É motor fundido essa idéia do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários Intermunicipais de Turismo e de Fretamento da Região Metropolitana (Sindimetropolitano) de paralisar de surpresa ônibus em Gravataí, Cachoeirinha, Canoas, Viamão, Alvorada, Guaíba, Eldorado do Sul e Camaquã.
Cerca de 100 mil usuários restaram – desinformados – nas paradas de ônibus na manhã desta segunda-feira.
Reputo é jogar contra o sindicalismo e o consagrado direito a greve.
Há outras formas de pressão no ‘patrão’ – e, talvez, a pior seja perder a simpatia do chefe maior, a população, já que o serviço é uma concessão pública.
Antes da análise, vamos às informações.
Os ônibus que atendem a região metropolitana já voltaram a circular a partir das 10h, após o caos do início da manhã.
– O pessoal saiu da frente das garagens – garantiu ao Correio do Povo o presidente do Sindimetropolitano, Alessandro Araújo.
A decisão foi tomada após confirmação de que foi antecipada de quinta para às 17h de hoje uma reunião de mediação no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, em Porto Alegre, sob condução do vice-presidente, desembargador Alexandre Corrêa da Cruz, para tratar da questão salarial.
Conforme os sindicalistas, o motivo da paralisação é o não cumprimento de acordo firmado há oito meses, entre concessionárias e sindicato, que previa pagamento de diferença salarial de R$ 1,2 mil para cerca de 4 mil rodoviários.
– Como veio a enchente, a gente foi negociando e ‘empurrando com a barriga’. Isso chegou a ser acertado três vezes e a última data era a de hoje, dia 16 – disse, também ao CP, o sindicalista Agenor da Luz, que alegou que, em reunião na última sexta-feira, o sindicato foi informado que as empresas não conseguiram pagar a diferença salarial e nem saberiam se poderiam quitar o 13º salário.
Analiso.
Entendo um erro uma paralisação sem aviso prévio. São trabalhadores, a grande maioria mais pobres, aqueles que ainda utilizam o transporte coletivo.
Conversei com motoristas de aplicativo que, com as paradas lotadas, operaram com tarifas três vezes mais altas durante as três horas de greve.
É improvável que a paralisação, com aviso aos usuários, teria provocado impacto diferente em relação a antecipar a reunião de mediação.
Mais produtivo seria o Sindimetropolitano sensibilizar a população informando que a categoria também tem tido a carne cortada na interminável crise do transporte coletivo, que começou com a uberização, contagiou-se com a pandemia e agora acabou afogada pela enchente.
Mais que a carne, cabeças cortadas, com a gradual extinção dos cobradores de ônibus.
Por que o Sindimetropolitano não comunica à população que as empresas tem recebido socorro em dinheiro público dos governos federal, estadual e também de prefeituras?
Se o dinheiro não chega, é outra parada do debate.
Mais de R$ 100 milhões já foram repassados a concessionárias para equilibrar os contratos e a operação do sistema no pós-pandemia.
No fim de novembro, a Assembleia Legislativa aprovou novo auxílio emergencial às concessionárias devido à calamidade pública das enchentes de 2024.
Não seria melhor, inclusive pensando no futuro, já que não se conhece itinerário para a crise no sistema chegar ao fim, o Sindimetropolitano buscar um debate com a sociedade sobre o modelo de transporte e os subsídios – até para justificar mais dinheiro público, caso necessário?
Ao fim, é preciso que os sindicalistas entendam o momento, que não é nada favorável.
Parece-me um erro estratégico, e mais um golpe no já difamado sindicalismo, fazer uma paralisação sem aviso.
A não ser que o Sindimetropolitano não esteja nem aí para o trabalhador que usa o transporte coletivo.