tradução

Ossos de um ofício invisível

Se você já leu qualquer livro de literatura estrangeira, de Dan Brown a Dostoiévski, pergunto: o que achou da tradução feita?

É uma pergunta difícil de ser respondida, a não ser que se conheça a obra no idioma original. Mas, de qualquer forma, é quase improvável que você tenha pensado de fato na mão do tradutor naquele livro ali. Geralmente, pensamos: o livro é bom, é ruim, o autor é bom, é ruim, gostei, ou não gostei. Ponto final. Mas, e se o autor for bom e a tradução for ruim? E se o livro de que você gostou tanto era “mais ou menos” e o tradutor fez um trabalho legal?

Há algum tempo, li uma obra chamada “Memórias de Tradutora”, que me despertou a atenção para essa questão. A autora, Rosa Freire D’aguiar, dizia que o tradutor é como um vidro: se faz um trabalho bom, ninguém enxerga, ninguém comenta; se faz um trabalho ruim, é como se o vidro estivesse sujo, todo mundo sabe (ou, pelo menos, imagina) que houve algum problema. E a tradução é um trabalho árduo: é necessário, em tal ofício, muito mais do que dominar dois idiomas; é preciso conhecer muito bem o idioma para o qual se está vertendo a obra, pois não adianta nada saber o que significa tal expressão se não souber qual é a expressão que melhor corresponde no idioma para o qual se está traduzindo. E aí, queixa-se Rosa Freire: “Tanto trabalho, em troca de quê? Às vezes tenho a impressão de praticar uma atividade clandestina: o reconhecimento intelectual e social do tradutor, embora crescente, ainda é modesto; é raríssimo que alguém, já não digo elogie, mas comente o seu trabalho. Certos críticos e mesmo certos editores têm um desprezo olímpico pelos tradutores.”

Traduzir é um processo de recriação. Buscar saídas para aquelas palavras ou expressões que não têm tradução na nossa língua. É a procura incessante de alternativas. Como exemplo, cito o título da obra “The catcher in the rye”, que foi traduzido para o português como “O apanhador no campo de centeio”, de Salinger. O tradutor teve um trabalho imenso para chegar a esse título, ainda mais considerando as exigências do próprio autor.

Dificilmente o leitor pensa nesse assunto. Mas é interessante se informar sobre o nome de quem fez a tradução daquele livro estrangeiro que você tanto adorou. O tradutor agradece.

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