Um homem simples, trabalhador e apaixonado pela vida do filho. Assim familiares e amigos descrevem Leandro de Andrade, 48 anos, morto a tiros por um guarda municipal de Gravataí, na noite de quinta-feira (23), na RS-118. O servidor público, que estava de folga, alegou ter reagido por medo de uma emboscada — mas a Brigada Militar informou logo após a ocorrência que a vítima foi atingida pelas costas, dentro do carro em que seguia para o trabalho.
De acordo com informações de GZH, Leandro era pai amoroso e presente, fã de heavy metal e torcedor do Grêmio, que não perdia um jogo do time do coração. Trabalhava como operador de produção em uma empresa do Distrito Industrial do município, e já havia tido passagem pela GM.
A ex-esposa, Débora de Souza Costa, 44 anos, de quem estava separado há uma década, afirma que a relação entre eles continuava próxima — principalmente por causa do filho de 12 anos, que tem traços do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Ele pergunta “quando é que eu vou ver meu pai?”. Aí eu explico, explico de novo e de novo. Até pela situação ter sido violenta, é bem complicado. Ele vai começar a fazer o tratamento psicológico”, contou Débora à reportagem de Paulo Rocha, em GZH.
Débora descreve o ex-marido como um homem dedicado e carinhoso: “Era um pai presente como poucos pais são, uma pessoa inteligente e um pai amoroso. Nunca vi duas pessoas tão grudadas”.
Segundo familiares, Leandro estava a caminho do trabalho quando foi morto, a cerca de um quilômetro da casa da irmã. Conforme a ex-esposa, ele estava apressado, tentando não se atrasar para o turno da noite. O disparo fatal teria atingido a clavícula, por trás, e perfurado o coração.
Guarda alegou ter atirado por medo de atentado
Como já reportou o Seguinte:, o homicídio ocorreu por volta das 19h30min, nas proximidades do entroncamento da RS-118 com a Avenida Itacolomi, no bairro Barnabé. Uma guarnição da Brigada Militar, que passava pelo local, encontrou o Ford Fusion preto de Leandro parado na pista, com o motorista já morto.
A Polícia Civil investiga o caso como homicídio, e as primeiras informações indicam que o autor dos disparos estava em um Renault Sandero, veículo que será periciado. Segundo o secretário municipal de Segurança Pública, Emílio Teixeira, o guarda relatou ter atirado por acreditar que seria alvo de um atentado.
“As informações que recebemos são de que ele se assustou com a aproximação e a condução do outro veículo, acreditando estar sendo alvo de um atentado. Parou o carro e reagiu”, disse ao Seguinte: o secretário, horas após a ocorrência, enquanto a Polícia Civil ainda aguardava o guarda — que não permaneceu no local — se apresentar.
O guarda municipal estava de folga, mas portava arma da corporação, uma pistola calibre .380 sob cautela funcional regular, conforme confirmou a Prefeitura de Gravataí. Um processo administrativo disciplinar (PAD) foi instaurado.
A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Gravataí conduz as investigações, e o servidor — que se apresentou à Polícia Civil um dia após o crime — está preso preventivamente. A corporação instaurou processo interno, e o agente foi afastado do patrulhamento.
“Não era criminoso, era trabalhador”
Sem antecedentes criminais, Leandro era conhecido pela dedicação à família e ao trabalho.
“Era um trabalhador, um cara que sempre teve carteira assinada”, reforçou Débora a GZH.
O crime chocou a comunidade do bairro e gerou comoção entre colegas e amigos, que têm lotado as redes sociais com homenagens. “É inadmissível. Ele saiu de casa para trabalhar e não voltou. A família está destruída”, lamentou amiga.
O secretário de Segurança, Emílio Teixeira, afirmou que o histórico disciplinar do agente era “impecável”. “Lamentamos muito. É uma situação trágica para todos os envolvidos”, declarou, após o crime.
À espera por justiça, a família de Leandro tenta lidar com a dor. O menino de 12 anos ainda espera, em sua ingenuidade, rever o pai. Um pai que, segundo todos que o conheceram, “vivia pelo filho, pelo trabalho e pelo Grêmio”.
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