prisão ao ar livre

Para onde estão indo os presos de Gravataí

Custódia de presos em viaturas na frente do prédio das delegacias no Parque dos Anjos acabou na semana passada, depois de aproximadamente um ano e meio de caos

A cadeia ao ar livre na frente do prédio do Parque dos Anjos onde se concentram delegacias como a Regional de Polícia, de Pronto Atendimento, da Mulher e a de Homicídios está fechada aos novos presos. Pelo menos por enquanto.

É que desde a terça-feira da semana passada (31/10) os detentos que vinham sendo custodiados por policiais militares dos batalhões da Brigada Militar de Gravataí (17º BPM) e Cachoeirinha (26º BPM), além da Guarda Municipal de Gravataí, estão recolhidos às celas, nas cadeias.

Ou seja, o governo do estado cumpriu o que prometeu o secretário da Segurança Pública, Cezar  Schirmer, ao seu colega peemedebista e prefeito de Gravataí, Marco Alba, no corre-corre da segunda-feira posterior ao atentado da Morada do Vale II.

No ataque, madrugada de 22 de outubro, morreram duas pessoas e outras 33 ficaram feridas. Foi a gota d’água que faltava para um veemente pedido de socorro que pretendia ter, até mesmo, a Força de Segurança Nacional no patrulhamento de Gravataí.

Mas se o cadeião vexatório dos presos empilhados e algemados dentro de viaturas da BM e da Guarda Municipal acabou, para onde estão sendo levados agora os novos presos de Cachoeirinha e Gravataí?

— Para a cadeia, ora bolas! — pode responder o leitor, com razão.

 

Margens do Jacuí

 

É que outra promessa do secretário Schirmer, bem ao estilo do melhor oportunismo político, de ativar a Penitenciária Estadual de Canoas, a Pecan, construída quase na divisa daquele município com Cachoeirinha, vem surtindo efeito.

Quem cai nas garras dos policiais civis ou militares, tanto em Gravataí quanto em Cachoeirinha, está sendo levado para a Pecan depois que o estado designou agentes da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) garantindo pelo menos 200 novas vagas no sistema.

Uns poucos ainda são levados para o combalido e controverso Presídio Central, na Zona Leste de Porto Alegre, que pelos planos de governos passados já nem deveria existir mais. Pelo menos nas condições atuais.

E há, ainda, os que são levados para o município de Charqueadas, onde está um complexo prisional que tem a velha Penitenciária Estadual do Jacuí, a Modulada Estadual de Charqueada e a de Alta Segurança de Charqueadas.

Para as margens do Jacuí são levados principalmente aqueles que são recapturados perambulando e dando mole pelas ruas ou que são pegos em flagrante delito, mas que são foragidos do sistema, e condenados que ainda não haviam sido presos.

Ou, simplesmente, apenados de bom comportamento e autores dos chamados crimes de menor potencial ofensivo, que saíram para passar com a família uma data festiva e não retornaram para a cadeia.

 

Tráfico de drogas

 

De acordo com o titular da Regional de Gravataí, delegado Volnei Fagundes Marcelo, pelo menos três novos presos vão parar, por dia e em média, no xadrez do complexo de DPs do Parque dos Anjos. No local eles ficam pelo menos 24 horas antes de serem levados para o sistema carcerário.

A grande maioria, de acordo com o delegado Volnei, por flagrante de tráfico de drogas. Na segunda posição no ranking da criminalidade que leva à cadeia estão os roubos (crimes praticados a mão armada) e receptação (rpincipalmente de veículos roubados ou furtados).

O tenente-coronel Vanderlei Mayer Padilha, comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar de Gravataí concorda com o delegado regional quanto à principal motivação das prisões realizadas na região.

Mas, antes, coloca a recaptura de presos que fugiram de alguma cadeia ou a captura de presos procurados (condenados que ainda não haviam sido presos para cumprir suas penas). Depois, não vacila: é o tráfico de drogas.

