Você sonha com minha cabeça igual uma
Cabeça de boi embalada em plástico e sangue
Rosto distorcido como num espelho vermelho
Uma língua púrpura pendendo e a face dura
De dente, de gelo, desnuda de pele, de pelo
Mascarada em tortura e flagelo
Os homens de bem sempre foram bons
Em acatar e atacar com monstruoso zelo
A voz de prisão injusta
Está baixa perante outros sons
Mas já se escuta:
É o sangue do novilho
O sacrifício do filho
Em constante
Permuta
E nessa luta
Que o povo pavio
Sozinho
No vazio
Labuta
Ainda no ninho
Toda tardinha morre um filhinho com peito de passarinho
O por vir periga ir-se antes que aconteça
Maldita temporada de cancro crença
De pane cerebral
De todo amor pra todo mal
Mas não se esqueça:
O humilde derrota a hidra
Sem precisar lhe cortar a cabeça.