Se perde a simplicidade das soluções quando se governa não para atender as demandas da sociedade representada pelos poderes constituídos, mas aos interesses de grupos econômicos dominantes, que escravizam essa mesma sociedade. Em mais de um ano de pandemia, com quase 300 mil vidas perdidas, sentimos falta de uma visão clara, que direcione os esforços do poder público para a solução dos problemas resultantes do caos vivenciado por todos nós diante de um inimigo invisível. A classe política, que com raras exceções nunca conseguiu ou nunca quis ter esse foco, parece ainda mais perdida, ocupada em promover seus projetos ideológicos, de conquista e manutenção do poder. Envolta no oportunismo gerado pela Covid19, deixa de lado, mais uma vez, a oportunidade de recuperar sua credibilidade, desde sempre abalada por atos de corrupção recorrentes e por “fachadas” bem construídas a cada eleição. Em dose maior ou menor, esse oportunismo está presente e contamina as melhores iniciativas e ideais, à esquerda, à direita, ao centro e mesmo nas instituições que em geral deveriam ser insuspeitas, confiáveis e irrepreensíveis. De fora, o cidadão comum tem a impressão de que há um bando de aproveitadores, por ignorância ou dolo, ocupados não no combate à pandemia, mas em colher os melhores dividendos dessa crise, para se manter no poder, no controle, mesmo que isso signifique promover mais corrupção, impunidade e enriquecimento ilícito.
Assistimos quase de tudo nessa pandemia, desde o desvio de recursos para o combate ao vírus, desculpas para deixar nossas reservas florestais queimarem sem medida, gente em férias de luxo recebendo auxílio emergencial, até os “fura-filas” na hora de vacinar a população, além dos antes condenados que agora circulam livres, como se nada de mal tivessem feito. Enquanto os oportunistas se digladiam para ver quem fica com as honras do “combate à pandemia” e se preocupam apenas com seus umbigos, pagamos a conta dessa farra com as vidas de filhos, pais, mães, avós, amigos e amores, com profissionais de saúde colapsados pelo esforço insano e reconhecido mais da boca para fora do que através de ações de reconhecimento e valorização.
Sempre nos disseram que o sistema público de saúde brasileiro era um dos melhores do mundo, a despeito das filas diárias para consultas clínicas, das filas que demoram anos para uma consulta com especialista ou na espera por uma cirurgia que deveria ser urgente. Infelizmente, acabamos acreditando e nos acomodando mais uma vez. Em situações críticas como as atuais, que colocam esse sistema à prova, vemos que não há sequer pessoal suficiente para atender a demanda, nem respiradores, oxigênio, leitos clínicos e de UTI, equipamentos de proteção individual para a linha de frente, nem mesmo medicamentos para os pacientes entubados. No momento em que as empresas são obrigadas a fechar para não propagar o vírus e a demitir funcionários para não quebrarem, nenhum político perdeu o emprego, nem teve salário reduzido ou pago com atraso. É claro que algo está errado, porque não é para isso que pagamos nossos impostos. Ainda vão dizer que bilhões foram gastos em auxílio emergencial, uma esmola perto da dignidade e qualidade de vida que o poder público poderia promover, se quisesse apoiar de verdade a recuperação econômica do País.
A maior parte da sociedade esperneia para sobreviver, enquanto a vontade de desistir bate à porta todos os dias. É uma luta para manter o emprego e o salário, contra todos os desafios do anônimo “mercado”, ajudado por uma classe política que só lembra da gente na hora do voto. Ainda conseguimos ter safras recordes, mesmo que isso não diminua os preços dos alimentos. Seguimos usando máscaras, álcool em gel e mantendo o distanciamento social, mesmo vendo amigos e vizinhos fazerem o contrário e seguirem se aglomerando e propagando o vírus. Teimamos em mudar, estudar, nos adaptar e criar negócios, para seguir trabalhando em uma nova realidade, mesmo sem ter incentivos oficiais. Seria bom demais tê-los, já que as pequenas e microempresas brasileiras são responsáveis por 75% dos empregos, conforme dados do Sebrae do início de 2020. Seguimos compartilhando alimentos e oportunidades com quem tem menos que nós, mesmo que hoje estejamos ganhando menos da metade do que antes dessa pandemia. Por fim, um recado aos oportunistas: já sabemos que somos decisivos e aprendemos durante essa crise, a separar joio e trigo. Hoje, somos milhões de olhos e ouvidos atentos e reconhecemos quem são os oportunistas. Em 2022 podemos começar a riscá-los do mapa, sejam de direita, esquerda ou de centro, porque sabemos quem está focado no bem maior desta nação. Eu, como bom cristão, oro todos os dias pelos que colocamos no poder, para que os poderes do Céu possam detê-los de fazer o mal com a mordomia que lhes foi confiada, especialmente quando todos os poderes da terra parecem conspirar contra isso.
Grande abraço e até o próximo…