UBSs e Unidades de Saúde da Família – USFs (606), PAM 24 Horas (65) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU (27).

São pais, mães, filhos, irmãos, netos. Sofrem igualmente com os horrores de um mal que não dá tréguas. Enquanto o mundo se protege, eles seguem com as rotinas totalmente alteradas e vidas completamente modificadas. É o caso do médico Régis Renosto, de 42 anos, que atua em três das principais portas de acesso para pessoas com sintomas de coronavírus no município. Profissional do Hospital de Campanha, da Enfermaria do Pronto Atendimento Médico (PAM) e do SAMU, Régis lembra que este é, sem dúvida, um dos momentos mais desafiadores da sua vida profissional.

Assim que as primeiras informações começaram a chegar, Régis foi sendo tomado pela ansiedade de lidar com uma doença desconhecida. Entre os casos mais marcantes, ele recorda de duas cenas que o impactaram: uma quando um filho chegou com a mãe nos braços, e ela morreu logo em seguida, e outra quando uma idosa de 83 anos, após 14 dias internada e no oxigênio, recebeu alta e saiu caminhando.

– Em julho do ano passado, eu me contaminei com a Covid-19. Foram 14 dias angustiantes de isolamento. Ficar longe das pessoas é muito difícil, mas a vacina está aí e isso nos dá uma esperança – relata o médico.

Colega de Régis nos atendimentos do SAMU, Emerson Paiva, de 43 anos, que atua como enfermeiro, conta que ver colegas sendo contaminados e alguns morrendo mudou sua forma de ver a vida. No ano passado, ele contraiu a Covid-19, ficou internado durante 28 dias no oxigênio e pôde sentir na pele todos os piores sintomas da doença. Hoje vacinado, o profissional lembra que o momento da imunização foi como um alívio, um sentimento de esperança de que está mais próximo o fim dessa pandemia.

 

: Enfermeiro Emerson Paiva

 

A falta de contato presencial com a família tem sido um dos maiores desafios para os profissionais de saúde. Para o motorista do SAMU Elenilson Lopes Félix, de 49 anos, pensar no fim da crise causada pelo coronavírus traz uma esperança:

– Quero poder abraçar e conviver muito mais com as pessoas que amo.

Solteiro e pai de uma filha, ele comenta que, durante a pandemia, a rotina de trabalho tem sido extremamente cansativa, física e psicologicamente. Longe dos pais, que fazem parte do grupo de risco, Félix abraçou a responsabilidade de estar à frente do combate à Covid-19.

 

Motorista da SAMU Elenílson Félix 

 

Em um momento em que a assepsia é uma das maiores armas de prevenção contra o vírus, os profissionais da higienização trabalham como nunca para tornar os ambientes mais seguros. Para Naja Voltz, 26 anos, que atua na higienização de postos de saúde há mais de sete anos, a rotina mudou muito nos últimos meses, tornando os protocolos ainda mais rígidos:

– Agora, todos os equipamentos são descartáveis e, a todo o momento, os ambientes são higienizados.

Ela lembra que não entra nenhum paciente nas salas sem que, antes, um profissional higienize o local.

– De certa forma, a nossa profissão passou a ser mais valorizada agora, porque, sem higienização, ninguém trabalha – afirma Naja, que conta ainda que, além da rotina profissional, a vida pessoal também teve que ser adaptada.

 

Profissional da higienização Naja Voltz

 

Uma das estratégias da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para aumentar a oferta de atendimentos foi destinar metade das consultas da rede de atenção básica para os pacientes suspeitos de contaminação por Covid-19. Coordenadora da USF São Vicente, profissional da saúde desde 1988, a enfermeira Vanessa Tarragô lembra que, assim que os primeiros casos começaram a aparecer, o medo e a ansiedade também chegaram:

– A todo o momento, os protocolos eram modificados e tínhamos que nos adaptar às novas determinações que iam chegando, até que tivéssemos mais informações sobre esse inimigo invisível contra o qual lutamos.

Segundo Vanessa, foi preciso muita adaptação e calma para conduzir a equipe da unidade.

– Os profissionais da unidade, assim como eu, sentiram medo, porque é aqui que prestamos o primeiro atendimento às pessoas com sintomas da Covid-19.

 

Enfermeira Vanessa Tarragô

 

A alteração da rotina também tomou conta da vida da Tassiane Marques Bartz, de 29 anos, enfermeira do Hospital de Campanha. A jovem, que mora com os pais, o irmão e o noivo, diz que o ambiente de trabalho mudou muito no último ano. Hábitos como intensificar a lavagem de mãos e uso de álcool em gel, bem como higiene de objetos pessoais e roupas usadas fora do domicílio, viraram rotina.

– Apesar de tudo que estamos vivenciando, a enfermagem trabalha forte e unida. Juntamos conhecimento técnico científico e amor para tentar amenizar os efeitos deste vírus na nossa população – enfatiza, emocionada, a jovem profissional.

 

Enfermeira Tassiane Bartz

 

Enquanto continuam enfrentando os desafios da pandemia, os heróis da saúde, como têm sido chamados ultimamente, seguem em meio às rotinas exaustivas e plantões prolongados, buscando forças para que os pacientes e familiares tenham esperança de que tudo isso irá passar o mais rapidamente possível, além de clamar para que toda a população, além de os admirar, também ajude-os se cuidando e cumprindo com os protocolos sanitários, porque, para eles, não importam números, mas, sim, as vidas "recuperadas".

 

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