Não é fácil para as mulheres ocupar espaços de poder. Uso para a constatação uma exemplo atual, a ‘Vaza Jato’, que está aí para, pelo menos, permitir aquele emoji de dúvida, da mãozinha no queixo.
Nas mensagens de chats no Telegram repassadas ao The Intercept Brasil por fonte anônima, o juiz Sérgio Moro já ‘sugeriu’ o afastamento da procuradora Laura “não vai muito bem” Tessler dos interrogatórios de Lula, no caso do triplex, o que o ‘chefe’ da Java Jato, Deltan Dallagnol, logo providenciou.
Depois, Carmem Lucia, ministra do Supremo Tribunal Federal, é alvo do deboche como “amiguinha” de Gilmar Mendes e descrita como “frouxa”.
Sexta, em diálogos analisados pelo El País, uma nova ‘vítima’, como mostra a reportagem “O barraco tem nome e sobrenome. Raquel Dodge”, o retrato da procuradora-geral segundo a Lava Jato.
Curiosamente, sempre homens atacando mulheres, em chats onde, por exemplo, o ex-procurador Rodrigo Janot era vaselinado.
“Top”, na linguagem coxinha.
Na política, então, é pior… Dilma é obrigada a ainda hoje, como se fosse uma coisa normal, testemunhar um presidente da República passar pano em sádicos e tarados que a torturaram e a outras tantas crianças e adolescentes.
De políticas na ativa, Maria do Rosário e Janaína Paschoal, para usar exemplos dos dois lados da ferradura, quando tratadas por loucas ou histéricas talvez considerem elogio, frente às metralhas de xingamentos muito mais baixos, fake news e ódio direcionado a elas e, no caso da gaúcha, à filha e a família.
Não dá para esquecer de lembrar Gleisi Hoffmann, no Grande Tribunal das Redes Sociais memezada como ‘marmita de presidiário’ por barbados e por tantas mulheres sem vergonha.
E Marielle Franco? Mesmo assassinada a tiros, volta e meia ainda é crivada de balas que miram sua reputação – até desembargadora já disparou fake news!
Em Gravataí não é diferente. As mulheres encontram dificuldades em eleições. Rosane Bordignon sofreu em 2017, Patrícia Alba, em 2018, com apelidos e desconstruções nas redes sociais, invariavelmente oriundos de covardes perfis falsos.
Pior é que, quando uma chegou lá, Rita Sanco, foi impichada. É claro que, de forma cínica e oportunista, já que não havia nenhuma denúncia de corrupção, e os 11 itens da cassação restaram arquivados por Ministério Público e Judiciário, referida desde sempre por beneficiados com o golpeachment como “uma mulher honesta”, mas “sem habilidade política”.
É só uma reflexão, da qual excluo Cláudia Cruz, bem tratada por Moro e a Java Jato. Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra. Mas que parece, parece, não? Inegável é que são infindáveis os casos em que, se tratando de donas no poder, o que mais vemos são ‘homens que não amavam as mulheres’.
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