3° Neurônio | crônica

Os boçais atacam novamente | Ernani Ssó

Cena de O Clã das Adagas Voadoras

 

 

Dia desses, na esteira do Festival de Besteira que Assola o País, do Sérgio Porto, falei do Festival de Boçalidade que Assola o País, mazela que tinge a língua portuguesa de feiuras inomináveis, e hoje recebo a primeira colaboração de um leitor, nada menos do que o pesquisador Antonio David Cattani, autor do fundamental A riqueza desmistificada (Editora Marcavisual), livro escrito durante um ano de estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Abro aspas pra ele:

“Fui comprar um piso antiderrapante para o banheiro. A vendedora, corpo de top model e cérebro idem, se saiu com essa:

“– Esse produto tem um baixo nível de escorregância…

“Saudações desoladas”.

Eu, um caso perdido notório, pensei imediatamente em literatura: gosto que meu texto tenha alto nível de escorregância e, como se verá abaixo, na boca de Graham Greene, baixo nível de tropicância.

 

Lei da gravidade

 

Depois de meditar longamente num mosteiro, no alto de uma montanha, concluí que não gosto de filmes em que a lei da gravidade não existe ou funciona só vinte por cento. Não falo de ficção-científica, claro, e sim desses filmes de ação em que o mocinho faz o que nenhum acrobata consegue. Nunca o corpo é tão usado como nesses filmes, mais até que em pornôs, só que tudo é tão leve e fácil que parece desenho animado. Me divirto com alguns, como os do Jack Chan ou essas fantasias do tipo O clã das adagas voadoras. Mas gosto pra valer de filmes como os do Werner Herzog, onde um homem de setenta quilos pesa setenta quilos, onde um barco tem o peso de um barco, onde caminhar na floresta é caminhar na floresta como qualquer um que andou apenas num parque pode sentir que é assim que se caminha. A sensação física que um filme do Herzog me desperta é uma das maiores experiências que o cinema me deu.

Agora, no esporte, me acontece o contrário. Quanto menos percebo a ação da gravidade, melhor me parece o atleta.

 

Em Um caso liquidado

 

Graham Greene: “Um escritor não escreve para seus leitores, não é mesmo? No entanto, tem de tomar todas as precauções elementares para que eles se sintam bem”.

 

Dicionário do mau digitador

 

Probrama. Sair pra tomar umas cervejas.

Poessessiva. Apaixonada ciumenta do Edgar Allan Poe.

Escroito. Um filho da mãe na oitava potência.

 

Leituras

 

Mario Quintana: “Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar. Que ideia foi essa do teu professor? Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre. Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho”.

 

Ernani Ssó é escritor, vive em Porto Alegre. Colabora com os sites Coletiva Net Sul21, e virou colaborador fixo do Seguinte:

 

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