 

Reforço importante

 

Sobre o alívio que representa a saída das viaturas lotados de presos da frente das delegacias, o regional Volnei Marcelo alimenta uma otimista expectativa, de que a situação não volte a se repetir.

— Particularmente eu espero que isso (o fim da cadeia ao ar livre) seja definitivo depois de uma situação que se estendeu por praticamente um ano e meio e que virou um caos depois de abril deste ano — disse.

Ele lembrou que a Penitenciária Estadual de Canoas foi projetada para receber em torno de 2,7 mil detentos e que, até agora, foi aberto espaço para 700 apenados, desafogando principalmente as delegacias da Região Metropolitana.

— É pouco tempo para avaliar se essa é uma situação definitiva, mas acredito na boa vontade do secretário de Segurança que prometeu que colocaria fim naquela situação, e cumpriu — afirmou o delegado.

Outro comentário feito pelo delegado Volnei refere-se ao reforço de seis agentes da Polícia Civil designados para auxiliar nas ações, principalmente na investigação dos crimes mais graves, na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, a DHPP.

O reflexo tem sido o aumento de inquéritos concluídos e aptos para serem remetidos à Justiça, e na solução de casos como o ataque de outubro onde acontecia uma “social” na Morada do Vale II.

— As investigações (deste atentado) estão bem adiantadas — limitou-se a dizer agora à tarde ao Seguinte:, alegando que o sigilo faz parte da estratégia para esclarecer o caso e realizar a prisão dos culpados.

 

Números mantidos

 

O comandante da Brigada Militar de Gravataí afirmou que o número de prisões se manteve na média, mesmo depois da chegada do reforço para o policiamento ostensivo em Gravataí e região.

A explicação do oficial é que a movimentação maior de viaturas e policiais tanto no centro quanto nas vilas e bairros de Gravataí inibe o que classificou como “prática delitiva”. No popular: a presença ostensiva da polícia meteu medo nos bandidos.

— Mesmo com o reforço que recebemos para o policiamento ostensivo o número de prisões se manteve, não houve aumento. O diferencial foi a redução da prática delitiva por causa do maior volume de policiais e viaturas — afirmou o comandante.

O tenente-coronel Padilha admite que o reforço na ação da Brigada Militar pode ter feito os criminosos migrarem, e disse que isso pode acontecer de duas maneiras: no tempo e no espaço.

No tempo, segundo ele, é quando o delinquente literalmente “dá um tempo” se afastando das ações criminosas para evitar a prisão. E no espaço é quando ele muda de região, ou de cidade, para continuar sua ação delituosa.

— O assaltante não se arrepende assim, de uma hora para outra, e nem vai deixar de ser assaltante. A mesma coisa é com o matador, aquele que está a serviço do tráfico de drogas. Ele não vai deixar de ser matador, mas pode mudar sua região de ação — explicou.

 

Metade da população

 

Sobre o fim da prisão ao ar livre, Padilha não foi tão otimista quanto o delegado regional, Volnei Marcelo.

— Não acredito que aconteça outra vez, pelo menos temporariamente, ou pelo menos não tão cedo. O problema é que os presídios têm capacidade limitada e esta capacidade pode se esgotar porque a criminalidade não para de crescer — entende o comandante.

Ele comentou que há cerca de cinco anos, um pouco mais talvez, as autoridades da segurança pública do Rio Grande do Sul não imaginavam que uma situação tão grave quanto a atual, do sistema penitenciário, pudesse acontecer.

 

— SE NÃO HOUVER INVESTIMENTO NA PREVENÇÃO VAI CHEGAR A UM PONTO EM QUE METADE DAS PESSOAS VAI ESTAR, OU DEVERIA ESTAR, NA CADEIA.

Tenente-coronel Vanderlei Padilha
Comandante do 17º BPM de Gravataí

 

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