Na parede da principal sala do Gabinete do Prefeito, um banner destaca a frase que resume o turbilhão de ações e reações, fatos e atos aos quais a cidade está submetida: “Viamão em Movimento”.
Nunca na história do município, um slogan de gestão foi tão acertado.
Na sala que, nos últimos dois anos, já foi de André Pacheco, de Russinho, foi reclamada por Nadim Harfouche e que pode voltar a ser de Pacheco – a depender do Judiciário e dos acertos políticos – Evandro Rodrigues (DEM) agora comanda Viamão.
Não sem antes uma das mais caras batalhas já travadas no Legislativo e na esfera partidária – e que ainda está longe do fim.
Confira a cobertura especial do Diário de Viamão/Seguinte::
A desistência
O sábado (25) terminou com Dilamar Jesus (PSB) ainda no páreo. Era o discurso oficial. Horas antes, havia avisado que aguardava resultados de exames médicos para bater o martelo. Nos bastidores, pesaram questões além da saúde. O presidente licenciado da Câmara é conhecido por sua trajetória profissional fora da política, e não abriu mão do vínculo, além de crenças pessoais de foro íntimo e religioso.
A estratégia
Com Xandão Gomes (Republicanos) decidido a renunciar a vaga na mesa diretora da Casa do Povo, centrava-se novamente no segundo vice-presidente Evandro a estratégia do grupo que tem o MDB de nomes como Sarico Moura e Joãozinho da Saúde, o PSB de Geraldinho Filho e aliados para a manutenção da Prefeitura.
A noite/madrugada foi de pouco sono. Geraldinho, Evandro e o procurador Diego Beretta analisavam caminhos, ações, entendimentos legais e buscavam o livro de posse, até então em local incerto desde de que atravessou o Paço Municipal com Nadim e Eraldo Roggia na sexta-feira (24).
– É um documento histórico, tem registros de posses desde pelo menos os anos 1940. Ainda estamos atrás dele – disse o diretor geral da Câmara. Geraldinho Filho.
Na falta do livro, a saída encontrada horas depois foi registrar a posse eletronicamente.
A renúncia
A manhã de domingo foi de ajustes (26). Documentos eram reunidos, a movimentação de Eraldo, Nadim e outros nove parlamentares que votaram pela destituição da mesa diretora na quinta – e que ingressara na Justiça no dia anterior (25) para pressionar Dilamar– era acompanhada.
Por volta das 14h, foi feito pelo site do Legislativo o anúncio oficial da renúncia de Xandão. Ato contínuo, Evandro era presidente.
O caminho para a Prefeitura estava aberto.
A posse
Um a um, os líderes dos partidos aliados por Evandro foram chegando ao plenário Tapir Rocha. Sarico sentou-se próximo da Tribuna, de onde assistiu à posse. Os demais juntaram-se a apoiadores e assessores pelo plenário. Orlando Gomes, secretário de Administração do Executivo, carregava em suas mãos o termo de posse.
Evandro circulava entre as mesas com visível ansiedade. Conversava, ajeitava a máscara, esfregava as mãos. Geraldinho providenciava os últimos detalhes. Organizava a cerimônia de transmissão de cargo como um relações públicas.
Evandro conferindo os preparativos para a transmissão do ato pela Internet
Com praticamente a lotação máxima permitida por conta dos protocolos de prevenção ao coronavírus, às 16h30min, teve início o ato: À mesa, Orlando leu o termo. Às 16h38min, Evandro fez o juramento e, na sequência, assinou o documento.
A Administração de Viamão está sob comando do mais jovem prefeito da história.
Evandro e o secretário Orlando Gomes
O discurso
Evandro agradeceu aos presentes, o apoio do grupo político e pediu harmonia entre os vereadores para garantir a governabilidade de Viamão.
– Conversando com a família, com amigos e eleitores, decidimos assumir esta responsabilidade, mesmo sabendo que não poderemos concorrer à reeleição a vereador. Mas é muito mais. É o compromisso de defender a vida de cada cidadão da nossa cidade. Não podemos esperar mais para o enfrentamento ao coronavírus, que já levou centenas de milhares de vidas em nosso país. A partir de agora, conto com esta casa legislativa, na presença de seu presidente em exercício, de seus vereadores. Preciso de apoio para que possamos enfrentar juntos, sem disputas políticas, sem vaidades pessoais, esta doença. Faço este apelo público aos meus colegas. Quanto mais demorarmos, mais vidas estarão em risco – afirmou, antes de agradecer a Deus e aos Orixás pela oportunidade.
A cadeira
O passo seguinte foi ir até o Gabinete. A travessia entre os poderes foi feita ao lado dos vereadores Joãozinho da Saúde (MDB) e Jessé Sangalli (Cidadania) e de Sarico. Orlando Gomes ia à frente com o pessoal da Guarda. Apoiadores seguiam atrás do agora prefeito em exercício. Às 16h58min, a porta era aberta para Evandro. Posou para uma foto e entrou com vereadores, o secretário da Administração e dirigentes partidários.
Em respeito a Russinho, com quem tinha uma relação próxima e fraternal, e por motivo pessoal, pediu que a cadeira de prefeito fosse substituída. Quando ocupou a ponta da mesa em que sentam o chefes do Executivo municipal, chorou.
– É por ele que faço isso, pela memória dele. Era ele quem deveria estar aqui – repetia Evandro em referência a Russinho, enquanto era amparado por Sarico e Joãozinho.
Minutos depois, solicitou a entrada de sua mãe de religião, a abraçou e voltou a chorar.
Reuniões
Refeito, passou a conversar com secretários. Administração e Saúde foram as primeiras pastas. A adjunta da Saúde Thais Schadeck forneceu informações (o titular Glazileu Aragonês está em isolamento aguardando exames para COVID-19).
Às 21h, fez uma pausa breve para atender ao Diário de Viamão.
– Às 10h, tenho reunião marcada com o diretor técnico do Hospital Viamão (João Almir Camargo Jorge) para concluirmos o aluguel de 20 leitos para pacientes com COVID-19. E desde já, peço à população para que entendam e sigam as orientações para que evitem esta doença – afirmou.
O político de 26 anos que assumiu a Prefeitura ainda seguiu em reuniões por mais algumas horas. Tinha retorno marcado ao gabinete para 6h30min desta segunda-feira para novas agendas.
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